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Mostrando postagens com o rótulo #coragem

São Tomé

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Sonhei que comprei uma casa nova no caminho, ao lado de um Córrego. Quando chovia na cabeceira, o Córrego entrava e inundava todo o primeiro andar. Tudo o que guardei em minha lembrança ficava então debaixo d'água. E eu podia ser feliz novamente. Tentei tirar caixas de violino da água, botá-las pra secar. Violões, um piano, a barra de uma túnica muito minha, sagrada e branca, que estava em um cabide. Mas a água cristalina vinha e banhava o chão da sala da minha casa deixando tudo cristalino e limpo e lindo e líquido. Pedra. São Tomé. E, de repente, você voltou. E pude finalmente lhe mostrar o primeiro andar submerso onde eu entulhava as coisas todas. Terceira margem. Eu quis desviar o curso do córrego, você não deixou, e Ele, água, começou a banhar nossas vidas. Foi a partir desse dia que começamos a viver sempre descalços, só no segundo andar, com a água fresquinha envolvendo os pés que já caminharam tanto.

Vale tudo

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Estou destituído. Estou detonado. Estou possuído, arrasado, subvertido, arruinado, falido, afundado. Enlameado. Não quero mais o mármore branco com veios champagne, não quero mais a cozinha gourmet associada a la joie de vivre, o vinho caro e o untuoso opulento foie gras. Nem tinto vinho. Vem. Preciso me lavar primeiro. Estou sujo de barro. Como vou poder entrar em casa e limpar meus pés no tapete persa? Como vou me deitar na cama de roupa de cama de linho egípcio 3.000 fios comprada na Trusseau? Como vou abrir os armários para pegar as vasilhas Le Creuset para fazer o almoço? Eu pingo lama. Nas minhas veias correm um barro sujo imundo, de minério, sangue ferroso que um dia me orgulhou. São minas, mas não são gerais. É pra poucos. É para o governante que não se compadece, e tem dozinha de empresa que nem imaginava que isso podia acontecer... É para o que não teve seu filho desaparecido, não teve seu pai afundado, atolado, esmagado, espremido, afogado, sem

Ponto

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cursor pula na tela que palavra escrever? nenhuma cabe todas escorrem no papel eletrônico cabe nenhuma nada vazio inunda a gente como no conto de luz do Garcia Marquez não invento a roda vou barulhinho de aro tec tec tec tec limpa o líxico barulhinho polifônico trago em meu silêncio límbico lâmbido os méis soníferos doces viagens despertam sonhos cá estou cavou não tem pressa de voltar Deu-se estrada infinita fé se frases crensentença têxticamente Folha Branca envolve tudos

Hosana

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Moro no arqueio das sobrancelhas de Beatriz. Vivo sua explicação da vida, sinto sua admiração compreensão duvidosa da existência, seivas suas simples verdades: “sou diferente, papai”. É sim, filha. Come mesmo a salsicha do cachorro quente antes. Deixa o pão pra comer depois. A gente bobo é que faz tudo junto, bobamente esperdiçamos o Tesouro de Kairóz comendo tudo junto, barulho que acorda Chronos, matalmente. Isso, sim, é desperdício do ócio do amor, é querer que a planta cresça logo, sem respeitar o Vento, a Chuva, o Sol. A natureza das coisas franze a testa de Beatriz. Eu, riacho de mim. Enquanto a chuva chove águas líquidas e molhadas na superfície aculturada de Recife, olho. Molho. Observo. Escorro me todo em poças pra Beatriz pular de alegria, espalhando águas e afetos, botas de borracha, gritinhos entusiasmados de aventureira menina. Me nina na rede. Me em todos os cantos, canta, cantilena sutil. É ave, é Maria, passarinha. Hosana, filha. Sou tão pequeno, sou só um acorde na m

Ontem e hoje, nossos caminhos.

