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Mostrando postagens com o rótulo #caminho

Vale tudo

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Estou destituído. Estou detonado. Estou possuído, arrasado, subvertido, arruinado, falido, afundado. Enlameado. Não quero mais o mármore branco com veios champagne, não quero mais a cozinha gourmet associada a la joie de vivre, o vinho caro e o untuoso opulento foie gras. Nem tinto vinho. Vem. Preciso me lavar primeiro. Estou sujo de barro. Como vou poder entrar em casa e limpar meus pés no tapete persa? Como vou me deitar na cama de roupa de cama de linho egípcio 3.000 fios comprada na Trusseau? Como vou abrir os armários para pegar as vasilhas Le Creuset para fazer o almoço? Eu pingo lama. Nas minhas veias correm um barro sujo imundo, de minério, sangue ferroso que um dia me orgulhou. São minas, mas não são gerais. É pra poucos. É para o governante que não se compadece, e tem dozinha de empresa que nem imaginava que isso podia acontecer... É para o que não teve seu filho desaparecido, não teve seu pai afundado, atolado, esmagado, espremido, afogado, sem

Sóis

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Vivo na ausência. Escuto mais do que falo, calo porque silencio, calo porque silêncio. É que dói. Pressência. Vive no sentimento. vive nu sem ti: minta. Mate. Arde. Devore. Devo. Ore. Faça o que fizer, anuncie. Anule o que anelar. Sois o segredo do analema. Dilema: Moro no silêncio escondido em cada palavra. Nas ditas, não ditas, malditas.

Sapoti

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O sapoti é uma fruta difícil de definir. Carnuda, do tamanho de uma laranja pequena, tem uma coloração, cor e sabor muito característicos. Minha amiga da França me perguntou como é. Eu pelejei pra definir e fiquei dias pensando com o que se parecia, para que ela tivesse uma ideia aproximada do que é um sapoti. Curioso. Fazendo mestrado em Tradução, isso faz todo o sentido pra mim. Não há como traduzir o sapoti. Como bem disse Rubem Alves a respeito de um poema, “o poema é como uma árvore. A gente não explica uma árvore. A gente se deita à sua sombra”. Pois bem. A gente não explica o sapoti. A gente parte ele no meio e come. E, se for esperto, planta as quatro sementes. Foi isso que eu fiz com o primeiro sapoti que minha filha me deu, do quintal dela, onde ela mora, em Recife. Marrom por fora, marrom por dentro. Por dentro, um pouco mais claro. Por fora, mais próximo à cor de terra, mas não terra negra, nem terra vermelha. Terra marrom. O sapoti tem como casca, um couro. Parece um cou

O Templo do Outro

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Vou montar uma igreja. Seu nome vai ser Templo do Outro. Primeiro vou comprar um lote, construir um anfiteatro de cimento, octogonal, com oito níveis de degraus, com oito pilares em cada um dos seus vértices, coberto de piaçava. Este lote não vai ter muros. Este anfiteatro não vai ter paredes. Entra-se por qualquer um dos oito lados, sai-se da mesma forma, por qualquer um deles. No centro, no nível mais baixo, um altar. Que não terá esse nome porque, conforme a etimologia da palavra, não vai ficar no lugar mais alto. Vai ser no mais baixo, símbolo da humildade humana. Podemos chamá-lo, portanto, de Coração. Na entrada (ou saída) norte, vamos escrever e inscrever, ainda com o cimento molhado, a letra Z significando Zehut, Retidão. Nosso norte vai ser a Retidão. No oeste, onde o sol se põe, colocaremos a letra M, significando Mehilá, o Perdão. Em seu lado oposto, no leste, onde o sol levanta, colocaremos a letra B, significando Beraca, ou seja, Bênção. E ao sul, colocaremos a letra H,

O Amor depois dos 35.

