No cantinho


As cores despertam na praia. Se rendem ao sol, todo poderoso.
Há sombras, há tonalidades, matizes que brincam com minha percepção. A areia que queima o pé me faz lembrar o sorriso menino de uma menina. De hábitos diurnos, é também dourada. Se apresenta e se esconde.
Ela venta.
Sopra encantos possíveis na minha natureza já explorada. Pouco deve haver em mim a desbravar. Mas o vento é criança. Pega no pé do inconcebível e atravessa as fronteiras do estipulado. 
Fui pêgo.
Na gaiolinha de bambu, frágil, poética, ouço o estalar seco de seus finos arames de pau. Rangem ao meu movimento. Parecem dispostos a partir, a romper a um sinal.
Mas não quero.
Quero esperar o jiló.
Quero o banho na vasilhinha que tem lôdo no cantinho. Quero sentar meus sonhos no puleiro do alto e descobrir em qual prego a gaiola vai se pôr.

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