Postagens

Pedras que falam

Imagem
foto de Alquiminera: exposição de @leosantanaescultor, de 1994. Somente depois que a lama começou a secar dentro de mim, tateei o solo frágil por onde caminhar e avaliar os destroços que ficaram expostos e ocultos. Ai de mim, mineiro por natureza. Daqui do Porto parto em cacos, restos, formas disformes e questionamentos sujos, turvados por pensamentos dúbios de compaixão e raiva, angústia e dor, hematita a ser arrancada do peito. A pedra do caminho de Drummond era de minério de ferro. Pobres de nós que não sabemos ouvir o saber dos artistas. Em 1994, o escultor Leo Santana já nos contava em sua exposição nos córregos de Macacos - São Sebastião das Águas Claras o que estava por vir. Mas a arte é só um saber menor: o que importa é a razão, os cálculos dos engenheiros, a precisão dos economistas, a ciência dos matemáticos, a proporção dos investidores. O escultor que magicamente sentou Drummond no banco de Copacabana não pode ser mais preciso que a aritmética do Homem q

Freddied

Imagem
SimplesmenteeunãoseicomofazerparadizeroquesentivendoofilmeBohemianRaphsody. Foialgumacoisamágicodescritivadeumsonhoqueficounomeiodocaminho. Pensoemcomodizerissodeformamaisbrandaoudeformamaissimplesoumaisexplicativamassimplesmentenãomevemoarparaqueeurespireepossaparardereviveraperdadeumídolodeamigosdesonhosdepoesiaenfim. Émuitodifícilassociaradificuldadederelacionamentocomopaiaquestãofamiliaromedodomundoomedodaperdaosamigosquesevãoasfacadasnascostasaspuxadasdetapeteosonhodeummundoquesimplesmentenãoexisteasexpectativastodassobreoamorasdorestudoissotudojuntovindonumaondaderockandrollmisturadocomopassadoquesefoieotempodosemprepresenteemnossaancestralidadeatemporal. Eutenhocertezaquenãoestoumefazendoentendermascomoestousemarficadifícildizeroquequeriadeummodomaisordenadoousimplesouracional. Avidaasvezesatropelaagentemaisdoqueaspalavras.Asquesaemeasquenãosaem. Parecequenessefilmeoqueficaengasgadovememformadeemoçãolevandoagenteparaabeiradadoprecipícioquenoslembraque"àsvezeseudesejava

Parta, Parto, Porta, Porto

Imagem
Eu porto. Saudade. Levo comigo. Parto sem dor. A casa do peregrino está fundada em suas botas. Alpendre. Sopro distante, brisa do mar. As ondas do outro lado do oceano tem novo canto quando fazem carinho na praia. Os seixos rolados repercutem percussivos quando rolam em meus olvidos. Baixa, Freixo, Chiado. Arrulham, Alhures. As gaivotas latem descansando nos telhados. Miam quando partem em voo. Os azulejos aluzejam meu espírito. Há eiras e beiras. Há ferros retorcidos nas sacadas. Amadeiro-me. A passagem de volta é olhar para dentro. A passagem de ida é sentir o vento. Eu voo. O sorriso distante é dentro, a risada menina é dentro, a raiz que cresce é dentro. O balanço é gostoso quando a gente amarra no galho firme e distante do chão, na copa que faz sombra mesmo em dia nublado.

Qual Quer.

Imagem
Não quero ir, minha BeBê. Olhos, seus olhos, castanhos, amendoados, melados, devidamente adornados emoldurados em cílios perfeitos. Melo-me. Sou a busca por sua risada, sua compreensão, afeito afeto, desperto, eu qualquer. Um seu, um pedido, um perdido, uma súplica. Me ame mais, filha, porque preciso. Por favor. Você me faz acreditar na vida, me faz acreditar no mundo, me faz acreditar no ser humano, no Bom, no Bem, no Belo. Você, tão você, tão ubiquamente nada eu, melhorado, melhorada, em perfeita sincronia com o que tem que ser. Seja. Cereja. Já não zarpo, já não parto, partido há sete anos e meio, não mais me completo sem sua cabeleira ou sua delicada forma de ver e ser meu mundo. Sou um turista perdido dentro de mim mesmo. Sou alguém que quer ser melhor por sua causa. Sou quem quer salvar o mundo por sua causa sem ser herói. Seu cheiro, seu humor. Sua risada menina. Seu encanto é minha rede. Talvez até de proteção. Me salve, minha filha. Sou o erro mais obtuso q

Medo

Imagem
Heuje, caminhando para o mercado central, chorei duas vezes.  Não há medida para saudades. Minha incompetência aposta corrida com o desejo de mudança e vence a disputa. Sou um juiz forjado no tempo. Minha ganância moldada pela cultura católica, minha ira sufocada pela doçura de minha mãe, minha revolta domada por toda leitura.  A mansidão amainou a tempestade. Gelei-me. Não penso mais em zarpar, não mais em saltar, minha espada, embainhada, enferruja com o pranto dos momentos de solidão profundos. Colhi as velas no mar aberto. Me sentei no calado do barco, no calado da vida, nu, calado Davi. A soma dos pesos não permite balanças. Quando distar-me terei ido. Findo, derrotado e re-partido. As chagas do berço dóem cicatrizes húmidas. Os queijos caros e premiados que comprei no mercado central tem fungos invisíveis.

Como com viver sem.

Imagem
não canso de me querer escrever iletrado, tenho colecionado silêncios em mim, de finições e recomeços, ex-cutas zelo substantivo, zelo verbo:  a etimo-elegia do ciúme pedra fito, zentimento,  o eusquecer universamente o cheiro da minha filha  é mesmo o tsunami do Cosmos. 

Travessias do Tradizível: João Guimarães Rosa e Juraci Dórea

--> REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AQUINO, S. T. de. Sto. Tomás de Aquino - Vida e Obra. Tradução Luiz João Baraúna. São Paulo: Edipro - Editora Nova Cultural, 1996. BARTHES, R. Elementos de Semiologia. São Paulo: Cultrix, 2003. ___________. O prazer do texto. São Paulo: Perspectiva, 2002. BITTENCOURT, R. L. de F. E SCHMIDT, R. T. Fazeres Indisciplinados: Estudos de Literatura Comparada. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2013. BIZZARRI, E. João Guimarães Rosa: correspondência com seu tradutor italiano. 2. ed.; São Paulo: T. A. Queiroz: Instituto Cultural Ítalo-Brasileiro,1980. BOLTER, J. D. e GRUSIN, R. Remediation – understanding new media. Estados Unidos: MIT Press, 2000. BRAGA, J. L. Mediatização Como Processo Interacional de Referência. Artigo publicado na XV COMPOS, GT Comunicação e Sociabilidade, 2006. CAMPBELL, J. O Poder do Mito. São Paulo: Palas Athena, 1990. CHARTIER, R. A aventura do livro: do leitor ao navegador. São Paulo: Unesp,1999. COMPAGNON, A. O demônio da te