As cartas não mentem




Fui numa cartomante.
Ela me disse pra esquecer você.
Disse que tudo vai dar certo, que o amor é deserto, que o bem é o bom da gente.
A gente sente.
Sente na soleira da porta, sente na cama vazia, sente na mesa sem companhia.
Sente e espere o tempo mandar.
O tempo tem pó.
Voltei a sentir asma, voltei a saber dos meus pulmões,
a cartomante não vende balão de oxigênio.
Ô eu que suspiro.
Quando falta ar, é melhor se sentar.
Corre o vazio de existir pra fazer sentido e vira vento com seu movimento.
Somos só músculos, ossos, troços em fricção.
A cartomante não tem a cura não.
Cartas que adivinho, sopros da mente,
inspiro e piro, que suspiro é só da gente.
Meu coração é baralho, me embaralho esperando você cortar.
Aprendi a fazer mágica com as cartas do coração.
Em todas, sua foto pra quando você escolher tirar.
Quando tiro uma carta do peito, o jogo banguelo grita,
a criança chora, o velho agita,
e a brincadeira acaba para todo o sempre.

No baralho da cartomante, ninguém ninguém dá o morto.




Comentários

Renata Feldman disse…
Lindo, Bê. De cortar o coração.
Bj
Bê Sant Anna disse…
Grato por comentar, amiga Rê. Tenho pensado sobre suas definições do amor, que li no seu verbete universal no renatafeldman.blogspot.com.br
Propício o texto da aceitação logo após. Ainda vou falar sobre resignação, que é um passo além desse último, acho. Bê ijos do amigo e fã.

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