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Mostrando postagens de junho, 2012

Perfume de Mulher

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De arma em punho, a ponto de estourar seus miolos, o Coronel conta. 5, 4, 3, 2, 1 ... " foda-se! "... O que se segue é uma luta de dominação. O jovem Charlie Simms tenta dominar o Coronel e tomar finalmente a arma das mãos dele... e o jovem perde, claro. Mesmo cego, o tenente Coronel o domina. Engalfinhados, suando, chorando, eis o que se segue. – Saia daqui !!! Ele suplica, quer morrer sem ser impedido. – Fodeu as coisas, e daí? Acontece com todos. Siga com a sua vida, está bem? – Que vida? Eu não tenho vida! Estou nas trevas! Entende? Estou nas trevas ! - diz o cego Coronel Frank Slade. Dominado, o jovem Charlie também grita. Vocifera que também vai , se for pra ser assim. Que o Coronel puxe o gatilho e acabe logo com isso. Com os dois. O jovem Charlie blefa, cuspindo, dominado, arfante, ferido: – Estou pronto ! ... O Coronel, por fim, sussurra: – Você não quer morrer... ... – Nem você ... - diz finalmente Charlie. Como um suspiro de desesper

Os idos

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– Querido! (ela disse) Foi hoje, não foi ontem. Fiquei querendo saber o que significa. Desmembrei a palavra querido. Fatiei em pedaços, fui buscar a receita, os ingredientes, os modos de preparo. Como se prepara um querido? Como se torna um querido? Como se assa, como se grelha, como se deixa um querido marinar? Eu não queria ter ido. Tire o querer do presente, eu não quero conviver com isso, viver com isso, conviver. Eu não quero mais chorar, eu não quero chamar o presente de presente, se ele vem desembrulhado, sem laço sem seu cartão. Quero um pingo a mais de emoção. Nos idos da felicidade, eu descobri o amor assentado ao lado de uma cama, olhando os pêlos de um braço de uma moça que dormia. Era dia, o amor não tinha anoitecido ainda. Ela me chamou de quervenha. Ela me chamou de quervem. Ela me chamou de quervemlogoqueestoumorrendodesaudadessuas. Ela me chamou de quervindo. As palavras não me consertam. As palavras me concertam. Me toco, me componho, me dinâmica

O Encontro de Fátima Bernardes e Lair Rennó

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Encontro - com Fátima Bernardes estréia finalmente. Vi quase todo. Prometi ao Lair Rennó, competente jornalista mineiro que a acompanha que daria minha opinião mais completa sobre o programa, já que a mensagem que mandei pra ele no facebook, foi logo depois de sua primeira entrada, sua primeira participação. Mais cedo minha mãe me disse que foi a Fátima que o convidou pessoalmente, que ela tinha lido que a Fátima quis chamar não o Lair da Globo News, mas o Lair do camarim, o que fazia sempre piadas, sempre de bom humor, o cara humano, inteligente e bacana que ela pode conhecer, não o que cumpre papel de jornalista apresentador. Legal isso. Precisamos de humanizar mesmo, ainda que com todo o dispositivo natural que a emissora de televisão imponha. Lair é um pouco mais novo que eu. 2 anos. Quando começou, também ficava na ante-sala dos produtores de elenco fazendo testes pra comerciais de TV e foi onde nos conhecemos. Meu primeiro registro dele mais forte foi numa dessas oc

A delicadeza e a crueza do amor.

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Eu gostaria muito de comentar o filme A Delicadeza do Amor, que vi antes de ontem. Esperei um dia pra ver se processava. Foi meu assunto da análise. Ainda assim, não dá, não estou conseguindo. Curiosamente, talvez paradoxalmente, comecei a ler o artigo da Eliane Brum e me deparo com um artigo que, de certo modo, é complementar ao filme... a inteligência dos comentários da Eliane me surpreende. Não sei se Eliane vai entender esse meu comentário sobre "complementaridade". Também não importa. Ela não vai ler meu blog mesmo... No entanto, preciso me exercitar. Preciso me exercitar sobre a delicadeza e sobre a crueza. Mas não consigo. Segundo meu analista, não consigo ainda. Apesar de estar precisando. Ops! Mais uma vez a palavra chama a minha atenção. Não é à toa que Lacan foi dono do quadro a que se refere Eliane em seu artigo... "Precisando"... Pré cisando. "cisão, fissão, cave, diérese"... antes, pré. Deus, onde estou indo? Ops de novo! O

O que será que será?

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O que será que será ? Eu não sei, filha. O papai não sabe um monte de coisas. Aliás, a maioria delas. O que é bom por um lado e ruim por outro. Gosto do novo, filha. De aprender, de descobrir, de revelar. Mas o mundo tá meio assim assim. Eu não queria ter lhe trazido para um mundo do jeito como está, Beatriz. A foto que você vê acima, é de uma manifestação. Veja a explicação: Hoje, 15 de junho de 2012, cerca de 300 pessoas – entre povos indígenas, agricultores, pescadores, ativistas e moradores afetados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte – ocuparam, essa manhã, o local onde a barragem será construída, localizado próximo à vila de Santo Antônio. O protesto pacífico das comunidades tradicionais da Amazônia ocorre no momento em que o Brasil sedia a Rio +20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro. “Energia que não respeita a lei, a população local, violenta direitos indígenas, destrói comunidades e o meio ambiente não pode ser l

