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Sobre dividir e compartilhar

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Existe uma diferença muito grande entre COMPARTILHAR e DIVIDIR. Suponhamos que uma pessoa tenha 4 laranjas. E ela seja obrigada por lei a compartilhar. Talvez essa pessoa não saiba, mas dividir não é o mesmo que compartilhar. Ela pode pensar: bem, vou dar uma laranja e ficar com três, eu acho que as laranjas são minhas mesmo... No meu modo de ver, ela está errada. Daí, ela pode pensar: bem, vou dar duas laranjas e ficar com duas. Acho que assim vou ser mais justa. Talvez a justiça, que a obrigou a compartilhar, ache que ela está certa.  Mas, no meu modo de ver, ela ainda está errada. Daí, ela pode pensar: bem vou dar 3 laranjas e ficar com uma. Ninguém vai ter mais nada o que falar. Talvez a mesma justiça acabe achando injusto, e pedindo que ela volte e dê apenas 2 laranjas. Ainda vou achar que ela está errada. Sabe por quê? Por um princípio simples. Compartilhar não é dar duas laranjas e ficar com duas. Ou, pior ainda, dar uma e ficar com três. Comparti

Para não ser lido.

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Às vezes, penso que não escrevo mais porque finalmente tenho algo a dizer. Tenho colecionado silêncios. Estou, somando, no quinto ano de piano. Minha filha, no quinto ano de escola (ela começou no berçário aos oito meses. E tem cinco anos e oito meses. Noto que nosso processo de alfabetização começa agora. Ano que vem, acredito, é quando ela vai começar a ser alfabetizada. Por curiosidade e disposição pessoais, ela tem começado a juntar letras, se apoiando em vogais e em algumas consoantes, como a letra B, de Beatriz, M de Marcelo, V de Vicente e R de Raquel. Muletas semânticas. Eu tenho me apoiado no dó do meio do piano, pelo desenho característico na partitura, no mi, pela posição fácil de ver, no dó da oitava de cima, pelo posicionamento fácil de identificar na clave de sol, pelo fá da clave de fá, pelo sol da clave de sol. Muletas românticas. Ainda não leio palavrinhas sem pensar nas letrinhas. As palavras da música ainda não saltam na minha frente, como um dia saltaram

Onde está o Uber da segurança pública?

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Ontem, caminhando na rua de cima da minha casa, me deparei com uma mulher assustada que vinha em minha direção: – Moço, moço, não vai pra lá não, que um rapaz acabou de ameaçar uma mulher ali daquele prédio com uma faca enorme! Na mesma hora liguei pra polícia militar. O que se seguiu foi uma conversa pautada num protocolo que se explica, mas não se justifica. Apenas um exemplo:  – O senhor pode me dizer aonde foi? – Claro, eu estou na rua Rafael Magalhães em frente ao número 71, no bairro Santo Antônio. – O senhor pode me dar uma referência? Pensei comigo: A senhora já ouviu falar em google maps? E disse que não podia, porque não tinha nem um comércio que fosse referência ali. Ok, imagino que uma quantidade enorme dessas chamadas sejam originadas em vilas, "favelas", regiões de periferia que sequer tem um nome de rua e um número confiável... Mas o protocolo que explica a atitude da atendente que gritou comigo - sim, gritou; podemos pedir a gra

São Tomé

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Sonhei que comprei uma casa nova no caminho, ao lado de um Córrego. Quando chovia na cabeceira, o Córrego entrava e inundava todo o primeiro andar. Tudo o que guardei em minha lembrança ficava então debaixo d'água. E eu podia ser feliz novamente. Tentei tirar caixas de violino da água, botá-las pra secar. Violões, um piano, a barra de uma túnica muito minha, sagrada e branca, que estava em um cabide. Mas a água cristalina vinha e banhava o chão da sala da minha casa deixando tudo cristalino e limpo e lindo e líquido. Pedra. São Tomé. E, de repente, você voltou. E pude finalmente lhe mostrar o primeiro andar submerso onde eu entulhava as coisas todas. Terceira margem. Eu quis desviar o curso do córrego, você não deixou, e Ele, água, começou a banhar nossas vidas. Foi a partir desse dia que começamos a viver sempre descalços, só no segundo andar, com a água fresquinha envolvendo os pés que já caminharam tanto.