Perfume de Mulher




De arma em punho, a ponto de estourar seus miolos, o Coronel conta.


5, 4, 3, 2, 1... "foda-se!"...

O que se segue é uma luta de dominação. O jovem Charlie Simms tenta dominar o Coronel e tomar finalmente a arma das mãos dele... e o jovem perde, claro. Mesmo cego, o tenente Coronel o domina. Engalfinhados, suando, chorando, eis o que se segue.

Saia daqui!!!
Ele suplica, quer morrer sem ser impedido.

Fodeu as coisas, e daí? Acontece com todos. Siga com a sua vida, está bem?


Que vida? Eu não tenho vida! Estou nas trevas! Entende? Estou nas trevas! - diz o cego Coronel Frank Slade.

Dominado, o jovem Charlie também grita. Vocifera que também vai, se for pra ser assim. Que o Coronel puxe o gatilho e acabe logo com isso. Com os dois.

O jovem Charlie blefa, cuspindo, dominado, arfante, ferido:
Estou pronto!

...

O Coronel, por fim, sussurra:
Você não quer morrer...

...

Nem você... - diz finalmente Charlie.

Como um suspiro de desespero,  como se tentasse alcançar a corda que pende no precipício da vida, o Coronel suplica a ele:
Me dê uma razão pra não me matar...

Eu lhe dou duas - diz Charlie - : dança tango e dirige uma Ferrari melhor do que todos que já vi.

...

Ainda confuso, o Coronel pergunta a ele, como se pedisse ajuda:
– ... o que farei daqui pra frente? ...

E Charlie repete o que o Coronel o ensinou, antes de sentir novamente o Perfume de Mulher na pista de dança...
– "Se se atrapalha no tango, continue dançando"...

Está me tirando pra dançar, Charlie? ... Nunca sentiu vontade de ir... e ao mesmo tempo, vontade de ficar?


Os dois agora choram. E o tango da vida continua.

***

No último post do meu ano velho, lembro que eu não tenho como dirigir uma Ferrari, Coronel.
Por isso, preciso urgentemente ficar bom no tango.



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