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Mostrando postagens com o rótulo #justiça

O Templo do Outro

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Vou montar uma igreja. Seu nome vai ser Templo do Outro. Primeiro vou comprar um lote, construir um anfiteatro de cimento, octogonal, com oito níveis de degraus, com oito pilares em cada um dos seus vértices, coberto de piaçava. Este lote não vai ter muros. Este anfiteatro não vai ter paredes. Entra-se por qualquer um dos oito lados, sai-se da mesma forma, por qualquer um deles. No centro, no nível mais baixo, um altar. Que não terá esse nome porque, conforme a etimologia da palavra, não vai ficar no lugar mais alto. Vai ser no mais baixo, símbolo da humildade humana. Podemos chamá-lo, portanto, de Coração. Na entrada (ou saída) norte, vamos escrever e inscrever, ainda com o cimento molhado, a letra Z significando Zehut, Retidão. Nosso norte vai ser a Retidão. No oeste, onde o sol se põe, colocaremos a letra M, significando Mehilá, o Perdão. Em seu lado oposto, no leste, onde o sol levanta, colocaremos a letra B, significando Beraca, ou seja, Bênção. E ao sul, colocaremos a letra H,

Para Fernando, Nestor, Manoel e Beatriz.

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Em setembro de 1990, depois de nove meses de intensa preparação, 20 músicos, atores, dançarinos, bailarinos, cantores, instrumentistas subiam no palco do Teatro do SESI para a estreia do musical Manoel, o audaz. Com direção geral de Nestor Sant’Anna - meu pai, que hoje completa 71 anos - e roteiro de um de seus parceiros de sonhos e ideais, Fernando Brant. Dois grandes pensadores e agitadores culturais, Nestor Sant’Anna e Fernando Brant passaram a vida sendo vozes de um mundo que eu ainda não conheci. Um mundo onde a cidadania, a honra, a verdade, a justiça são Valores inabaláveis. A fala dos dois, que vem desse mundo sonhado por eles e por tantos parceiros que comeram juntos a poeira da estrada por onde passou o jipe Manoel, ecoa em meu coração até hoje, e é o discurso que, quero crer, minha filha de 4 anos vai ouvir de mim e vai pronunciar de seu jeito aonde o povo está. Fernando embarcou em definitivo no Manoel, o audaz. Todos nós embarcaremos. Em meus sonhos mais íntimos

Degelo

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" Na vida e no amor, o pior inferno para uma pessoa é estar separado de quem se ama. " - disse o pensador... Penso, me dito. Será que tem ele razão? Foi assim que se deu. Como se entendeu separada de seu amor, resolveu separar o amor dele para sempre. Infantil satânica escolha, que vive do eco da voz de Deus, o verdadeiro amor não se separa... Sinto muito. Nem o dela, nem o dele, nem Nada. Pois nem o pobre do tudo é capaz de separar o amor verdadeiro. Ah, se abençoada fosse a fossa. Amor, imenso, líquido amálgama. O único capaz de superar, suplantar, redimir, perdoar. O anjo da vida, nota da harmonia, terra arada, semente escondida, desejo em presença, encontro, cântico, o amor é sem corrente, sem definição, infinita noção, sem deixar de ser infinito, o amor é dito, cujo, ornado, glorificado. É o Nada potente, por deinfinição... O amor ri de sacudir da distância do amado. Pois amor! Quando interno inferno, inverno de gelo. Sou guardião da primavera.

Dia da Verdade, mas pode ser chamado de "dia do juízo".