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O cursor pula na tela. Como escrever? O que dizer sobre o Amor escolha? És. Colha. Já usei muito essa poesia semântica. Aliás, quando eu morrer, talvez façam uma notinha de jornal com esta epígrafe: “morre um dos criadores da poesia semântica”. Sim, quando a gente passa dos 35, começa a pensar na morte. Porque de alguma forma, você já se deu conta que “...podia ter subido mais montanhas...” ah, sei lá. Não vou ficar aqui citando poema dos outros, porque isso não leva a lugar algum. Depois dos 35 começa a pensar na morte e a vida vira um tesão. Fazer 35 não é brinquedo não. Quanto mais quando você descobre que você espirra e tá com 42. E ainda fingindo ter 35. Ou querendo ter... Com trinta e cinco você se lembra de uma cacetada de filósofo foda que com 35 já tinha resolvido a vida e inscrito seu nome no tempo do sempre. Com 35 você pensa que Jesus viveu só 33 e você já tá no lucro, e ninguém vai se lembrar de você daqui 200 anos, quanto mais daqui 2015. Daí, você me

Para quem tem prateleiras.

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Essa é mais uma tentativa de fazer alguma diferença na vida de alguém. Hoje cedo, recebi de um amigo (dos mais antigos que tenho) um comentário irônico sobre o 4 a 0 do Santos no Clube Atlético Mineiro, time que torço, time que foi presidido por meu avô, o delegado de polícia Hélio Soares de Moura, na época que o Kafunga jogava. Fiquei curioso: o Cruzeiro teria ganhado de quanto, para que meu amigo viesse me sacanear? Não, ele empatou em casa, com o lanterna do campeonato brasileiro. O que quer dizer: o prazer do meu amigo - e digo amigo porque sei que ele é - era simplesmente com a minha “desgraça”.  Podemos analisar de um modo simples, como atitude corriqueira e sem nenhum fundamento. Acontece que quando deixamos essas coisas passarem e viram coisas corriqueiras, simples, estamos fazendo a nossa parte para que se perpetue a condição que queremos mudar, acredito. Não acho que o brasileiro é filho da puta por natureza. Não acho que a malandragem tá no sangue

Quero Despedir

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*Na foto, o "Portal Grande Sertão" do artista plástico Léo Santana. Bem disse Guimarães Rosa: “Despedir dá febre”. Pois bem, eu quero a febre. Quero despedir. Quero o não querer, quero o que vier, quero a natureza plena, toda, simples. Quero a mais pura verdade. Não quero pedir nada, quero despedir. Despido de desejo, despeço. Pedido cobrança, pedido lembrança, pedido ciúme. Pedido questão, pedido perdão, pedido súplica. O pedido é o perdido que quer se encontrar. Mas não. Despeço, despido, despedido. Nu que não aguarda roupa. Sem emprego que não espera trabalho. Quem parte. Quem despede pode partir em paz. Partir sem pedir é a liberdade total. Amigo meu tem um caso de amor com Londres. Ele está na porta do prédio e joga uma moeda. Cara, esquerda. Coroa, direita. Assim ele vai, se perdendo, perdido, encontrando a inusitada presença do desconhecido, do não desejo, do que pode surpreender efetivamente. Quando não expectativa, o novo real se apresenta.

Ponto

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cursor pula na tela que palavra escrever? nenhuma cabe todas escorrem no papel eletrônico cabe nenhuma nada vazio inunda a gente como no conto de luz do Garcia Marquez não invento a roda vou barulhinho de aro tec tec tec tec limpa o líxico barulhinho polifônico trago em meu silêncio límbico lâmbido os méis soníferos doces viagens despertam sonhos cá estou cavou não tem pressa de voltar Deu-se estrada infinita fé se frases crensentença têxticamente Folha Branca envolve tudos

