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Mostrando postagens com o rótulo #desafio

Estátua

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– Raio congelante! E meu coração se aquece. Eis o mistério da fé. Coitada da Elsa. Mal sabe ela que pode congelar e ao mesmo tempo aquecer o coração de quem se ama. Minha filha adquiriu essa habilidade. Zap ! E pronto. Viro estátua. O Tempo ali não resiste. Kairoz toma conta de tudo. O mundo automaticamente entra em modo Stand By . Os passarinhos param no ar, o lixeiro para no ar, a bigorna para no ar, a fonte congela na foto. Para, Tempo! Por favor, não me deixe ir embora! Faça alguma coisa! Que vontade que nunca mais ela me fizesse a cosquinha ou o Boo-libertador ... Não coloco bateria nos meus relógios. É minha forma de protesto. E Beatriz a dizer ao Tempo que nos dê uma folga, que é preciso que ele não passe, pra ficarmos ali, sempreando, juntos, sorrindo, ou melhor, risando – como ela gosta de dizer. – Papai tá risando!, admira ela. E ri entusiasmo. Quando Deus dentro, paraíso fora. Elo. Daí ela pega a estátua, não importa o lugar que esteja, e começa a moldá-la. Mãos, pernas, b

Telescópio

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Minha irmã, Gabriela, me fez um carinho difícil de colocar em palavras. Tento. Minha filha mora há 2.222km da minha casa. Lá, foi onde passou o dia dos pais. Gabriela pediu à mãe dela que gravasse: fala pra tia Biba o que você quer que ela compre pro papai de presente de dia dos pais. – Tia Biba, eu quero que você compre um telescópio pra papai! Disse ela, com apenas três anos e meio. Me espanto. Esse pedido é cheio de proximidade. Esse pedido é cheio de referências muito minhas que talvez ninguém ainda saiba. Quando eu tinha cerca de 10 anos de idade, Beto Bomfim, meu amigão – amigo do meu pai que me adotou como uma espécie de afilhado – me deu de presente uns binóculos. E isso marcou pra sempre a minha infância. Me marcou porque não pedi isso a ele. Me marcou porque, já naquela idade, intuí todo o simbolismo referente a um presente como esse... Me marcou porque foi meu amigo querido que morreu ferido com carvão em brasa pela palavra sexo, pela palavra

Pare, olhe, escute

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Encontrei essa foto compartilhada pelo querido amigo meu e das letras e dos sonhos, Fernando Fabbrini. Ela veio a calhar. Na verdade, encaixou como dedo no nariz. Estou farto. E não é de comida. Os Titãs é que estavam certos. A gente não quer só comida. Ouvi a discussão de um casal e isso me deixou intrigado.  Ela: – Porque eu sei que você já teve um relacionamento com A, B e C. Eu pesquisei (no google, claro) e descobri que fulana, beltrana e cicrana blablablá, ticotico, nheconheco.  Aliás, acho que ela falava mais do nheconheco. Ele: – (       ). Fiquei pensando: sou antigo. Eu era do tempo em que essa pesquisa era feita no tête-à-tête, na pergunta e resposta, no olho no olho. A verdade era verificada na palavra. Mas não na palavra escrita na tela do computador por sei-lá-quem. Porque o olho no olho importava mais. Porque o olho no olho tinha mais valor. Talvez você já tenha presenciado a seguinte situação: uma pessoa quer lembrar algum nome em uma mesa d

Sagarana

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Na Revista Sagarana deste mês, você confere uma matéria sobre um ano da minha peregrinação que uniu o Caminho de São Francisco de Assis ao Caminho de Santiago. Saindo do Vaticano, percorri mais de 2.500km rumo a Santiago de Compostela cruzando 3 países por três longos meses.  Agradecimentos a Cezar Félix, editor da Revista Sagarana, Rachel Murta e Élida Murta, revisoras talentosas, aos hospitaleiros Acácio e Orietta e a todos que fizeram parte dessa cruzada. Em breve, notícias sobre o livro que será lançado. Bom Caminho!

Dica de Mochila

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foto: Ana Carrapicho Dia 30 de junho, segunda-feira, faz um ano, exatamente, que cheguei a Santiago de Compostela depois de minha peregrinação de mais de 2.500km a pé. É preciso me ditar sobre isso. E é o que farei nos próximos dias, até o dia 01 de julho, dia do meu aniversério. Sério mesmo. Curiosamente, pra quem não está habituado com as coisas relativas ao Caminho, recebi um convite do César Félix, editor da deliciosa Revista Sagarana para fazer um artigo sobre a minha peregrinação. E adivinhe que dia a revista fica pronta e sai para as bancas? Sim, dia 30 de junho... Eu poderia postar alguma foto aqui sobre o Caminho, dizer algo sobre minha peregrinação, sobre a minha odisséia pessoal, mas está sendo redigido no tempo certo, no tempo do passo, letra a letra, até completar os dois mil e quinhentos tantos de palavras, de parágrafos, de capítulos ou do que quer que seja... Porque o Caminho é assim. Decidi, portanto, postar essa foto, tirada neste final de semana, com meus

