Saldade, tempero da vida.


Tenho recebido uns feedbacks interessantes sobre o blog. Não só os que você pode ler, os comentários. O mesmo número de comentários, ou mais, me são dados por email, ou pessoalmente. Que bom.

Hoje aconteceu isso.

Uma aluna minha, do sexto período de Publicidade e Propaganda veio até a minha mesa: 
- Professor, viu meu email? (acho que ela não sabe o meu nome)
- Sobre o blog? Vi., respondi.

Mas o email só não bastava. Era preciso dizer da saudade, da importância da saudade, da importância do texto "Perto Longe" e do sentimento que ela tinha quando pensava sobre isso, sobre a perda do seu pai, da importância lancinante da saudade...

Ela começou a falar e a torneirinha dos olhos se abriram. 
Ela: - é difícil falar. Eu me lembro como se fosse hoje, sabe? 

Ela me contou que seus pais não haviam casado no religioso, só no civil. E que o sonho do pai dela era se casar com a mãe numa cerimônia. (O poder do rito...)
Sabe o que houve? O pai dela realizou seu sonho e faleceu uma semana depois. Ela viu a cerimônia. Ela já era uma menininha.

...

Phoda. Foda com PH. 

Joseph Campbell escreveu "O Poder do Mito". Se eu fosse sábio, escreveria O Poder do Rito...

E, bacana, ela me disse que ter lido o meu texto despertou essa saudade, conectou-a com seu pai, fez com que ela se emocionasse, enfim, transcendeu... 

O quê dizer? Me lembrei apenas de um tio muito querido meu, que, como diz Rubem Alves, "encantou" há pouco e foi pra outro plano, outra tela do cinema sensível. Sua filha, minha prima, chorando as mágoas da "perda" pediu meu consolo. 

Só soube dizer a ela o que eu achava sobre a vida eterna, sobre o fato de vivermos pedaços de nossos pais, quebra-cabeças paternos e maternos, que se materializam em nós, que se reencantam em nós e se fazem presentes, poço da juventude. Presentes em seu sentido maior. Dádiva, bem precioso, surpresa com laço e papel de seda colorido. 

- Junte-se com seus irmãos (eu disse a ela). Quando todos vocês estiverem juntos, lá vai estar seu pai, um pedacinho em cada um de vocês. Quem sabe vocês resolvem se abraçar pra que ele apareça por inteiro?...

Comentários

Renata Feldman disse…
Lindo o seu conselho, Bê! É isso (e mais um tanto de coisa) que faz de você um professor e um cara sensacional! Beijos
Poxa, que lindo :(
é phoda ser diagnosticado com sintoma de saudade! Tem dia que ela vem rasgando...
(...) "A saudade é um buraco na alma que se abriu quando um pedaço nos foi arrancado. No buraco da saudade mora a memória daquilo que amamos: presença de uma ausência". (Rubem Alves)
Nossa! Estou impressionada com esse texto e essa hitória! agora a parte de sermos o quebra cabeça de nossos pais pra mim foi muito tocante... me fez ter mais saudade de minha vó... vontade de juntar toda familia para ter a impressão que estou na presença dela... Mas nem sempre é tarefa facil juntar a familia neh.... O que acontece na maioria das vezes é que quando a "sabedoria" morre a guerra toma conta!
Branca disse…
Tenho um selo pra vc.

Amei o comentário que deixou.

bjo
Ewerton e Flavia disse…
Oi Querido Be,
Adorei o blog, os textos, a teoria dos ritos! Adoro todos eles... Passei pra ver as imagens de ontem... volto depois!
Beijo grande, Flavia Louzada
Branca disse…
Naum vai pegar seu selo? O poema do comentario que vc deixou é seu?

bjo
Dan Zecchinelli disse…
Como vc sabe, amigo, fui padrinho de um casamento nesse fim de semana. A cena que mais tocou a todos os convidados foi a filha do noivo (do primeiro casamento) de 6 ou 7 anos, chorando emocionada quando viu a noiva do pai entrando na igreja. Linda.

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