- vai ser complicado

disse ela.

Fui ver "O segredo dos seus olhos" com minha mãe.

O filme acabou e ela não olhou para mim. Só me deu a mão, na hora que eu disse: vamos? e se levantou e me puxou calmamente, respeitosamente, sem se virar para mim.

Talvez ela tenha percebido, meu ombro estava encostado ao ombro dela.

Certamente, mãe.

A elas, nossos ouvidos. A elas, nossos olhos. A elas, alguns dos nossos segredos. A elas, as ações que nos agridem, mesmo que não sejam nossas, as mães.

Por vezes, ocultamos a verdade, sempre por elas. Ela não tem culpa do filho que tem. Ela não tem culpa da filha que tem.

Todas, mães. E sofrem, e padecem no paraíso, e não olham para o filho quando choram. Só quando é preciso.

É preciso descobrir o segredo dos seus olhos, mães.

Preciso.

Daí, ser preciso quando choro, quando minto, quando moro, quando sinto, quando adoro, quando amo, quando ando, quando volto. Eu preciso chorar descobrir quando choro para me olhar descobrir revelar nos olhos secretos de minha muito muito muito mãe...

Como diz a moça, antes de fechar a porta, - vai ser complicado. Ainda bem que ele está disposto a não nunca perder mais o trem da sua íssima história.


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