Hosana

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Moro no arqueio das sobrancelhas de Beatriz. Vivo sua explicação da vida, sinto sua admiração compreensão duvidosa da existência, seivas suas simples verdades: “sou diferente, papai”. É sim, filha. Come mesmo a salsicha do cachorro quente antes. Deixa o pão pra comer depois. A gente bobo é que faz tudo junto, bobamente esperdiçamos o Tesouro de Kairóz comendo tudo junto, barulho que acorda Chronos, matalmente. Isso, sim, é desperdício do ócio do amor, é querer que a planta cresça logo, sem respeitar o Vento, a Chuva, o Sol. A natureza das coisas franze a testa de Beatriz. Eu, riacho de mim. Enquanto a chuva chove águas líquidas e molhadas na superfície aculturada de Recife, olho. Molho. Observo. Escorro me todo em poças pra Beatriz pular de alegria, espalhando águas e afetos, botas de borracha, gritinhos entusiasmados de aventureira menina. Me nina na rede. Me em todos os cantos, canta, cantilena sutil. É ave, é Maria, passarinha. Hosana, filha. Sou tão pequeno, sou só um acorde na m

Pegadinha do Faustão

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Parece pegadinha, tal é o absurdo que foge à lógica da compreensão. Mas não pode ser considerado nem piada de péssimo gosto: o adesivo criado que coloca a Dilma de perna aberta no reservatório de combustível dos carros é triste retrato da violência que desintegra nosso país deixando nódoas difíceis de serem apagadas. Não tenho vergonha alheia. Tenho vergonha, eu mesmo, por mim mesmo, de fazer parte de um país que chega a esse ponto. Não consigo acreditar que isso seja manobra nem da oposição, nem de uma atitude guerrilheira perversa do partido da situação, que tenha como estratégia a disseminação do ódio e de uma ideia dicotômica de país, de partidos, de bem e de mal. Estamos mal. Todos. A indignação deveria ser geral. E, evidentemente, não só por isso. É claro que isso fere as mulheres. Mas nós, homens de bem, que tivemos oportunidade de educação e cultura, igualmente nos indignamos. Ou deveríamos.  Estupra-se o ser humano.  Não só a Dilma, o cargo que ela ocupa ou a

Para Fernando, Nestor, Manoel e Beatriz.

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Em setembro de 1990, depois de nove meses de intensa preparação, 20 músicos, atores, dançarinos, bailarinos, cantores, instrumentistas subiam no palco do Teatro do SESI para a estreia do musical Manoel, o audaz. Com direção geral de Nestor Sant’Anna - meu pai, que hoje completa 71 anos - e roteiro de um de seus parceiros de sonhos e ideais, Fernando Brant. Dois grandes pensadores e agitadores culturais, Nestor Sant’Anna e Fernando Brant passaram a vida sendo vozes de um mundo que eu ainda não conheci. Um mundo onde a cidadania, a honra, a verdade, a justiça são Valores inabaláveis. A fala dos dois, que vem desse mundo sonhado por eles e por tantos parceiros que comeram juntos a poeira da estrada por onde passou o jipe Manoel, ecoa em meu coração até hoje, e é o discurso que, quero crer, minha filha de 4 anos vai ouvir de mim e vai pronunciar de seu jeito aonde o povo está. Fernando embarcou em definitivo no Manoel, o audaz. Todos nós embarcaremos. Em meus sonhos mais íntimos

Desligue o seu celular e sapeque enquanto é tempo

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A música desse texto foi escolhida em homenagem a Fernando Brant, Viajante do Manoel, o audaz, que partiu essa semana para fazer poeira em outras estradas, nas estrelas do sempre. *** Se você tem menos de 35 anos, por favor, não leia este texto. Depois não diga que não avisei. “O sonho acabou. Quem não dormiu no sleepin- bag nem sequer sonhou”, como diria Gilberto Gil.  Digo isso porque sapecar é maravilhoso. Digo isso porque trepar (me desculpem os pudicos) revigora. Digo isso porque fazer safadezas sexuais livremente com consentimento do seu parceiro é contundente e transformador. Desliguem a CENSURADO do celular. Sexe-se.  Não, não errei o substantivo, não errei o adjetivo. Verbeio a existência do agir, imploro a substantivação do ser sexual, pelemente falando, líquidamente existindo, cabelamente puxando, suormente apertando. Pause-se. Respira, vai.  Começa de novo. E depois para. Porque isso é bom, mas termina aí. A música dos anos setent

Caixa de Lápis de Cor.

