O velho e o novo


Samarone, aluno do sexto período de Publicidade e Propaganda, começou o email dele para mim da seguinte forma:

"Velho professor, muito boa a aula de ontem."

Fico feliz, novo aluno. Não por ter dito que a aula foi boa. Fico feliz por ter me chamado de velho professor. De baixo, ou do alto, dos meus 36 anos de idade, idade que completo dia primeiro de julho deste ano mesmo de 2009, me esqueço que sou velho e me esqueço que sou novo. Me lembro de lembrar a cada instante, quando olho no espelho (e olha que eu pouco olho no espelho) que "O tempo está na ponta do punhal" como diria o artesão da palavramúsica Celso Adolfo e que não há tempo a perder... Aliás essa foi a maior lição que tive do meu avô Hélio, pai da minha mãe, que me disse isso da forma mais contundente que pôde, morrendo, sem deixar que eu lhe desse o último abraço de despedida, o último carinho antes da partida, a confissão do eu te amo vovô, do alto, ou de baixo, dos meus onze anos de idade...
Samarone, amigo da música e das pessoas, começou o email dele para mim da seguinte forma: 

"Velho professor, muito boa a aula de ontem."

"O tempo está na ponta do punhal", Samarone. E independentemente de ter sido ou não boa a última aula, a de ontem, o hoje já se anunciou. E essa aula, nunca mais. O nunca é uma palavra pesada como poucas. Tenho mais medo da palavra nunca do que da palavra morte. Por isso, ouço Celso Adolfo. Por isso, escuto meu avô. Por isso, escolho te definir como amigo da música e das pessoas e não só como aluno do sexto período de Publicidade e Propaganda...
Logo você, que terminou seu email dizendo: 

"Abraço e sucesso na sua caminhada camarada. Até qualquer dia."

Tomara que sua frase final não seja um erro. Que não falte realmente a vírgula entre as palavras "caminhada" e "camarada". Quero ser amigo da caminhada, quero que ela seja minha amiga. E ouvindo as belas músicas do Celso e de tantos outros, possa eu caminhar seguro e feliz "até qualquer dia" rumo ao verdadeiro encontro...


imagem em http://concertina.files.wordpress.com/2007/01/estrada.jpg

Comentários

Poxa, não esperava por essa, nem pela vírgula faltante e pelo fato de, um simples email virar um texto tão legal.

Fiquei feliz em ler tudo isso aqui hoje.

Valeu, velho professor.
Lu disse…
Puxa, Bê, você é o cara que lê não so nas entrelinhas mas também nas virgulas!
De carona nessa sua leitura de virgula, proponho o seguinte refrão filosofico-tipografico:

...eonovoéovelhoéonovoeovelhoeonovoé...

A partir do seu texto, proponho ainda, a você e aos amigos do blog, a seguinte adivinhação filosofico-literario-ludica:

Kairos entra numa canoa rumo à terceira margem do rio de Heraclito. Leva consigo apenas uma Biblia, cuja fita da lombada marca o capitulo três de um dos livros. Que livro da Biblia é esse?

Hoje foi o dia da pergunta, e cada pergunta traz em si uma resposta; o da resposta vem em breve. Cada coisa a seu tempo...

Vamos la, galera!

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