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Mostrando postagens com o rótulo #2015

pre conceito e pro vocação

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Domingo, 9h da manhã, virei a esquina e me deparei com a babá vestida de branco, empurrando o carrinho do bebê. Vinha a mãe, ao lado, um pouco atrás, com roupinha de caminhada, produzida, unha feita, no Whatsapp e puxando a guia do cãozinho engomado com lacinho na cabeça. Meu pré conceito me diz que é o fim da feira a mãe ficar com o cãozinho e com o whatsapp enquanto a babá fica com o bebê. Não são dois bebês. É um só. Mesmo que fossem. Já sei, vou ser linchado pelas mães a favor das babás a qualquer tempo e lugar. A coisa tá tão séria que já vi uma babá pra cada filho. Mais a chamada “folguista” (ou duas, pro fim de semana). O argumento que normalmente ouço é o seguinte: ah, a mãe trabalha a semana inteira, precisa descansar no final de semana. Ok, e até agora o pai não entrou na equação. Estou cansado (e triste) de ver pais que trabalham demais, em busca de um melhor futuro pros seus filhos. Um futuro que teoricamente não existe. Não, não existe, por mais que você

Caixa de Lápis de Cor.

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Para ler o texto, inicie a música em respeito à minha mãe, por gentileza. – Filha, vamos combinar o seguinte: papai vai comprar um presente pra gente dar pra vovó Lili. Eu compro o presente e você faz um lindo cartão pra ela, que tal? – Quantos anos ela tá fazendo? – 70. – Só? – Só. E aí, o que é que eu compro? – Uma boneca! Toda menina adoooooora boneca! Claro que eu comprei. Pra minha menina mãe vovó. Sabe? É muito difícil escrever sobre ou para minha mãe. Quase uma unanimidade familiar, minha mãe é uma mistura de Madre Teresa de Calcutá com Coelhinho da Páscoa. Um cruzamento de fada-madrinha com Robin Hood. Da noite, o travesseiro. Do dia, a nesga de sol. Se o amor fosse uma árvore, minha mãe seria a clorofila. A Mega Sena acumulada do meu pai. Já pelejei pra defini-la um bocado de vezes e a minha melhor definição dela foi: minha mãe é uma caixa de lápis de cor. Não dá pra falar dela sem falar de gratidão. Não dá pra falar dela sem falar de fé. É impos

Amargo que nem jiló

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A bandeira do Brasil é verde porque vivemos em um país amargo que nem jiló. Preciso falar, mesmo sabendo que não há a mínima chance de ser ouvido. Pra começar, esse texto não vai viralizar. Não há cachorros sorrindo nele. Não há neném dançando como se fosse uma prostituta na boite. Não há champagne, não há cidades europeias, praias paradisíacas, mulher pelada, carros importados, sequer uma simples ode ao consumismo. Ou seja, nem meus dois mil e quinhentos “amigos” virtuais vão ler. Muito menos os duzentos que estão na fila pra que eu aceite a “amizade” deles. Se nem quando pedimos um clique solidário para ajudar uma entidade beneficente conseguimos espalhar a informação, imagine quando não há informação quente. É só um texto simples dizendo como o Brasil é amargo que nem jiló. Nenhuma novidade. Essa noite fui furtado (conferi o termo no Google). Furtaram o rádio do carro e o estepe. Não, não foi dentro da garagem porque moro em um apartamento muito antigo, financiado pela Caixa, que

“E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem”

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Paul Gauguin, Cole Porter, Claude Levy-strauss e Caetano Veloso talvez estejam certos. É preciso um texto sobre a Baía de Guanabara. Revolto-me. Expurgo o lixo, expurgo o luxo, e decido a mar, em francês. O gênero feminino é muito mais próprio para o leite materno, as águas da mãe terra. O mar nada diz para mim. A mar, sim. A Baía de Guanabara, o seio do mar dá de mamar a poetas e cantadores e só. O lixo e o luxo roubaram suas pérolas. Eu não. A vejo, a concho, ostro-a em meus pensamentos poéticos de romântico incorrigível. Basta dizer que minha irmã mora em Botafogo. Nome próprio de um bairro habitado por minha ígnea irmã. A amo em suas decisões. Há mar em cada uma delas. Gabriela, nome de quem sobe em telhados poéticos, é mesmo um tsunami que habita o Rio de Janeiro. Queria que ela pudesse andar suas ondas a pé nas noites quentes cariocas, mais do que pode ou consegue, queria que o Rio fosse só mesmo uma calçada portuguesa no imaginário das ondas que vem e vão como a garota de Viní

Bom dia.

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– Você é mais bonito quando acorda. Não sei se foi uma frase de efeito. Mas resolvi passar a vida acordando.