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Para ler o texto, inicie a música em respeito à minha mãe, por gentileza. – Filha, vamos combinar o seguinte: papai vai comprar um presente pra gente dar pra vovó Lili. Eu compro o presente e você faz um lindo cartão pra ela, que tal? – Quantos anos ela tá fazendo? – 70. – Só? – Só. E aí, o que é que eu compro? – Uma boneca! Toda menina adoooooora boneca! Claro que eu comprei. Pra minha menina mãe vovó. Sabe? É muito difícil escrever sobre ou para minha mãe. Quase uma unanimidade familiar, minha mãe é uma mistura de Madre Teresa de Calcutá com Coelhinho da Páscoa. Um cruzamento de fada-madrinha com Robin Hood. Da noite, o travesseiro. Do dia, a nesga de sol. Se o amor fosse uma árvore, minha mãe seria a clorofila. A Mega Sena acumulada do meu pai. Já pelejei pra defini-la um bocado de vezes e a minha melhor definição dela foi: minha mãe é uma caixa de lápis de cor. Não dá pra falar dela sem falar de gratidão. Não dá pra falar dela sem falar de fé. É impos

Bom dia.

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– Você é mais bonito quando acorda. Não sei se foi uma frase de efeito. Mas resolvi passar a vida acordando.

Ontem e hoje, nossos caminhos.

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Ontem fui ao coquetel de lançamento da exposição de fotografias do meu irmão mais velho, Daniel Mansur, com a curadoria especialíssima da bela Marcela Bartolomeo.  Ontem, eu entrava em seu estúdio pela primeira vez, época de faculdade, e redescobria o olhar. Tive muitos mestres em minha vida. Daniel Mansur foi um dos primeiros e mais marcantes. Sábio como poucos, me mostrou a importância da observação. A pesquisa escondida no olhar. A pergunta que se esconde no ver e a resposta que se revela no enxergar. WuWei. Revelei sentidos, muitos, em seus ensinamentos de vida e de trabalho, de ética e de dedicação, de crença na imagem: na que está dentro e fora da câmera. Na nossa, na do outro, na que produzimos com o mundo que se desvela à nossa volta. Meu primeiro "chefe". Meu primeiro tutor. Quem primeiro me falou sobre estética e a filosofia do Belo. Suas lições fundamentais sobre equilíbrio. Meu ponto de fuga nunca mais foi o mesmo. Ontem, quando recebi o

Passador

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Entro no quarto de Beatriz e lá está ele. Ao lado do porquinho de moedas que junto pra ela todos os dias. Um passador, esquecido em sua passagem por aqui. Ele me fala que ela esteve aqui. Ele me fala de seus lindos cabelos desgrenhados de criança. Ele me fala de seus cabelos cuidadosamente arrumados para ir ao ballet. Ele me fala de seu sorriso. Ele me fala de seus gritinhos infantis e de suas sobrancelhas arqueadas ao me perguntar inocências. Ele me fala do Tempo, da pergunta quando ela estará aqui, da resposta da Saudade e do abraço vazio que dou em seu quarto, toda vez que entro nele. Deixado displicentemente no que pode ser considerado uma cômoda, o passador de minha filha. O passador de minha filha. A diarista já quis guardá-lo, um cem número de vezes. Ela guarda, eu volto com ele para o lugar do esquecimento. Eu volto com ele para o lugar da lembrança. Eu volto com ele para o lugar do como se fosse ontem. Ele me lembra que ela esteve aqui. E o jeito como foi deix

