Setenta anos
Devo falar sobre escolhas.
Escolho falar do pai? Escolho falar do avô?
Falar sobre o pai da gente é sempre delicado.
Vovô Toi pra minha filha, amigo pra maioria. Pai, pra mim. Posso
falar do Seu Nestor, que dá aula de música para os filhos dos caseiros da
região de macacos. Posso falar do Nestor Sant’Anna, profissional de
comunicação, chefe de cerimonial de mais de um governo, do secretário de
ministro, do presidente do Palácio das Artes ou da Rádio Inconfidência, do
gerente de relações institucionais da Fiat do Brasil ou do chefe de comunicação
da Acesita, da MBR, do profissional que cuida da comunicação da Vallée há mais
de 20 anos ou do conselheiro da Secretaria Estadual de Cultura. Posso falar do
ex-presidente do Kairoz, entidade filantrópica de São Sebastião das Águas
Claras. E posso falar do músico. Do pianista. Do acordeonista. Do que defende o
músico mineiro. Do que ama a música acima de tudo, do que deu oportunidade para
tanta tanta tanta gente.
Pra gente que não tinha nome e agora tem. Pra gente que tinha nome e
estava esquecido. Pra gente de talento que não tem e nunca vai ter nome. Posso
falar do profissional de palavra, que vende a própria casa pra pagar produção
artística. Posso falar do exemplo. Do caçula de 15 filhos de Dona Fifide.
Posso falar de tanta coisa e posso falar de nada. Posso só me sentar
e ouvi-lo tocando com uma foto da minha filha em cima do piano. Posso falar do
que carrega água no balaio. Do bom de texto e do cabeça dura. Do osso duro de
roer. Do maluco. Do resiliente e do resistente. Do sobrevivente. De quem eu
puxei pra não desistir de caminhar mais de 2.500 km. - e de quem eu puxei, pra
ter e manter essa ideia de jerico.
Mas escolho não falar de nenhum desses. Vou falar de um que ninguém
conhece. Só eu, minha mãe e minha irmã. Um que sábado de manhã colocava o long
play Um Banda Um, de Gilberto Gil, a toda altura e convidava a gente pra dançar
pelado na sala. Um que acordava a gente criança entrando no quarto escuro, sentando
na cama e esfregando as nossas costas. Um que uma única vez montou uma pipa
comigo em Brasília e que fez toda a diferença. Um que viajava tanto, que eu apontava
pra qualquer avião que passava e dava tchau: – Ó o papai!!! Um que ouvia música
clássica em fita K7 no carro, enquanto viajava dirigindo de luvas. Um que
viajou comigo sozinho pra Ilhéus e que lá me levou no meu primeiro boteco, pra
brindar com os amigos. Um que amava decorar a casa. Que colocava os quadros na
parede. Que escolhia os objetos de decoração, porque Casa. Pois Lar. Um que
minha mãe me ensinou a amar.
Meu pai completa 70 anos hoje, dia 17 de junho.
70 anos atemporais que valeram o adjetivo de SEMPRE. Dele e de
muitas vidas. Inclusive da minha. Sou grato, Pai.
Comentários
Conheço uma pequena parte desses 70 anos do Nestor. Conheço uns vinte dos 70, mas tempo suficiente para admira-lo (Ele, o Nestor. Tá bem, você também). Fico muito feliz em ser aceito como amigo dele e de toda a trupe. Parafraseando o Thiago de Mello, " setenta anos nada são para quem coloca sua existência na fundação de um milênio", e o próximo milênio será melhor pelas contribuições do Nestor. Abração.
Conheço uma pequena parte desses 70 anos do Nestor. Conheço uns vinte dos 70, mas tempo suficiente para admira-lo (Ele, o Nestor. Tá bem, você também). Fico muito feliz em ser aceito como amigo dele e de toda a trupe. Parafraseando o Thiago de Mello, " setenta anos nada são para quem coloca sua existência na fundação de um milênio", e o próximo milênio será melhor pelas contribuições do Nestor. Abração.