O dia do voto



Voto. Nunca consegui ouvir ou ler essa palavra como um substantivo. Sempre ouço ou leio como um verbo. E na primeira pessoa do singular.

A singularidade do voto é interessantemente bela. Porque nos fala da inserção social. Porque nos lembra da beleza de um grão de areia. Porque dignifica a gota no oceano.

Não há como eu pensar essa imagem e não me lembrar de um filminho manjado, se eu não me engano da década de oitenta, do rapaz jogando as estrelas do mar que estavam na praia de volta no oceano. E quando perguntado:

– São milhares!, você acha que jogando de uma em uma vai fazer a diferença?

E o rapaz responde:

– Fiz a diferença pra cada uma delas que joguei de volta...

É mais ou menos isso... É que no caso do voto, cada um de nós é a estrela do mar. E não há ninguém que nos jogue pro oceano. Depende de cada um de nós, pro oceano ficar estrelado...

Você já viu como um só grão de areia é lindo? Não temos a dimensão de um, até o separarmos do resto na ponta do indicador. E verificarmos sua característica por vezes translúcida, brilhante, por vezes cristalina, vítrea...

Um ponto do todo. O todo num ponto. A dimensão de completude de um só grão de areia é pouco percebido. Mas experimente tirar os grãos de areia de uma praia.

Talvez por isso, há de se refletir o que significa o “voto útil”. “Ir com a boiada” é bem diferente de fazer o seu papel enquanto grão de areia. “Ir com a boiada” significa alguém escolher por você. E, nesse caso, tomara que você não seja “boi de piranha”... Porque aí é como se você fosse a estrela do mar que não decide se vai pular pro oceano ou ser jogada pro meio do mato.

Quando você vota nulo ou em branco, você simplesmente deixa que outros escolham por você. Quando você decide, você abre as portas pra dimensão mágica de ser praia sendo um só grão de areia. Quando você decide, você é capaz de deixar o oceano estrelado.

Quando temos a sensação de pertencimento podemos ser parte, fazer parte e modificar, se quisermos, o todo. Assim, pense bem. Deixe o voto substantivo e conjugue o verbo votar na pessoa mais importante: a primeira, singular.



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