Passador

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Entro no quarto de Beatriz e lá está ele. Ao lado do porquinho de moedas que junto pra ela todos os dias. Um passador, esquecido em sua passagem por aqui. Ele me fala que ela esteve aqui. Ele me fala de seus lindos cabelos desgrenhados de criança. Ele me fala de seus cabelos cuidadosamente arrumados para ir ao ballet. Ele me fala de seu sorriso. Ele me fala de seus gritinhos infantis e de suas sobrancelhas arqueadas ao me perguntar inocências. Ele me fala do Tempo, da pergunta quando ela estará aqui, da resposta da Saudade e do abraço vazio que dou em seu quarto, toda vez que entro nele. Deixado displicentemente no que pode ser considerado uma cômoda, o passador de minha filha. O passador de minha filha. A diarista já quis guardá-lo, um cem número de vezes. Ela guarda, eu volto com ele para o lugar do esquecimento. Eu volto com ele para o lugar da lembrança. Eu volto com ele para o lugar do como se fosse ontem. Ele me lembra que ela esteve aqui. E o jeito como foi deix

Um pau pra chamar de seu

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É preciso que algum estudioso faça um artigo de fundo sobre o pau de selfie.  Eu não sou estudioso e nem tenho conhecimento para isso. Aliás, nem pau de selfie eu tenho. Meu pau é outro. Oco. O pau de selfie é o falo contemporâneo. A ereção compartilhada.  Se dá assim: o pau de selfie fecunda o anonimato. Nasce o reconhecimento.  Filho legítimo do indivíduo com a sociedade, morre à míngua porque sua mãe é desnaturada. Ela não quer dar de mamar. Por isso, morre dias, horas, minutos depois, sem atenção, sem carinho, sem cuidados. Coitado. É preciso que alguém discorra sobre o pau de selfie. Coisinha fina que não faz canoa. Não bóia, não cutuca, não é pra toda obra, não escorrega, não protege, não faz calar. Não consola. Nem goza. Mas tá aí, pra cima e pra baixo pra todo mundo ver. Pau enorme, nosso pai? Eu tenho pena do pau de selfie. Porque de self ele me parece ter muito pouco. Não sei (mais) qual o limite do particular e do coletivo. Talvez es

Sirimim

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foto: Ana Guimarães San Bol.  Deus entrou pela janela do banheiro de madrugada.  O vento dizia Om e o Vazio entrou despreenchendo tudo.  Foi-se tudo.  Foice tudo. Banhei-me nas águas milagrosas de San Bol.  Eu caranguejo, sirimim. Ontem, massageio seus pés cansados de tanto Caminho em meditação. Descubro que eles estavam dentro d'água, banheira do amor. A banheira é de pedra, a água turmalina.  Vitrifique-se. O perdão clarifica o espírito, o amor ilumina a alma, a paz cristaliza o equilíbrio. Tornamo-nos um com o Caminho e o Vento.  Óh! Trigonal une verso! Há mar na banheira mágica de San Bol. E o Vento continua passeando na copa das árvores, mesmo quando não vejo. A Ave Maria na Banheira de San Bol me banhou o espírito, a fé e o Caminho. Sou grato a Peregrina Ana Guimarães.

Estátua

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– Raio congelante! E meu coração se aquece. Eis o mistério da fé. Coitada da Elsa. Mal sabe ela que pode congelar e ao mesmo tempo aquecer o coração de quem se ama. Minha filha adquiriu essa habilidade. Zap ! E pronto. Viro estátua. O Tempo ali não resiste. Kairoz toma conta de tudo. O mundo automaticamente entra em modo Stand By . Os passarinhos param no ar, o lixeiro para no ar, a bigorna para no ar, a fonte congela na foto. Para, Tempo! Por favor, não me deixe ir embora! Faça alguma coisa! Que vontade que nunca mais ela me fizesse a cosquinha ou o Boo-libertador ... Não coloco bateria nos meus relógios. É minha forma de protesto. E Beatriz a dizer ao Tempo que nos dê uma folga, que é preciso que ele não passe, pra ficarmos ali, sempreando, juntos, sorrindo, ou melhor, risando – como ela gosta de dizer. – Papai tá risando!, admira ela. E ri entusiasmo. Quando Deus dentro, paraíso fora. Elo. Daí ela pega a estátua, não importa o lugar que esteja, e começa a moldá-la. Mãos, pernas, b