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Ontem fui ao coquetel de lançamento da exposição de fotografias do meu irmão mais velho, Daniel Mansur, com a curadoria especialíssima da bela Marcela Bartolomeo.  Ontem, eu entrava em seu estúdio pela primeira vez, época de faculdade, e redescobria o olhar. Tive muitos mestres em minha vida. Daniel Mansur foi um dos primeiros e mais marcantes. Sábio como poucos, me mostrou a importância da observação. A pesquisa escondida no olhar. A pergunta que se esconde no ver e a resposta que se revela no enxergar. WuWei. Revelei sentidos, muitos, em seus ensinamentos de vida e de trabalho, de ética e de dedicação, de crença na imagem: na que está dentro e fora da câmera. Na nossa, na do outro, na que produzimos com o mundo que se desvela à nossa volta. Meu primeiro "chefe". Meu primeiro tutor. Quem primeiro me falou sobre estética e a filosofia do Belo. Suas lições fundamentais sobre equilíbrio. Meu ponto de fuga nunca mais foi o mesmo. Ontem, quando recebi o

Passador

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Entro no quarto de Beatriz e lá está ele. Ao lado do porquinho de moedas que junto pra ela todos os dias. Um passador, esquecido em sua passagem por aqui. Ele me fala que ela esteve aqui. Ele me fala de seus lindos cabelos desgrenhados de criança. Ele me fala de seus cabelos cuidadosamente arrumados para ir ao ballet. Ele me fala de seu sorriso. Ele me fala de seus gritinhos infantis e de suas sobrancelhas arqueadas ao me perguntar inocências. Ele me fala do Tempo, da pergunta quando ela estará aqui, da resposta da Saudade e do abraço vazio que dou em seu quarto, toda vez que entro nele. Deixado displicentemente no que pode ser considerado uma cômoda, o passador de minha filha. O passador de minha filha. A diarista já quis guardá-lo, um cem número de vezes. Ela guarda, eu volto com ele para o lugar do esquecimento. Eu volto com ele para o lugar da lembrança. Eu volto com ele para o lugar do como se fosse ontem. Ele me lembra que ela esteve aqui. E o jeito como foi deix

Foice

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Acordou triste. Tinha perdido o entusiasmo. Estava cheio de tudo. Precisava calar, precisava ouvir o silêncio, precisava descoisificar-se. A cheiísse de tudo não guardava espaço pra Deus entrar. Precisou cavar. Foi necessário jogar tudo fora, todos fora, conceitos fora, ideias fora, problemas e soluções fora, soluços fora, mágoas fora, sorrisos fora. Foram dias. Meses. Anos. Nós. Fomos, foram-se. Foi-se. Foice. Decepou tudo. Varreu. Passou pano. Deixou secar. Abriu a janela da alma. Abriu a porta do coração. E um dia, depois de muito tempo Nada, descoisificou-se finalverdadeiramente. E pode ouvir seu sangue, sentir-se pele, respirar o vazio do ar, descobrir-se inspiração e expiração. Coraçificou-são. Hoje, ouve passarinhos e escuta crianças. Na foto, Bê Sant'Anna no Caminho de Santiago em 2009

dó-ré-mi-fada

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Dorme fada, sonha fado. Traduz, mágica varinha: fé e exaltação. Encanta em seu cantinho, entoa em seu mundinho o drama inevitável. – Perdão. É sabida do amor. Saborosa, flor. Fomos pegos!, somos cegos... Seu gosto perfume inebria e envolve. Brincante, dormita e desperta. Fadices. Olho com olhos melados de paterna idade. É o amor que escorre em minhas bochechas. É o amor que escolhe as minhas queixas. Quentumes. Vejo os vaga-lumes que chegam com a nossa noite. Revoam em volta da fada. Povoam minha morada, acendem meu lugar no mundo. Sou fundo. E de lá de dentro, grito seu nome, do escuro de mim. Ecoam sentimentos, súplicas. Bailam em espiral com os vaga-lumes encantados. Você: sonho. Você: banho. Você, sempre, eu no colo da eternidade.

No Lago Negro sonhando com minha neta

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Com pai, chão. É o que sinto. É o que sei. Ninguém que lê sabe mesmo por onde andei. Senti Caminhos. Sobrevivi. Mesmamente. O onde virou quando, o ontem se eternizou. Nas águas do Lago Negro, profundezas. Sento-me à sua margem. Olho de soslaio a foto que me deságua. É bica. É pranto. As marolas do desejo vem cá fazer margem. A grama não molha. O céu que emoldura a foto está impresso na superfície das águas. Às vezes, vemos. Às vezes, não vemos. É o Vento que fustiga a compreensão da gente. Mas está lá, escondido no movimento silente das parábolas líquidas. Áquo-me enquanto percebo a presença gárcica do meu pai. Ele espera imóvel a chegada de sua neta, enquanto observa o céu das águas. Calmo. Calma alma ama. E respira. Nada. E o Vento não tarda a nos surpreender.