Perdão Pascal

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Meu ovo de páscoa é de torresmo de barriga. Com recheio de Heineken. Que eu saiba, é só uma pessoa que vende ali no Padre Eustáquio e ele não é barato. Acredito que isso se deva ao mercado consumidor que é, de certo modo, restrito. Talvez por falta de conhecimento. Além do quê, imagino que a possibilidade da escolha da cerveja seja, no fundo, um empecilho à parte, que, segundo o rapaz que faz as encomendas, “isso defeculteia e muitcho”. Imagino que usar o verbo “defecultar” na mesma frase que “ovo de páscoa” é mesmo coisa defécil. Torresmo não é a felicidade em si. Mas é o que mais se aproxima no que se refere a excessos possíveis, tirando o sexo. No entanto, talvez não seja prudente relacionar o sexo à Páscoa, por mais puro que possa ser. Por mais que se trate de morte e ressurreição no ato em si, e de vida e crescimento pós ato, em alguns casos conceptivos. Já o sexo em si não é excesso. Mas em excesso, quando bem feito, ainda representa a felicidade possível. Uma espécie de Pásc

Sirimim

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foto: Ana Guimarães San Bol.  Deus entrou pela janela do banheiro de madrugada.  O vento dizia Om e o Vazio entrou despreenchendo tudo.  Foi-se tudo.  Foice tudo. Banhei-me nas águas milagrosas de San Bol.  Eu caranguejo, sirimim. Ontem, massageio seus pés cansados de tanto Caminho em meditação. Descubro que eles estavam dentro d'água, banheira do amor. A banheira é de pedra, a água turmalina.  Vitrifique-se. O perdão clarifica o espírito, o amor ilumina a alma, a paz cristaliza o equilíbrio. Tornamo-nos um com o Caminho e o Vento.  Óh! Trigonal une verso! Há mar na banheira mágica de San Bol. E o Vento continua passeando na copa das árvores, mesmo quando não vejo. A Ave Maria na Banheira de San Bol me banhou o espírito, a fé e o Caminho. Sou grato a Peregrina Ana Guimarães.

Estátua

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– Raio congelante! E meu coração se aquece. Eis o mistério da fé. Coitada da Elsa. Mal sabe ela que pode congelar e ao mesmo tempo aquecer o coração de quem se ama. Minha filha adquiriu essa habilidade. Zap ! E pronto. Viro estátua. O Tempo ali não resiste. Kairoz toma conta de tudo. O mundo automaticamente entra em modo Stand By . Os passarinhos param no ar, o lixeiro para no ar, a bigorna para no ar, a fonte congela na foto. Para, Tempo! Por favor, não me deixe ir embora! Faça alguma coisa! Que vontade que nunca mais ela me fizesse a cosquinha ou o Boo-libertador ... Não coloco bateria nos meus relógios. É minha forma de protesto. E Beatriz a dizer ao Tempo que nos dê uma folga, que é preciso que ele não passe, pra ficarmos ali, sempreando, juntos, sorrindo, ou melhor, risando – como ela gosta de dizer. – Papai tá risando!, admira ela. E ri entusiasmo. Quando Deus dentro, paraíso fora. Elo. Daí ela pega a estátua, não importa o lugar que esteja, e começa a moldá-la. Mãos, pernas, b

Para Vó Fide

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Na foto Tia Yara - que fez ontem 90 anos "do joelho pra baixo", diz ela. Como se fosse hoje: a minha única lembrança de Vó Fide. Na varanda da casa da Rua Padre Virgulino, já com a entrada da casa pelo lado esquerdo, Vó Fide pegando um Papai Noel de chocolate no vaso de planta que servia de árvore de Natal pra me dar. De vovô eu me lembro muito mais. Mas de Vó Fide eu só tenho essa lembrança, desse dia, bem vívida em minha memória. E consigo sentir saudades. Muitas.  Outro dia, uma amiga me disse: “se houver saudades, quer dizer que houve amor”. Acho que ela tem razão. A única lembrança da minha amada Vó Fide eu passei meus 41 anos recheando com pedacinhos de amor que fui colecionando da saudade dos relatos sobre minha avó.  “–Bê-Bê-rê-Bê-Bê-de-vo-vó!”, ela dizia. E eu retrucava: “– De mamãe!” Gosto de pensar na alegoria da vida eterna como algo perfeitamente palpável por nós, hoje, em vida. Em cada filho, em cada neto, em cada descendente de Vó Fide