Setenta anos

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Devo falar sobre escolhas. Escolho falar do pai? Escolho falar do avô? Falar sobre o pai da gente é sempre delicado. Vovô Toi pra minha filha, amigo pra maioria. Pai, pra mim. Posso falar do Seu Nestor, que dá aula de música para os filhos dos caseiros da região de macacos. Posso falar do Nestor Sant’Anna, profissional de comunicação, chefe de cerimonial de mais de um governo, do secretário de ministro, do presidente do Palácio das Artes ou da Rádio Inconfidência, do gerente de relações institucionais da Fiat do Brasil ou do chefe de comunicação da Acesita, da MBR, do profissional que cuida da comunicação da Vallée há mais de 20 anos ou do conselheiro da Secretaria Estadual de Cultura. Posso falar do ex-presidente do Kairoz, entidade filantrópica de São Sebastião das Águas Claras. E posso falar do músico. Do pianista. Do acordeonista. Do que defende o músico mineiro. Do que ama a música acima de tudo, do que deu oportunidade para tanta tanta tanta gente. Pra gent

Para vovô Toi e vovó Lili

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Ei vovô Toi, ei vovó Lili, é Beatiz. Eu num sei falá direito. Eu tenho têis. Papai falô que eu dei uma rôpa de cama pa cama nova. Eu gosto de durmi. Eu quero durmi na cama nova do vovô Toi e da vovó Lili. Eu gosto de música. Vovô Toi também. Vovó Lili gosta de cores. Igual eu. Eu sei desenhar. Eu quero nadar na banheira do quarto da vovó com o papai. Eu quero. Filha, ontem vovó fez 69 anos. Dia 17, vovô faz 70. É uma data especial, quando gostaríamos que estivesse aqui, presente não só em nossos corações, mentes, lembranças, fotos. Quando penso no tanto que vovô e vovó esperam esse contato, o quanto beijam suas fotos, fazem carinho nelas, me dá pena de quem não entende o quanto isso é importante pra você e sua formação, para a construção de uma identidade mais rica e plural. Sabe filha, tenho muitas graças e muito a agradecer. Sobretudo por você. Mas devo agradecer primeiro a eles, seus avós, nestes dias de comemoração e saudades suas. Porque eles me trouxeram até a

Sapatinho de Cristal

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Olha. Vê. Atenta aos sinais do Tempo, que nos sussurra segredos. Somos-nos nossos, nossamente únicos.  Amarantados, amorecemos. Existe um tipo de ilha que tem mar de amor em volta: chama filha. E queima. Para ela navego perdido, querendo me desencontrar. Sou nau a deriva, nesse há mar vasto e casto. Remo com as mãos, remo com os pés, remo com os dedilhos nos teclados do mundo, em busca da música perfeita. Remo cabelos da menina, encaracolados, enborboletados, Borboleta do Mar. Há espumas que nem sei. De tanto chorar pra dentro, emareei-me. Há mar fora, há mar dentro. Hoje, calmaria, aguardo o meu amigo Vento. Disse-me outros segredos, amigo do Tempo que é:  Três amigos de mãos dadas. O Tempo, o Vento, a Mar. Porque em francês, Mar é palavra feminina, de tanta gestação: peixes, filhos, alimentos, juras, poemas.  Talvez o Vento tenha esposado a Mar. Deles, nasceu o Tempo, que brinca amigo da minha filha, cuidando dela, meu tesouro, pra um dia me entr

FroZen

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Escala o himalaia de seu ego em busca do Nada. Sabe, não está lá. Mas empreende com forças e energias colossais, em ato contínuo, como se a resposta viesse no mantra movimento, na crença da revelação. Ela sabe que suas escolhas congelam o mundo. Mas não se lembra que qualquer escolha deve ser seguida pelo coração. Se ele não indica o caminho, ele deve ao menos compartilha-lo. Não se manda o coração seguir uma via e vai por outra, na esperança de encontra-lo lá na frente. É preciso lembrar que as retas paralelas se encontram no infinito. E o infinito é o sempre. O momento agora, imutável na lembrança, o momento agora imutável da lembrança. Toda lembrança é forma de perpetuação do tempo. O tempo hoje, gelo quente, que pode queimar sem deixar cicatrizes. Isolar-se não muda o curso das águas. Fugir não torna qualquer realidade mais quente. É preciso aprender a patinar no gelo e descobrir que todo amor vale a pena. Quando é real. Quando é vivido em abraço, com corações alinhados

