Estátua


– Raio congelante!

E meu coração se aquece. Eis o mistério da fé.

Coitada da Elsa. Mal sabe ela que pode congelar e ao mesmo tempo aquecer o coração de quem se ama. Minha filha adquiriu essa habilidade.

Zap! E pronto. Viro estátua.

O Tempo ali não resiste. Kairoz toma conta de tudo. O mundo automaticamente entra em modo Stand By. Os passarinhos param no ar, o lixeiro para no ar, a bigorna para no ar, a fonte congela na foto.

Para, Tempo! Por favor, não me deixe ir embora! Faça alguma coisa! Que vontade que nunca mais ela me fizesse a cosquinha ou o Boo-libertador...

Não coloco bateria nos meus relógios. É minha forma de protesto.

E Beatriz a dizer ao Tempo que nos dê uma folga, que é preciso que ele não passe, pra ficarmos ali, sempreando, juntos, sorrindo, ou melhor, risando – como ela gosta de dizer. – Papai tá risando!, admira ela. E ri entusiasmo.

Quando Deus dentro, paraíso fora. Elo.

Daí ela pega a estátua, não importa o lugar que esteja, e começa a moldá-la. Mãos, pernas, braços, pés, rosto, espírito: me curvo bamboo frente à sabedoria de minha filha. Jesus estava certo sobre as criancinhas. Jesus está certo sobre a minha filha.

Minha bênção, meu Amor.

E o coração explode em fractais de esperança. Vagalumo.

Estão faltando estátuas de pais nos shoppings do mundo.



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