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Setenta anos

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Devo falar sobre escolhas. Escolho falar do pai? Escolho falar do avô? Falar sobre o pai da gente é sempre delicado. Vovô Toi pra minha filha, amigo pra maioria. Pai, pra mim. Posso falar do Seu Nestor, que dá aula de música para os filhos dos caseiros da região de macacos. Posso falar do Nestor Sant’Anna, profissional de comunicação, chefe de cerimonial de mais de um governo, do secretário de ministro, do presidente do Palácio das Artes ou da Rádio Inconfidência, do gerente de relações institucionais da Fiat do Brasil ou do chefe de comunicação da Acesita, da MBR, do profissional que cuida da comunicação da Vallée há mais de 20 anos ou do conselheiro da Secretaria Estadual de Cultura. Posso falar do ex-presidente do Kairoz, entidade filantrópica de São Sebastião das Águas Claras. E posso falar do músico. Do pianista. Do acordeonista. Do que defende o músico mineiro. Do que ama a música acima de tudo, do que deu oportunidade para tanta tanta tanta gente. Pra gent

Para Fred, Neymar Jr, Thiago Silva e a quem mais servir.

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Ontem foi um dia de extrema alegria e de muita tristeza. Saí às ruas cedo. E meu entusiasmo foi pleno. Ver ondas de carros com a bandeira do meu país é algo que me comove, no sentido mais amplo. Crianças com a blusa da seleção, vocês me representam. Porque acho bonito, porque acho maior, porque tenho em meus conceitos alguns paradigmas relacionados à beleza da construção da identidade ligada à polis, ao senso de comunidade, à comunhão social. Assim, quando vejo as pessoas dispostas a torcer e se manifestar por um mesmo tema, seja ele ideal ou não, acho bonito. Acho bacana. Pra mim, é um significante da seguinte ordem: "se podemos torcer juntos, podemos mudar juntos". Sei que, historicamente, é mais fácil nos manifestarmos conjuntamente para a festa do que para a mudança. Do que para a disposição social e política relacionada aos direitos e deveres do cidadão. No entanto, somos jovens. O país é jovem. E se emancipa aos poucos. Acredito mesmo nisso. Acontece que precis

Bernardo e a Porta dos Fundos

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Em São Paulo, publicitário mata zelador por causa de desentendimento na entrega das cartas e jornais.  No Rio, fotógrafo morre do coração na frente do hospital especializado em cardiologia sem ser atendido.  Em Brasília, jovens são multados em 5.400 reais por dividirem o carro para passear. A multa chegou 4 anos depois. Em Belo Horizonte, recebo uma declaração de amor: – Preciso te contar uma coisa. Tenho um filho que está com 7 anos. E ele se chama Bernardo por sua causa. Quando éramos colegas, decidi que se um dia tivesse um filho, teria seu nome. Porque achava você inteligente, divertido, bem humorado. Queria que meu filho fosse assim. Ano passado, contei essa história pra ele. Sabe?, ele é. Quero conhecer Bernardo. Dizer a ele que não assista jornal todas as manhãs. Que continue inteligente, divertido, bem humorado. Que o mundo é bem melhor do que o que aparece nos noticiários. O mundo mesmo, de carne e osso, é cheio de declarações de amor. Mas o que vend

A volta dos que não foram

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Poeira em alto mar. É que partimos sem perceber. E, de repente, nos perdemos. Parece que fica o gosto da saudade. De nós mesmos. Desencantados?, perdidos?, não sabemos onde estamos... Escancarados, de portas e janelas abertas para o mundo, que entra todo, parece que sem pedir licença. Duvidamos de nós mesmos. Sou eu mesmo na carteira de identidade? O mundo gira, e com ele, a gente. O Tempo faz fila. E quando acordamos, estamos lá, onde quer que seja, levados por Ele. Na comédia romântica O Casamento Grego, o irmão da noiva diz a frase que nos faz calar: “não deixe que seu passado decida quem você é, mas deixe-o fazer parte da pessoa que você será”. É que há sempre escolha. É que há um Haikai meu, do livro V ENTE: Haikai do Livre Arbítrio. “Quem planta, escolhe”. Acho que é bem isso mesmo. Sempre é possível escolher entre subir ou não no trem que parte. Quantas vezes não sabemos seu destino final? Acontece que há muitas estações. Nelas, possibilidade de baldeação. Quem acha que “v

Para vovô Toi e vovó Lili

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Ei vovô Toi, ei vovó Lili, é Beatiz. Eu num sei falá direito. Eu tenho têis. Papai falô que eu dei uma rôpa de cama pa cama nova. Eu gosto de durmi. Eu quero durmi na cama nova do vovô Toi e da vovó Lili. Eu gosto de música. Vovô Toi também. Vovó Lili gosta de cores. Igual eu. Eu sei desenhar. Eu quero nadar na banheira do quarto da vovó com o papai. Eu quero. Filha, ontem vovó fez 69 anos. Dia 17, vovô faz 70. É uma data especial, quando gostaríamos que estivesse aqui, presente não só em nossos corações, mentes, lembranças, fotos. Quando penso no tanto que vovô e vovó esperam esse contato, o quanto beijam suas fotos, fazem carinho nelas, me dá pena de quem não entende o quanto isso é importante pra você e sua formação, para a construção de uma identidade mais rica e plural. Sabe filha, tenho muitas graças e muito a agradecer. Sobretudo por você. Mas devo agradecer primeiro a eles, seus avós, nestes dias de comemoração e saudades suas. Porque eles me trouxeram até a

Sapatinho de Cristal

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Olha. Vê. Atenta aos sinais do Tempo, que nos sussurra segredos. Somos-nos nossos, nossamente únicos.  Amarantados, amorecemos. Existe um tipo de ilha que tem mar de amor em volta: chama filha. E queima. Para ela navego perdido, querendo me desencontrar. Sou nau a deriva, nesse há mar vasto e casto. Remo com as mãos, remo com os pés, remo com os dedilhos nos teclados do mundo, em busca da música perfeita. Remo cabelos da menina, encaracolados, enborboletados, Borboleta do Mar. Há espumas que nem sei. De tanto chorar pra dentro, emareei-me. Há mar fora, há mar dentro. Hoje, calmaria, aguardo o meu amigo Vento. Disse-me outros segredos, amigo do Tempo que é:  Três amigos de mãos dadas. O Tempo, o Vento, a Mar. Porque em francês, Mar é palavra feminina, de tanta gestação: peixes, filhos, alimentos, juras, poemas.  Talvez o Vento tenha esposado a Mar. Deles, nasceu o Tempo, que brinca amigo da minha filha, cuidando dela, meu tesouro, pra um dia me entr

Noitinha

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A noite finalmente chegou, sem estrelas. Éramos jovens. Acreditávamos na sorte de quem tem a ingenuidade pela frente. O cursor pulsa possibilidades de palavras tenras. Pulsa procura de palavras densas. Pulsa medo de não haver vernáculo que sustente. Eu tento. E, suspenso, sigo. Há o silêncio ensurdecedor das luzes que piscam atmosfera no breu. Existe encontro possível com os desejos plenos. Na espuma do copo, um pouquinho de solidão. Os antepassados vem à mesa, a procura de abrigo e se deparam com um discurso simples de quem só observa. A não ação zen budista descansa sua cabeça no ombro do ócio criativo, esquenta os pés nas cobertas da preguiça, é convidada para jantar com seu flerte, a aceitação. A resiliência toma a palavra. Não quer ficar fora do protagonismo onírico. Enquanto as estrelas não vem, o zumzum da cidade me fala que ela dorme de olhos bem abertos.