A Rosa Intocável
Entrei no quartinho que fiz pra minha filha e deixei sobre a cama uma rosa pra ela. Ela nunca entrou no quarto dela. Ainda não viu as bonecas em cima da cama, ou as fotos ampliadas sobre o travesseiro. Nem os conjuntos lindos de lençol que estão ali para embalar seus sonhos. Ela não tocou no Horácio pai, sequer encostou no filhotinho dele. Um a cara do outro. O jeito igual de ser diferente. A rosa de Maria deitou na cama da minha filha. Fiz minha prece. Ela vai esperar por ela. Ela. É lá, aonde se é, femininamente pequena, sutilmente menina, docemente me nina enquanto durmo de olhos abertos na minha espera. É como no lindo filme Intocáveis. O sorriso muda o mundo. A palavra encanta e promove a dança. Sou só um observador a chorar sozinho em uma sala escura. Um ninguém de quem nunca vão ouvir falar, um que sonha. Meus sonhos, sim, são mágicos. Meus sonhos, sim, transformam o mundo e fazem florir. Nos meus sonhos, minha filha entra pela porta, me abraça num abraço de urso,