Você joga xadrez?




Deus parece que joga xadrez, eu disse.
Ela respondeu: se é xadrez que ele joga, tem um adversário.

Detesto gente inteligente, porque eu amo gente inteligente. O bom do amor é que ele é diferente da cesta de laranja. Quando a gente distribui laranja, a cesta esvazia. A cesta do amor parece que enche.

Com quem Deus joga xadrez? Ela falou que é com o "Não-Sei-Que-Diga*". Será? Será com a gente?

Ou será que sou só peão?

Eu, peão, vou pro embate. Morro primeiro. Eu, peão, não tenho problema em ficar no quadrado branco ou preto. O problema do eu, peão, é que não sei voltar.

Eu, cavalo, não ando reto. Passo por cima, mas não sigo o mesmo caminho. Mudo sempre pra outra direção, difícil saber onde minha estrada vai dar.

Eu, torre, não sou flexível. A cruz do meu caminho é ir pra frente ou pra trás, pra um lado ou pro outro. Sou muro. Escudo, sou vulnerável.

Eu, bispo, tangencio. Meu olhar enviesado não vê o mundo de frente.

Não sou rei, muito menos rainha. Não sou fim. Nem meta.

...

Não, Deus não joga comigo, muito menos contra mim. Pensando bem, sou eu, o tabuleiro.

Assim, cabem as perguntas: você estaria na parte branca ou preta? E como você se move?

Ops.... espera: quem move é você?




*um dos tantos nomes do Coisa-Ruim por Guimarães Rosa.



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