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Deus abençoe o Jaro

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 Não sei como dar título a esse texto. Acabei de ouvir novamente Swami Jr. e Tabajara Belo no episódio Aquidistantes 7, coloco o link aqui na postagem. Aliás, sugiro que clique no play se tiver interesse em ler o resto do texto. É a segunda vez que vejouço essa gravação. Na verdade, a terceira, porque é a segunda vez agora que vejouço enquanto escrevo. Quarta.  A primeira vez que ouvi não estava preparado para ela. Não me bateu como hoje. Curiosamente, isso me lembra do meu trabalho de doutoramento na Universidade do Porto, onde tento sofridamente ainda querer provar que a comunicação está mesmo no receptor, e que todo mundo estava errado quando propôs os modelos de comunicação que aprendi na faculdade, ainda na década de 90. Coisa de menino que não aceita que o sonho acabou, que foi todo mundo pra casa e ele está só, chorando sozinho à noite sentado no meio fio. Meu fio meio é filha. Filho-me quando digo todos os dias para minha mãe que a amo. Filho-me quando converso com meu pai, da

Rascunho

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 Já faz algum tempo que tenho tentado escrever, mas não passo de rascunhos. Hoje, resolvi colocar algumas coisas aqui para que sirvam como prova.  Gostaria de ter escrito prova com seu sentido gostoso, mas escrevi desgostoso.  Há muitos dias não falo com minha filha mais velha, Beatriz. Ela me bloqueou no whatsapp - sabe, né, quando nem conseguimos ver a foto da pessoa, e nossas mensagens não são entregues... É assim. Cerca de 20 dias atrás conversei com ela, expliquei que era difícil essa situação, mas ela continua a ver o mundo com os olhos da sua mãe. Nenhuma das duas me dá notícia. Essa é a guarda "compartilhada" de que fala a Justiça dos homens. Não vou ficar enchendo essa página com minhas lamúrias e muito menos com as provas que tenho (e tenho uma infinidade delas, todas datadas, catalogadas, devidamente, para na hora de mostrar para quem é de direito), vou apenas fazer um rascunho.  No documentário A Morte Inventada que você pode assistir no YOUTUBE  (o trailer eu col

Canteiro

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Cromossomos metade, descubro-te cada dia inteira, em tua porção nova e desconhecida. Reveladora.  Brava e triste. Alegre e risonha. Ousada e solerte.  És o agora, em tua beleza fractal disruptiva. Perene em tua mudança, és a própria transformação. Derramas a porção de linguagem que em ti sobra, mesmente tu tua mãe, até calada. Caras e bocas, interjeições do existir: Maria escorre si mesmo enquanto o entusiasmo toma forma. Rompe.  Até quando a terei em meus braços? Hoje.  Até quando serei um teu colo? Agora.  O tempo do sempre ri de mim, frágil que sou, ignorante em julgamentos meus, primitivos. Presto à atenção.  Medito Maria, Beatriz que não é. Filhices. Maria canta para a Lua. “Sua linda”, define-a. Maria entra no jogo, adulta. És sabão na água da banheira, coentro na comida de quem gosta, rajada no pano da nossa nau: a cantiga em teu nome combina com a vastidão de teu primeiro e óbvio significante. Talvez mesmo a ária de uma sereia. Maria ama mergulhar. Meu exercício de pai é olhar

Amor em fluxo

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O rosto de quem já caminhou bastante, mas não o bastante e a expressão de quem ainda tem muito a caminhar, sendo, ela mesma, o Caminho a seguir.  Essa foto foi tirada quando minha segunda filha, Maria, tinha apenas 11 dias de vida depois de seu nascimento, no dia 31 de dezembro de 2019. Eu havia feito a peregrinação em doação no Japão por mais de uma centena de pessoas, mais de uma centena de pedidos e tinha voltado, mudado, transformado, mexido. Minha filha me falava de novos medos. De outra paternidade, de um caminho mútuo, de desafios e esperanças. De certezas, confirmações, entrega. Ela chegou sem surpresas, surpreendentemente ela, Maria, a mudar o mundo meu, da mãe, da irmã, de tanta gente. Demorei 47 anos para me preparar para sua chegada e finalmente estava pronto para caminhar com ela, com todos os meus tantos defeitos e dúvidas. Hoje, debaixo ou do alto dos meus 49 anos completos há alguns dias, olho para a paternidade como olho para meu quimono.  Comecei a fazer Karatê quando

Pedras que falam

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foto de Alquiminera: exposição de @leosantanaescultor, de 1994. Somente depois que a lama começou a secar dentro de mim, tateei o solo frágil por onde caminhar e avaliar os destroços que ficaram expostos e ocultos. Ai de mim, mineiro por natureza. Daqui do Porto parto em cacos, restos, formas disformes e questionamentos sujos, turvados por pensamentos dúbios de compaixão e raiva, angústia e dor, hematita a ser arrancada do peito. A pedra do caminho de Drummond era de minério de ferro. Pobres de nós que não sabemos ouvir o saber dos artistas. Em 1994, o escultor Leo Santana já nos contava em sua exposição nos córregos de Macacos - São Sebastião das Águas Claras o que estava por vir. Mas a arte é só um saber menor: o que importa é a razão, os cálculos dos engenheiros, a precisão dos economistas, a ciência dos matemáticos, a proporção dos investidores. O escultor que magicamente sentou Drummond no banco de Copacabana não pode ser mais preciso que a aritmética do Homem q

Freddied

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SimplesmenteeunãoseicomofazerparadizeroquesentivendoofilmeBohemianRaphsody. Foialgumacoisamágicodescritivadeumsonhoqueficounomeiodocaminho. Pensoemcomodizerissodeformamaisbrandaoudeformamaissimplesoumaisexplicativamassimplesmentenãomevemoarparaqueeurespireepossaparardereviveraperdadeumídolodeamigosdesonhosdepoesiaenfim. Émuitodifícilassociaradificuldadederelacionamentocomopaiaquestãofamiliaromedodomundoomedodaperdaosamigosquesevãoasfacadasnascostasaspuxadasdetapeteosonhodeummundoquesimplesmentenãoexisteasexpectativastodassobreoamorasdorestudoissotudojuntovindonumaondaderockandrollmisturadocomopassadoquesefoieotempodosemprepresenteemnossaancestralidadeatemporal. Eutenhocertezaquenãoestoumefazendoentendermascomoestousemarficadifícildizeroquequeriadeummodomaisordenadoousimplesouracional. Avidaasvezesatropelaagentemaisdoqueaspalavras.Asquesaemeasquenãosaem. Parecequenessefilmeoqueficaengasgadovememformadeemoçãolevandoagenteparaabeiradadoprecipícioquenoslembraque"àsvezeseudesejava

Parta, Parto, Porta, Porto

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Eu porto. Saudade. Levo comigo. Parto sem dor. A casa do peregrino está fundada em suas botas. Alpendre. Sopro distante, brisa do mar. As ondas do outro lado do oceano tem novo canto quando fazem carinho na praia. Os seixos rolados repercutem percussivos quando rolam em meus olvidos. Baixa, Freixo, Chiado. Arrulham, Alhures. As gaivotas latem descansando nos telhados. Miam quando partem em voo. Os azulejos aluzejam meu espírito. Há eiras e beiras. Há ferros retorcidos nas sacadas. Amadeiro-me. A passagem de volta é olhar para dentro. A passagem de ida é sentir o vento. Eu voo. O sorriso distante é dentro, a risada menina é dentro, a raiz que cresce é dentro. O balanço é gostoso quando a gente amarra no galho firme e distante do chão, na copa que faz sombra mesmo em dia nublado.