Entrelinhas e laudas

(CLICA NA MÚSICA PRA LER O TEXTO)

Sentado no Baltazar, na Serra, depois da segunda cerveja do domingo, ela interrompe o namorado e me diz:

"Mas Bernardo, me conta! Tem 20 anos que a gente não conversa!!! 
Me conta uma coisa, o que você achou da sua vida, desses últimos 20 anos?!?"

... branco...

Putz, pensei... Como é que eu vou responder isso?

Virgínia foi minha colega de faculdade. (pára de fazer conta, gente! Ninguém tem nada a ver com o fato deu ter entrado na faculdade com 14 anos...)

Conheci Virgínia, mesmo, de um modo muito interessante. No mínimo, curioso. Nem sei se ela se lembra disso. Primeira semana de aula, a gente praticamente não tinha conversado ainda. Indo para a PUC, passando na Via Expressa, bairro Padre Eustáquio - acho - em Belo Horizonte. Vi uma batida de dois carros e alguns alunos ainda meio atordoados. No meio deles, a Virgínia. Eu nem sabia o nome dela. Mas a reconheci no ato: "vixe, acho que aquela menina ali é da minha sala, melhor eu parar pra ver se eles estão precisando de alguma coisa..."

Desço. E vou oferecer meus préstimos.

"Ei, você está se lembrando de mim? Sou seu colega de Publicidade na PUC. Deixa eu lhe ajudar?"

Peguei Virgínia desarmada. E assustada. Acho que só estava esperando isso. Ela nem respondeu, me deu um abraço tão forte (que até me desarmou) e começou a chorar no meu ombro.

"Desculpa, eu tô nervosa... É que eu assustei muito com a batida..." - disse ela enxugando as lágrimas com cara de panda.

Pronto. Daí pra frente, foi uma amizade super bacana. Claro, virei confidente. Me perguntava sobre o que devia fazer com fulano e beltrano, que queria namorar fulano, sempre apaixonada com beltrano, com quem se casou, de fato um dia, e patati e patatá. Vivemos bons momentos juntos. Peça raríssima. Engraçada, espirituosa, sarcástica. Hoje, mais mulher, mais vivida. Andou bons pedaços em estrada de terra.

Como eu, acha que está melhor, bem melhor, do que há vinte anos. (talvez você tenha se perguntado: mas há outra alternativa?) Acho que sim. Não sei se é comum nos perguntarmos isso, fazermos essa avaliação dessa forma. Acho que avaliamos ao longo do tempo, "paulatinamente", ... mas de uma tacada só, pode nos causar espanto. Em alguns casos, é como a batida do carro na via expressa.

Ontem, quando Virgínia me perguntou, não sabia se respondia, ou se tinha a atitude dela, quando nos conhecemos. Mas não porque tenham sido ruins os vinte últimos anos. Mas porque foi muito, muito intenso...

Na hora, procurei elencar alguns marcos:
minha primeira viagem à Europa, em 1998, que me impressionou e sacudiu...,
meu casamento em 2002, que me impressionou e me sacudiu...,
minha separação em 2006, que me deixou sem perguntas...,
minha viagem com 2 amigos pra Europa em 2007, que também tinham separado naquele mesmo ano, a primeira corda que consegui segurar...,
o encontro com algumas pessoas especiais ao longo desses anos, que não vem aqui ao caso...,
meu primeiro livroCD em 2008...,
o Caminho de Santiago em 2009, onde aprendi o perdão...
o nascimento da minha filha em 2011, que dispensa comentários...,
e meu novo livro, agora, em 2012... Ufa.

Bom, essas são as linhas. Mas as entrelinhas, essas sim, dão alguns livros... Virgínia, vou lhe responder. Você tem tempo?




Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Indico "A alma imoral" e "Ter ou não ter, eis a questão!"

Para Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque

Rascunho