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Haikai do retorno

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Voltamos às palavras. Paradoxalmente, o devir com gosto de saudade.

Deshaikai 1 - a restrição dos sentidos

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Nem eu, nem você, nem nós. Quando silêncio, as palavras ideais. Quanto desejo, atento aos sinais. A esperança nos fez cosquinha e tornou-nus crianças: crentes, ingênuas, amantes. Nada somos, mais nada. Já fomos bem pelados, distintos, somados, subsumidos, subsomados, superunidos. Alados. A grama coça quando se deita de costas.

paduanos

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Se milagres desejais, recorrei a Santo Antônio; Vereis fugir o demônio E as tentações infernais. Recupera-se o perdido rompe-se a dura prisão e no auge do furacão cede o mar embravecido... Responso de Santo Antônio, que de vida, rumo e sonho, faz-se presente pra gente. Que dá luz, reza graça, conduz. Que vigília, mistério, sério, critério. Monastério. Induz. Se fogueira, preto e sonho, se crepita, luz e fogo... neve de cinza que vira natal de menino e lembra que flâmula, bandeira. É verde e vermelho, Seu Dotô. O amarelo sangrou. Ê minha Dinha, sua bênção. Sua reza é forte, né? Queria esse olhar pra mim. Olha pra ela, minha Dinha. E descobre, revela. Já vi máscaras de carnaval. Nunca de São João, Santo Antônio. Será que alguém vai guardar quentão pra mim? Tava quase, o casamento na roça. Quase-quase.

para o céu

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Arco Iris tras un día de inundaciones - diz o jornal embaixo do teclado do meu computador. Não, não é um jornal do dia 12 de junho. É do dia 23 de outubro de 2009, dia dos namorados. O verbo morar, que conjugado em na mora dos faz-se presente, deve ter papel de embrulho. Deve ter laço de fita, deve ter entusiasmo. Sim, entusiasmo, que vem de arrebatamento. Entusiasmo é transar 3 vezes e querer mais. É enrosco de pernas, pele lambida, queixoroxo. Entusiasmo é arrebêtamento, é lágrima que escorre, é riso incontido, são dedos que se entrelaçam. Entusiasmo é exagero do olhar, é fechar o olho pra lembrar, é lembrar de olho aberto olhando para o nada tudo que de nada vale. Entusiasmo é quase entusiasno. Arre bata mento que eu mereço, arrebestamente que me sacrifico. Arrebostamente que tudo acaba. Me acabo de ser poeta, me envocêsiasmo e me perco eu pra não mais me saber nós. Me emaranhado de nós. Arco Iris, flor do céu, que pede perdão pela tempestade louca: a água mata a sede do certo e do

Saudade do passarinho do Caminho

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Ganhei um livro de poesias completas de Manoel de Barros de uma pessoa linda. Minha bela chefe segurava o livro pra mim, enquanto eu pegava nossas malas na chegada do Galeão. Fizemos um evento incrível no Rio de Janeiro no feriado. Quando já tinha o que carregar, veio ela: você já chegou na página 322 ? XII - página 322. Bernardo é quase uma árvore. Silêncio dele é tão alto que os passarinhos ouvem de longe. E vêm pousar em seu ombro. Seu olho renova as tardes. Guarda num velho baú seus instrumentos de trabalho: 1 abridor de amanhecer 1 prego que farfalha 1 encolhedor de rios - e 1 esticador de horizontes. (Bernardo consegue esticar o horizonte usando três fios de teias de aranha. A coisa fica bem esticada.) Bernardo desregula a natureza: Seu olho aumenta o poente. (Pode um homem enriquecer a natureza com a sua incompletude?) O bom de ler poesia é ter a oportunidade de fazer dela sua. Acho que Manoel de Barros me perdoaria a ousadia da apropriação e a de sentir o que senti quando li es

ah

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há uma pressão na alma, falta de ar que suspiro, há fatos há flanelas sujas, decanto, desencanto e sei sobreolhar há um risco infinito na mente, que faz meu vinil da cabeça voltar há passeios pessoas, pessoas passeios, há regresso, há anseios há de haver, há de ser, a de ser, há descer há o verbo encontrar no lamento, do tormento, no meu caminhar há balão azul, ah, balão de oxigênio, não me deixa sem ar! há pro infinitivo, há subjuntivo, e imperfeito, cega o olhar ontem, vi a mar, e nela não há hoje, vi a mar, e nela, turbilhão de desejos de arrebentação sem buscar praia afogam-se os pensamentos, esperança como bolha no fundo do oceano: ninguém sabe ao certo se chega à superfície ninguém sobe ao certo, se chega à superfície... sou São Francisco dos peixes que vivo, molhado, não sei se bebo a água que serve de caminho para os que me cercam.

Queda livre

Ainda machucado, levanta-se ao cair da janela. Limpa o pó, bate a terra, tosse. Inspira. Está vivo. Foi por pouco dessa vez. Muito pouco. Pensou em pular da ponte, mas já estava em queda livre, caindo da janela. Esfola as mãos, o peito, a boca, a bochecha e abaixo do pescoço, onde costumava haver carinho. Inspira. Inspira de novo. Abre os olhos. E não acredita no que vê: está no Caminho de Santiago, sua roupa agora é outra, seu peso agora é outro, sua força, sua bênção. Sabe que suas chagas serão curadas pelos primeiros peregrinos que passarem. Com cuidado, com zelo, com cuidado. Reflete amor. E acredita. E sabe. O perdão passa por ali, oferecendo ajuda. Aceita. E a dor vai embora no lombo vasto e tranquilo do perdão. Começa a ouvir: e descobre atônito que é vida, pura e simples e sente saudades das coisas boas. Tudo levou até ali. Levou tudo até ali. Lavou tudo até ali e sorri. E decide Caminhar, para ver conjugado o verbo amar.