Rascunho

 Já faz algum tempo que tenho tentado escrever, mas não passo de rascunhos. Hoje, resolvi colocar algumas coisas aqui para que sirvam como prova. 

Gostaria de ter escrito prova com seu sentido gostoso, mas escrevi desgostoso. 

Há muitos dias não falo com minha filha mais velha, Beatriz. Ela me bloqueou no whatsapp - sabe, né, quando nem conseguimos ver a foto da pessoa, e nossas mensagens não são entregues... É assim. Cerca de 20 dias atrás conversei com ela, expliquei que era difícil essa situação, mas ela continua a ver o mundo com os olhos da sua mãe. Nenhuma das duas me dá notícia. Essa é a guarda "compartilhada" de que fala a Justiça dos homens. Não vou ficar enchendo essa página com minhas lamúrias e muito menos com as provas que tenho (e tenho uma infinidade delas, todas datadas, catalogadas, devidamente, para na hora de mostrar para quem é de direito), vou apenas fazer um rascunho. 

No documentário A Morte Inventada que você pode assistir no YOUTUBE 


(o trailer eu coloco aqui para quem tiver coragem), você consegue ter uma boa noção do que acontece com as famílias que são reféns de uma cabecinha de vagem. Sim, preciso manter o humor em dia, afinal, somente lidando com uma cabecinha de vagem, que impede que a própria filha tenha uma experiência amorosa e saudável, cultural, gastronômica, rica, plural, segura, afetuosa, delicada, terna, percebe-se a importância de ver um bago verde de vagem onde deveria haver massa cinzenta composta de ligações neuronais - para se pedir o mínimo. Enfim, cansei. Cansei como boa parte dos pais do documentário que se encontram com a mão dilacerada de tanto dar murro em ponta de faca. Não é que eu tenha dado murro em ponta de faca, ou que eu esteja dilacerado. O que estou, mesmo, é com pena. Tenho compaixão pelo desamor do outro. E durante 12 anos me coloquei à disposição. 

Não, não me entenda mal. Não desisti da minha filha. Isso não passa pela minha cabeça. O que vou fazer, pelos próximos tempos, sejam dias, meses, anos, décadas, enfim, não importa, é fazer o que me mandou Jesus Cristo: dar a outra face. E "dar a outra face" significa, simplesmente "mostrar o que não foi revelado". Não é dar o outro lado para quem parece ter cérebro de pitaia bater, nada disso. É mostrar que daqui pra frente, vai ser de um jeito diferente do que eu acredito. 

Tem pouca gente nesse mundo que sabe o que é caminhar mais de 2.500km a pé. Qual a força de vontade que se desenvolve por alguém que já passou por isso. 

O resumo do rascunho é o seguinte: oferecemos, eu e minha família, nos meus 50 anos a possibilidade de irmos para a Disney Paris, e agradecer na Sagrada Família em Barcelona meu cinquentenário com minha família, eu, minhas duas filhas, minha companheira de vida. Mas, aparentemente, minha filha, nas palavras dela, "não se sente confortável" em viajar conosco nas férias de julho. Palavras dela mesmo, por favor, ninguém pense mal de quem aparenta ter cérebro de taruíra: quem seria capaz de induzir uma criança de 12 anos - pré-adolescente - a usar termos não condizentes com sua linguagem coloquial? Só porque minha filha tem 12 anos e, mesmo com a "garantia" da Guarda Compartilhada, ela nunca viajou comigo sem a mãe? Ninguém seja maldoso, por favor. Só porque nos 12 anos ela dormiu apenas 2 vezes na casa dos meus pais? Só porque nos 12 anos ela passou apenas um natal (mesmo assim dividido) comigo? Porque só passa meus aniversários comigo se eu vou passar aonde ela está? Não, vou parar por aqui porque a lista é grande e vão achar que eu estou de palhaçada. 

Aos 5 anos de idade, quando eu a peguei de carro sozinho pela primeira vez, ela disse: papai, não conte para o vovô (se referia ao avó materno) que a gente está se divertindo, tá? Eu fiquei chocado com a brutalidade do que eu havia ouvido, tanto que disse que eu não tinha entendido e comecei a gravar a conversa. Eu tenho a gravação comigo. Não consigo imaginar a perversão daquele que impõe a uma criancinha indefesa uma reflexão dessa baseada nas suas ações diárias. Mas é assim. O mal é somente o outro lado da mesma moeda do bem. Eu já disse em um Haikai: quem planta escolhe. E o mais bonito da vida é que colhemos em vida. Assim, o cotonete não perde por esperar. Quando ele entrar no buraco da orelha, nunca mais vai se ver limpo. 

Seja homem, pelo menos uma vez na vida. Veja o documentário A Morte Inventada. Seja mulher corajosa pelo menos uma vez na vida, não peça para o papai e a mamãe resolverem suas decepções amorosas novamente, e novamente, e novamente, você sabe quantos anos tem: tenha brio e assista ao documentário A Morte Inventada. Daí, quando tratar seu tio bem novamente, ou quando se lembrar que seus pais puderam se separar para tentar buscar a felicidade, ou quando se lembrar do que fez sua irmã, possa perceber que a hipocrisia não faz brotar flores, frutos, dádivas. Esse documentário deveria ser visto por todos que tem filhos, que são filhos, que querem ser pais, ou por aqueles que respiram. 

Há malas que vão para Belém. Outras estão fadadas a ficarem na esteira do aeroporto a vida inteira. Eu, peregrino, viajo com mochila e caminho a pé. Quando minha filha finalmente estiver disposta a voltar, estarei esperando. Seja amanhã, seja daqui 10 anos, seja no meu leito de morte. Quem quer apostar comigo?






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