À margem da vida

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É fácil reclamar da vida. É fácil colocar a reclamação como moeda de troca. Um dia, disse ao meu psiquiatra e analista que a imagem que eu tinha era a minha, em pleno inverno rigoroso, no meio de um lago de gelo que não conhecia. Me faltava um corrimão. Demorei 35 anos para compreender que é possível patinar e sentir a brisa: o carinho que o Vento faz na gente quando é decidido ir ao Seu encontro, quando é decisivo ir ao seu encontro.  Aprendi que quanto mais duro o gelo, mais deslizam os patins. Quanto mais duro o gelo, mais reflexo ele dá. Mais posso me ver. Quando patino, sei que estou em queda livre, como os aviões em parábolas perfeitas. Eternamente controlando a queda, pesados que são, até seu pouso majestoso e improvável. Para pousar, foi primeiro preciso acreditar. Ouso patinar.  Reclamar é jogar a culpa pra plateia, na espera de que o julgamento não venha, inseguros que somos. Acontece que a limitação está em quem é julgado na mesma medida de quem jul

eu tinha muito a dizer

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Hoje, tentei, sem sucesso, falar com minha filha.  Ela não quis falar comigo.  Dizem que criança aprende com o exemplo.  Só estudei um semestre de lógica no curso de Filosofia.  Vai aí o que eu gostaria de lhe dizer hoje, Beatriz: Filha,  quando você tiver quarenta anos, quais serão suas questões? Será que você já vai ter filhos? Será que terá constituído família? Será que família ainda será uma instituição como nos dias de hoje? Será que a valorização da família vai ser novamente importante? Ou será que não, que não existirá mais tal coisa, será que também a igreja, a crença, a fé, as virtudes terão mudado a tal ponto que não daremos mais valor aos pais, aos filhos, aos irmãos? Será que o conceito de humanidade vai sobrepor o conceito da família, tornando-nos todos partícipes da raça humana de uma maneira fraterna e igualitária? Ou será que nem este conceito será de possível apreensão, dado o caminho que percorremos hoje, quando o individualismo e o consumismo tomam

Dedentropradentro

Na tela, o cursor pisca esperando a escolha da primeira letra, da primeira palavra, da primeira frase. Do tema, do assunto, do tom. Da construção semântica que dê sentido à próxima meia hora da vida. Nada que será lido por muitos, nada que fará sentido à existência outra que não minha, um lamento, um coro, um grito, um chute no balde, uma pista. As palavras silenciam a beleza do nada. Escrevo o que acredito, dou nó na minha expectativa, repenso um, outro, relembro delas. As faço renascer e mato-as em sequência. Lembranças. Guardadas em caixas no sótão da mente, onde tábuas rangem a cada passo. Meu medo é que não aguentem o peso. E que o estalar da madeira termine nas tábuas partidas, e eu venha a cair na luz do vazio que lambe as gretas da passarela onde ando. Onde ando. Nhec. Onde ando. Nhec. ... Odiando, nheeeeeeeec. Crack. O-ou! AH AH AH AH AH ah ah ah ah

Sobre fidelidade, verdade e hábito.

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Acho que André Compte-Sponville foi extremamente sábio ao digerir: " A fidelidade é a virtude do mesmo, pela qual o mesmo existe ou resiste. " Na verdade, resumiu com maestria o que está em Montaigne et la philosophie: " O fundamento de meu ser e de minha identidade é puramente moral: ele está na fidelidade à fé que jurei a mim mesmo. Não sou realmente o mesmo de ontem; sou o mesmo unicamente porque eu me confesso o mesmo, porque assumo um certo passado como sendo meu, e porque pretendo, no futuro, reconhecer meu compromisso presente como sempre meu ." Fato é, que fiel é uma palavra muito próxima de fel. A letra i, de indivíduo, é o que faz toda a diferença. Assim, o conceito genérico depende do indivíduo para se fazer tangenciável, possível, real. É como o conceito de verdade. Por mais lindo que seja, independente das inúmeras tentativas de se chegar a um enunciado que abarque mais completamente eou sucintamente esta magistral abstração, verdade, como a

A Rainha e o Cavaleiro.

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Cavaleiro Templário contemporâneo ainda ajoelha diante de sua Queen. Uma de dois anos de idade. Ela, filha, o abençoa em sua jornada. Odisséia pessoal universal única, se é que isso é possível, sai seu fiel cavaleiro andante pelas linhas tortas de seu destino, rumo ao nada. A ideia primeira, era andar de Belo Horizonte a Recife, ou seja, a distância de 2.222km entre sua casa e a casa onde mora sua filha, pra mostrar que "Pai é só uma seta amarela". Pai é exemplo, e só. Nesse caso, o exemplo de paz. Em busca das virtudes perdidas do Bem, do Bom e do Belo, alvos tangenciados tantas vezes e dificilmente alcançados. Não foi fácil, posso dizer. Fui eu. Foram 88 dias de caminhada, 14kg que se foram pra sempre, deixados, escorridos por cada uma das gotas de suor. Bagagem extra desnecessária na vida da gente. Acho que vou lançar um Best Seller: "Emagreça 14kg em 88 dias". O mais difícil é só a caminhada do Vaticano a Santiago de Compostela. Os detalhes são fáceis.