res posta
- Bê, qual foi a última vez que você chorou?
me perguntou Brenda, na frente da outra apresentadora da campanha e da maquiadora.
Parei de escrever por um momento e me perguntei sua pergunta. Eu sei a resposta. Mariana, a outra apresentadora, fez algum comentário que não ouvi, Zizi, a maquiadora, replicou outra coisa que também não dei atenção, Brenda emendou algo que também não foi registrado. Eu sei a resposta.
- Já sei! (ela disse pra todo mundo) Semana passada o Bê chorou comigo aqui no corredor, falando sobre o Caminho de Santiago...
Eu sei a resposta.
Ontem, chegando em casa, minha amiga me chamou no skype, ela estava com um choro preso no travesseiro e resolveu deixar o travesseiro resolver o assunto, ele mesmo. Eu sei como é isso, travesseiro.
É difícil explicar o amor, coisa sem explicação. É difícil entender o tempo, rival do amor, medida do pulo da ponte, charada zen-budista. Mas eu sei a resposta.
Tirei os olhos da Brenda e voltei os olhos pro teclado do meu computador. Mesmo sabendo a resposta.
Ontem à noite, tentei dizer pro travesseiro da minha amiga que ajudasse de todas as maneiras, que a abraçasse, que a fizesse chorar, e que ele bebesse seu choro, sal da gente, que precisa sair do nosso mar que transborda em ressaca... Que droga, eu sei a resposta.
Falei pra ela do Vento que não se vê, do olho da gente ventando, do nosso coração que inVenta, Deus em com-provação do muito existir. Pedi a Deus que ventasse seus travesseiros, e que as penas de ganso viessem salvá-la do silêncio da noite, dançando no quarto, envolvendo menina, ninando em carinhos, dando colo, pintando estrelas, tocando caixinha de música, árvore que balança, berço que balança... Afinal, não adianta: eu sei a resposta.
E com tantas respostas indizívies, só me resta a pergunta, cadenciada, quase em silêncio, que o travesseiro se faz:
Chora
quem mora
em Maceió?
Na foto, no Caminho de Santiago, uma lanterna de um peregrino que tentava iluminar seu travesseiro, digo, seu caminho, enquanto ele passava por mim no escuro, no meio da floresta que me fez enxergar minha noite...
Comentários
só se vê nos seus efeitos
árvores em pânico
bandeiras
água trêmula
navios a zarpar
me ensina
a sofrer sem ser visto
a gozar em silêncio
o meu próprio passar
nunca duas vezes
no mesmo lugar
a este deus
que levanta a poeira dos caminhos
os levando a voar
consagro este suspiro
nele cresça
até virar vendaval
Paulo Leminski
Bê, cada dia sou + sua fã. Já te amo para todo o sempre, amigão.
Ah, DETALHE: li esse post ouvindo Jean Louis Aubert... e agora há nuvem de lágrimas embaçando íris cor de mel. SENSACIONAL, Bê.