Quem quer mudar o nome da Branca de Neve levanta a mão.

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Acho que a gremista Patrícia Moreira merece perdão. Acho que seu erro deve ser punido. Há muito é necessário perdoar. É preciso que aprendamos o perdão, de forma definitiva e absoluta. Todos nós merecemos perdão. "Quem nunca pecou, que jogue a primeira pedra" - disse o primeiro filósofo a ir às últimas consequências com esta ideia revolucionária. A verdade é que pecamos, todos. E nem sempre por mal. Ninguém aqui está fazendo apologia ao erro. Ninguém aqui está fazendo apologia ao preconceito, ninguém aqui está fazendo apologia ao esquecimento. Não: perdoar é muito diferente de esquecer. Coisas distintas. Perdoa-se. O que não quer dizer que se esquece. Não necessariamente. Já perdoei. Muito esqueci. Mas não tudo. Lembrar o erro, tanto o seu quanto o dos outros, é importante para que ele não se repita. O presidente do Grêmio está certo: se esse episódio servir pra abolir definitivamente esse tipo de atitude nos estádios, o Grêmio terá cumprido um papel histór

Sapatinho de Cristal

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Olha. Vê. Atenta aos sinais do Tempo, que nos sussurra segredos. Somos-nos nossos, nossamente únicos.  Amarantados, amorecemos. Existe um tipo de ilha que tem mar de amor em volta: chama filha. E queima. Para ela navego perdido, querendo me desencontrar. Sou nau a deriva, nesse há mar vasto e casto. Remo com as mãos, remo com os pés, remo com os dedilhos nos teclados do mundo, em busca da música perfeita. Remo cabelos da menina, encaracolados, enborboletados, Borboleta do Mar. Há espumas que nem sei. De tanto chorar pra dentro, emareei-me. Há mar fora, há mar dentro. Hoje, calmaria, aguardo o meu amigo Vento. Disse-me outros segredos, amigo do Tempo que é:  Três amigos de mãos dadas. O Tempo, o Vento, a Mar. Porque em francês, Mar é palavra feminina, de tanta gestação: peixes, filhos, alimentos, juras, poemas.  Talvez o Vento tenha esposado a Mar. Deles, nasceu o Tempo, que brinca amigo da minha filha, cuidando dela, meu tesouro, pra um dia me entr

Para Clóvis de Barros Filho, Mário Sérgio Cortella e Jimi Hendrix

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Ontem tive o prazer de ir a mais um evento do Sempre um Papo . Há uma citação logo que abrimos o novo livro de Clóvis de Barros Filho e Mário Sérgio Cortella :  "De tanto ver triunfar as nulidades,  de tanto ver prosperar a desonra,  de tanto ver crescer a injustiça,  de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus,  o homem chega a desanimar da virtude,  a rir-se da honra,  a ter vergonha de ser honesto."   Rui Barbosa Estive por 10 meses sem ver telejornais. Essa semana, vi um deles. E, sem surpresa, constatei que nada muda. A cultura da violência tomou conta por completo do dispositivo, a favor da lógica capitalista. Quando, no jornal radiofônico da CBN nos deparamos com um "quadro auditivo" com o nome de BOA NOTÍCIA CBN, ou algo semelhante, é hora de parar pra pensar. Talvez, mais do que "para onde estamos indo?", a pergunta fundamental seja "que caminho escolhemos seguir?". Porque é m

Haikai da espera

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todo abraço é vazio da minha filha

Ressignificação

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Hoje, levo um pouco da História do Caminho do Pai,  o Caminho do Amor,  convidado pelo Tio Flávio pra falar sobre ressignificação.  Vamos? Ânimo! Eu caminho.

A corda e a cruz

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Ontem foi dia 22 de abril. Dia em que se comemora o Descobrimento do Brasil pelos portugueses. Na Assembléia Legislativa de Minas Gerais inaugurou-se uma estátua de Tiradentes. Na verdade, o dia de Tiradentes foi antes de ontem, um dia antes, o feriado de 21 de abril. Dia de sua execução. Os portugueses executaram Tiradentes. Talvez a escolha do dia da execução de Tiradentes seja representativa pelo fato dele sim, ter conseguido sua liberdade ao deixar esse mundo. Também sou um inconfidente. Não devo fidelidade ao que impera. O que impera é um mundo doente e sem justiça. A mãe da minha filha, que é descendente de português, faz aniversário no dia da execução de Tiradentes. Este ano, o dia de Tiradentes caiu junto com o domingo de páscoa. O domingo de páscoa foi antes de antes de ontem, dia 20 de abril. Na páscoa - palavra derivada de uma palavra hebraica que nos remete a "passagem" - comemora-se a ressurreição de Jesus Cristo. A passagem dele par