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Filha, hoje é dia 01 de abril, dia da mentira. Mas já é noite. Cedo, fui na minha segunda aula de piano. Há 1 mês, estive conversando com Maria Rita, professora da Fundação de Educação Artística, que me aceitou de volta como aluno. A última anotação que consta nas costas de um dos meus livros de partitura é de 28 de novembro de 1986. Seu pai era um menino. Eu disse a ela: – Maria Rita, preciso de sua ajuda. Meu objetivo é muito claro. Minha filha está com 3 anos. Nos seus quinze anos tenho que fazer um concerto pra ela. Com quinze músicas. Portanto, temos 12 anos pra que eu aprenda 15 músicas pra tocar pra ela nos seus 15 anos. E eu sei quais são elas. Ou melhor, quase todas. Falta uma. Essa é minha, e eu ainda não compus. Agora é noite, filha. São mais de 20h e estou sozinho aqui em casa estudando, já que tive a segunda aula. A partitura de Falling Leaves, de David Kraehenbuehl está aberta em cima do piano. Uma música simples e triste.  A coerência dessa música hoje

Um dia atípico

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Ontem foi um dia atípico. Às 21h paramos na avenida do Contorno, logo após a trincheira para comer um sanduíche. De lá, eu ficaria no Hospital Felício Rocho para dormir com meu primo que fez uma cirurgia. Decidimos parar ali  pra que eu comesse algo porque ficava mais fácil, mais simples, é bem próximo ao hospital.  Antes de fazermos o pedido, o comentário do atendente: –Quebraram o vidro do carro preto do outro lado da rua. Estão levando uma mochila. Saí em disparada atravessando a avenida entre carros acompanhado do motoboy da lanchonete: –Vai por aqui que eu vou por ali! Bom, levaram meu computador pessoal. Todos os meus arquivos de áudio dos últimos 5 anos. Levaram as primeiras páginas do livro novo, que demorei 8 meses pra conseguir encontrar a forma de escrevê-lo, levaram a apresentação da palestra que eu darei hoje e que demorei também 8 meses pra que ficasse pronta. Não, não havia backup dessa palestra, ontem era sua finalização, hoje eu faria o backup. Curi

Para Norma e Giovana

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Estou novamente no Campo das Estrelas.  Daqui do alto, vejo as Três Marias. Vejo constelações que não sei o nome. Vejo o breu que se traduz em nada, vejo o nada que se traduz em breu. Vejo as nuvens bem abaixo do avião, que sacode um pouco voltando pra casa.  Hoje, fiquei 4 horas e quinze esperando para conversar com uma juíza. Alguém que nunca vai ter a dimensão do meu amor por minha filha. E que se julga julgadora, julgadora que é.  No prédio do Ministério da Justiça em Brasília, uma das tantas fontes que adornam a fachada é desligada. São várias, uma não funciona. É uma sábia e triste alegoria que diz da imperfeição da justiça dos homens. Há três anos me encontro nu, embaixo dessa fonte, com minha filha, esperando a água que não vem. Uma promotora de Justiça de nome muito justo, "Norma", achou finalmente estranho o fato de ter um pai e uma filha pelados em plena praça dos três poderes, e decidiu intervir.  Perguntou ela: será que passado tanto tempo,

até há volta

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Enquanto Beatriz dá seu primeiro passo, dou meu primeiro passo. Sociabilização: a mãe da escolha. Sim, Beatriz vai aprender a escolher. Vai aprender dizer sim e não, vai saber se impor no que é certo e errado, vai ter voz e vez. Já usa o humor como arma, é reflexiva, pensadora, mesmo com 2 anos. Beatriz dá seu primeiro passo rumo a autonomia. Dá o primeiro passo na descoberta da alteridade. Quanto tempo vai demorar? Quanto vai ter que andar? Não importa. Como diz Paul Mulders, peregrino que conheci embaixo de uma figueira no Camino de Santiago, "lembre-se: o passo mais importante, é o primeiro". Me lembro sempre, amigo Paul. Lembro das conversas que tive, dos passos que dei, do barulho das pedras maceradas por meu cajado. Lembro das horas, de me ditar enquanto andava, da vontade que tinha de aprender a ler. Sou atento aos sinais. Encontrei o perdão no Caminho de Santiago. Me perdoei. Talvez a face mais difícil do perdão: o próprio. Quero crer que Robert Frost es