Para Clóvis de Barros Filho, Mário Sérgio Cortella e Jimi Hendrix


Ontem tive o prazer de ir a mais um evento do Sempre um Papo.

Há uma citação logo que abrimos o novo livro de Clóvis de Barros Filho e Mário Sérgio Cortella



"De tanto ver triunfar as nulidades, 

de tanto ver prosperar a desonra, 
de tanto ver crescer a injustiça, 
de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, 
o homem chega a desanimar da virtude, 
a rir-se da honra, 
a ter vergonha de ser honesto." 
Rui Barbosa





Estive por 10 meses sem ver telejornais. Essa semana, vi um deles. E, sem surpresa, constatei que nada muda. A cultura da violência tomou conta por completo do dispositivo, a favor da lógica capitalista. Quando, no jornal radiofônico da CBN nos deparamos com um "quadro auditivo" com o nome de BOA NOTÍCIA CBN, ou algo semelhante, é hora de parar pra pensar.

Talvez, mais do que "para onde estamos indo?", a pergunta fundamental seja "que caminho escolhemos seguir?". Porque é mesmo difícil saber para onde se vai, mas é primordial saber se o caminho que escolhemos é o caminho de valor.

A pró-vocação de Clóvis e Cortella, trazendo Rui Barbosa para o início do debate, cabe não para desistirmos de ver o jornal, mas para fazermos alguma coisa para mudar a notícia.


Nelson Nascimento, poeta do MKT, jazzista da vida, pai por natureza, já costumava me provocacionar, contando a história, se não me engano, de Michael Jeffery, empresário do Jimi Hendrix. Já músico de valor, um dia ouviu Hendrix tocando em um Pub. Voltou na segunda noite. E na terceira, na quarta... até que se decidiu, depois de ver com seus próprios olhos o que Hendrix fazia com a guitarra: não posso nunca mais tocar


E virou seu empresário.

Já pensei em desistir da música por causa de Gilberto Gil. Já pensei tantas e tantas vezes em parar de escrever por causa de João Guimarães Rosa. 

Mas o fato é que não podemos desanimar. Por mais que Rui Barbosa esteja certo, num país em que nossos filósofos tenham que escrever um livro com o nome "Ética e Vergonha na Cara!, é preciso saber que a crença no hábito não pode ser maior que a crença na mudança de hábito. Porque como disse Heráclito, "Tudo muda, nada perdura." 

Assim, o Palácio das Artes estava pleno. De gente pra falar e pensar sobre ética. De gente pra falar e pensar sobre vergonha na cara. De gente que não quer desistir da música. De gente que quer continuar a escrever. De gente que quer mudar a notícia.

Porque se é mesmo esse o hábito do mundo, escolho ser como Humberto de Campos: "prefiro afrontar o mundo para servir à minha consciência do que afrontar a minha consciência para agradar o mundo." 

Sabe? Jimi Hendrix morre. Mas a guitarra permanece. 

Vou estudar piano*.





*depois de ler o livro do Clóvis e do Cortella. 

Ética e vergonha na cara!/Mario Sergio Cortella, Clóvis de Barros Filho. - Campinas, SP: Papirus 7 Mares, 2014. (Coleção Papirus Debates)


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