Quatro e meia

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o silêncio chama e escuto nada tenho boca na madrugada

Febre e ecologia humana

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A febre das corridas de rua toma conta das capitais. As marcas de produtos esportivos descobriram que assim também se constrói uma marca: em cima da emoção, da vontade de superação, do sonho de ser um vencedor. Não há como pensar corrida sem me lembrar: comecei a correr mesmo, depois que meu casamento se foi. Encontrei o Amor na corrida. Fiz da corrida minha curtição. Quando a gente corre, tem  uma onda que bate  que ajuda bastante o sentimento de bem-estar. Não sei se é adrenalina, endorfina, dopamina, estricnina. Sei que funciona. Sabe? Acho que a gente chora menos quando corre. Já conhecia a minha equipe de corrida, quando me juntei a eles. Costumava chamá-los de  Smurfs , porque vinham sempre num grupinho de 3 ou 4, sempre correndo vestidinhos de azul. E eles me impressionavam muito: rapazes fortes e moças muito bonitas, de corpos bem moldados, sorridentes e simpáticos. Para meu espanto, venho me superando, até que completei os 42km da min

O caçador frouxo e o terror de ser príncipe

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Agora é a minha vez. Eliane Brum fez seu comentário  a respeito do filme Branca de Neve e o Caçador. Muito inteligente e muito próprio (ela é demais). Disse ela, no subtítulo: "Neste conto de fadas para mulheres adultas, uma ruga vale uma alma." Ok. Mas e a homaiada ? O que tem a dizer, pensar, refletir sobre Branca de Neve e o Caçador? Duas coisas me vêm de imediato: a primeira delas foi o comentário da minha amiga e Consultora Para Assuntos Femininos, ao término do filme: – Eis, finalmente, o conto para a mulher contemporânea! Você viu? Ela vai ficar com os dois! (e mais pra frente, quando cada um pagava o seu estacionamento do shopping: ) Sabe de uma coisa, Bernardo, as mulheres só ainda não dominaram o mundo por causa da disputa que sempre há entre elas. Mesmo quando são amigas! Sobre isso, 2 coisas: 1  Eliane Brum tem razão . Sobre as considerações que fez sobre o universo feminino, seu processo de emancipação, seus medos, o embate entre a velhice e a j

Para a enamoradinha do papai

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Uma braçada de flores! Quero flores num abraço. Para minha enamorada, só amor, filha, mais nada. Quero um naco do seu pensamento, a música da lalação. Iniciáticas palavras, vôo ouvir o seu  papai. Me nina, minha filha. Sou jardim que espera. Espero marcado, áspero de saudade, esperta vontade. Soueu. Vamos marchar juntos, filha, em continência ao há mar. Sou pensamento, conexão, seu barco de navegar. Seu rio de sonhos ala r ga meu bem querer. Infância. Extensão do papai, explica o mistério do oposto: você está onde estou. O mundo é assim assim. E a vida, só um milho de pipoca na manteiga quente. Pluft. São tantas as flores do mundo, minha filha, tantas tantas... Não vou ser seu namorado, sou só, enamorado, vítima eterna do seu amor. Promessa de enquanto viver, mesmo entre vindas e idas, suas flores estão garantidas, minha e terna Bebê.             

Jusqu'á l'hermione

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Em breve, meu barco parte. Me leva inteiro quando parte. Em breve, meu barco pedaço. Porto, barco, mar. E eu não sei nadar. Em breve, meu barco parte. Parte de mim, parte sem mim, parte comigo. O mar é uma espécie de umbigo. Em breve, meu parto barco. Viagem, miragem, ilusão. Me abarca, coração. Em breve, meu pedaço barco. Que mar, que vento, que nuvem. FraGata nos telhados das ondas. Seu leite é espuma. Seu ronronar se ouve nas conchas. Em pedaço, meu barco parte. Seu porto, minha rota, meu farol. Céu ruivém esconde sol. Em parto, meu pedaço mar. Tenho medo de secar. Estou indo. No porto, na porta, na parte, ninguém. Se despede de mim?

JACU EM PÉ

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O discípulo sentou-se. O mestre: – Por que sentou-se aí? Jacu (digo, discípulo): – Bom, o senhor falou pra sentar... O mestre: – eu falei pra sentar, não disse onde. – Qual é o seu lugar no mundo? Foi o que me perguntou ontem. A pergunta me ecoa até agora. E vai me ecoar por um looongo tempo. Isso me toma assim, por inteiro, e me desperta pra pensar desejo, pra pensar receio, pra pensar anseio, pra pensar tudo e pensar nada. Tenho medo de não estar no lugar certo. Já tive insights. De toda ordem. Por exemplo: quando eu propus fazer um paralelo entre Guimarães Rosa e Raymond Queneau, o papa da semiótica em Minas, meu orientador, Julio Pinto, trucou. Perguntou ele como eu poderia estabelecer esta relação, se não sabia a representatividade do autor francês no que dizia respeito a sua construção semiótica, nem ao menos no que dizia respeito à sua representatividade para a França, em comparação ao que é Guimarães para o Brasil e a literatura. Pois bem: no mesmo ano, Umb

JUNO

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Juno que une, pão que anuncia. É dia: escuta, que o tempo vem. Vislumbra a gota na terra, o orvalho na planta, o sol na semente, outônus da vida. Renasce, medida, devagarzinho. A estação da vida: plataforma de chegada e partida dos sonhos secretos de nós.