Foice

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Acordou triste. Tinha perdido o entusiasmo. Estava cheio de tudo. Precisava calar, precisava ouvir o silêncio, precisava descoisificar-se. A cheiísse de tudo não guardava espaço pra Deus entrar. Precisou cavar. Foi necessário jogar tudo fora, todos fora, conceitos fora, ideias fora, problemas e soluções fora, soluços fora, mágoas fora, sorrisos fora. Foram dias. Meses. Anos. Nós. Fomos, foram-se. Foi-se. Foice. Decepou tudo. Varreu. Passou pano. Deixou secar. Abriu a janela da alma. Abriu a porta do coração. E um dia, depois de muito tempo Nada, descoisificou-se finalverdadeiramente. E pode ouvir seu sangue, sentir-se pele, respirar o vazio do ar, descobrir-se inspiração e expiração. Coraçificou-são. Hoje, ouve passarinhos e escuta crianças. Na foto, Bê Sant'Anna no Caminho de Santiago em 2009

Eupelúcia

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eu no aniversário de minha filha Talvez a obra "Ursinho Pimpão" seja considerada ainda um Clássico da Humanidade, ao lado da Nona Sinfonia de Beethoven, Suite Quebra Nozes de Tchaikovsky, Primavera de Vivaldi ou A Flauta Mágica de Mozart. Talvez a Ode Ursinho Pimpão seja ainda por mestres do cordel recitada, receitada por psiquiatras lacanianos, palavra por palavra, acorde por acorde, me acorde, para acordar pais, e mães, mestres, discípulos, hunos, bascos, unicórnios, elfos, fadas. Por quê?  Porque precisa. Porque preciso. Porque não dá mais mesmo pra viver num mundo sem Ursos, sobretudo os Pimpões. Sabe, os pais são ursos. Eu, o Pimpão de minha filha. Enquanto (eu ia escrever "quando") falto, ela me coloca Pimpão no lugar. O eupimpão pega então sua mão, e a conduz pro lugar momentum sonho, pro espaço tempo do amor afago. Eupelúcia choro. Eupelúcia escuto. Eupelúcia sofro dores indizíveis, vítima da impotência da culpa paterna, a e

Saliva

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De repente, volta. De repente, encanta. De repente, cheia, de repente, vazios. De repente em repente, rimas. Trovas. Trovoadas. Nuvens negras e solidão. Call, Marias. São muitas as mulheres desejo, são poucas as mães cuidado. São vítimas delas mesmas, são sós, mesmamente alones, alines, lucílias, letícias, lúcias, leilas, lauras, lindas, loucas. Os dias passam sem charme quando a paixão tira férias. Deus está no cantinho, explicou pra elas. Daí, viram a borboleta. Daí, viram moça. Daí, viram de bruços. Daí, rumores, humores, amores, sabores. O tempero da paixão está sob o travesseiro do dia a dia. Pro cure. E o dia lambe o tempo preguiçoso, como se não esperasse a noite chegar pelada.

Cheiuras

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Há um livro escondido nas teclas do meu computador. Ele espera, pacientemente, os mais de dois milhões e quinhentos mil passos que dei chegarem para se fazer, em memória, história, perdas e danos. As verdades re-veladas se turvam nas noites insones, mal dormidas. Os cacos, juntados, se colam em mosaico. No ano que passou, fui roubado. Roubaram o moleskine com todas as minhas anotações sobre o Caminho, as pessoas, os endereços, as reflexões poéticas, os lembretes. Lembretes roubados se tornam esquecimentos no desespero da perda. Nada há a fazer. Desfazer expectativas como desfaço minhas malas. Descobri, desde o primeiro Caminho que preciso de Nada. E só. E hoje, pesarosa mente que mente ao não me deixar dormir. Vá, se levante, abra sua mochila. Você vai encontrar o que procura. Sim, o Nada estava lá. Bem juntinho da responsabilidade pela escolha de todas as teclas a serem desveladas em códigos irresponsáveis que nos tragam a Verdade. Hoje, sem querer, vi uma foto que trazia um

Sistema Solar

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foto: mamãe Há uma dor sobreviver. É que o sorvete de creme derrete.  O mundo não se parece com o sanduíche da foto da lanchonete. Sabe? Escutei uma canção cantada por minha filha. Entendi a etimologia da palavra entusiasmo. Deus presente, com laço de fita e surpresa, bolo de chocolate e parabéns pra você pra mim. A semiótica é só soma na multiplicidade desconcertante, e complexamente simples, da infinita definição de amor trazida por minha filha. Há tantas pessoas no mundo que precisam conhecê-la... Seus quadros são mais lindos do que os de Matisse. Sua voz soa mil vezes mais linda do que a voz de Joss Stone. Sua primeira composição (que fez aos 3 anos e sete meses) deixa Jobim no chinelo. Sua graça faz de Didi Mocó um triste pierrot que chora. Sua presença ilumina tudo à sua volta. Ela cura enfermos, traz de volta a vida, colore flores e faz o Vento ventar. Marmente.  Desconfio (com base empírica) que ela tenha influência sobre a tábua das marés. De uma coi