À margem da vida

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É fácil reclamar da vida. É fácil colocar a reclamação como moeda de troca. Um dia, disse ao meu psiquiatra e analista que a imagem que eu tinha era a minha, em pleno inverno rigoroso, no meio de um lago de gelo que não conhecia. Me faltava um corrimão. Demorei 35 anos para compreender que é possível patinar e sentir a brisa: o carinho que o Vento faz na gente quando é decidido ir ao Seu encontro, quando é decisivo ir ao seu encontro.  Aprendi que quanto mais duro o gelo, mais deslizam os patins. Quanto mais duro o gelo, mais reflexo ele dá. Mais posso me ver. Quando patino, sei que estou em queda livre, como os aviões em parábolas perfeitas. Eternamente controlando a queda, pesados que são, até seu pouso majestoso e improvável. Para pousar, foi primeiro preciso acreditar. Ouso patinar.  Reclamar é jogar a culpa pra plateia, na espera de que o julgamento não venha, inseguros que somos. Acontece que a limitação está em quem é julgado na mesma medida de quem jul

O Desatino de Deus

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Quando nascemos, Deus nos coloca no mundo com um destino: descobrir as três músicas que vão fazer parte de nossa vida, que vão contar em versos ou em melodia a nossa história, que irão fazer carnaval com nosso arquétipo, que virão definir nosso Caminho. Três apenas. Quando nascemos, Deus nos coloca no mundo com um destino: descobrir as três pessoas que vão fazer parte de nossa vida, que vão contar em versos e transformar a nossa história, que irão fazer carnaval em nosso arquétipo, redefinindo Caminhos, colocando-nos à prova ou nos salvando, simplesmente, da total perdição. Quando nascemos, Deus nos coloca no mundo com um destino: descobrir os três livros que vão ser parte em nossa vida, que traduzem em segredo os versos da nossa história, que são alegoria em prosa e verso do arquétipo que somos, pergaminho do nosso Caminho, testamento, epitáfio. São três as músicas do meu destino. Três as pessoas do meu Caminho. Três os livros que me revelam em palavras. Agora falta pouco.

CHUVA

CLIQUE AQUI  A Chuva está aí. O que não está, mas pode voltar,  é a sua capacidade de se maravilhar com ela toda vez que ela vier.

A força do bem

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Neste sábado, a força do bem se multiplica. Você vai, come uma feijoada deliciosa do Nutreal, toma cerva gelada à vontade, caipis sensacionais, vê gente bacana - eu ia dizer bonita, mas só posso garantir 5 que conheço - , encontra gente do bem, curte uns shows na medida do sabadão e ainda sai com a certeza que ajudou uma criançada que precisa. Bom, né? Se todo sábado, tudo que a gente gastasse ainda se revertesse em boa ação a vida seria ainda melhor. Vale conhecer o trabalho gentil, cuidadoso e amoroso da turma da Força do Bem. O nome já diz tudo. Procura lá no Facebook e vamos encontrar a galera lá na Feijuca. Faz bem pro coração. Pro seu e pro de muitas crianças. ;)

Gente em volta

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   foto: abril de 2010 O momento da solidão. Quem disse que é preciso de gente à sua volta o tempo todo? – instiga em tom de desafio. Em mundo pautado por Facebook, solidão tem outra dimensão, cara amiga. Eis o que penso. Cabe um exercício... Me faz lembrar que há tempos, uma outra amiga, à época com seus 45 anos, filhos de 23 e 21 anos, teve o susto de ser surpreendida com um “pedido” de separação. O ano havia sido difícil e resultou num natal e reveillon inesperado: uma viagem sozinha para Londres. – Vai ser bom pra eu colocar os pensamentos no lugar, colocar meus valores na balança, repensar minha vida, sabe? Foi ótimo eu ter decidido viajar. Dizia ela. Claro, a conhecendo bem como eu conhecia, estava esperando que completasse o que ainda faltava dizer, mesmo que o discurso estivesse coerente... Na verdade, estava em pânico. Se esta era a fala que tinha treinado pra tranquilizar os amigos próximos, os muito próximos sabiam que ela estava aterrorizada com a ideia de fi