Balanço das horas



Mais um filme para ser avacalhado por mim em um post. Ou melhor, mais um pra não ler se não tiver visto o filme "tão forte e tão perto".

Sou pai. Esse já seria um motivo suficientemente bom pra que eu me tocasse com o filme, independentemente da tradução do título ser, pra variar, uma agressão. Aliás, eu gostaria muito de saber quem são os gênios que traduzem os nomes dos filmes pro Brasil. Gostaria de prestar a minha homenagem particular a eles. Entre quatro paredes, se for possível. Mas vamos voltar ao mote do post.

Sou pai e estou vivo. Sou pai, estou vivo, tive avô, tenho traumas, já tive dificuldade de relacionamento com meu pai, estou a 2300km de distância da minha filhinha de apenas um aninho de idade, não faço a mínima ideia de quando me será possível reencontrá-la... esses já seriam motivos suficientemente bons pra que eu fosse tocado com o filme.

Mas vai além disso.

Na cena do balanço, uma revelação.

Pra mim.

Não foi fácil ficar (literalmente) entalado no balanço na quinta antes do carnaval, quando tive a oportunidade de ver minha filha pela última vez, mas foi mais difícil ainda perceber a ausência do pai, na cena do filme e sentir uma relação muito minha com esta cena. Perceber que, por mais que eu queira, não depende só de mim para que eu esteja presente naquele balanço. Quero tanto, tanto, tanto balançar a minha filha... e me encontro muitas vezes só, na praça, a balançar um balanço sozinho, sem gargalhadas infantis, sem perda de fôlego, sem peso, sem cor. Fica só um barulhinho do ferro enferrujado, fundido e fudido, que vai e que volta esganiçado, na areia sem menino, sem luz, sem vida... Às vezes, não sei se sou só o balanço, a esperar que ela venha e se sente, que estou ali pra isso mesmo.

Nossos elos são tão fortes, minha filha, que posso esperar a vida inteira. Quando chegar, estarei pronto pra balançar. Daí, você vai sentir o vento por inteiro. Isso eu garanto.

Os elos do tempo são nada, perto do elo do amor.


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