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A Trindade do Amor

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Quatro de junho de dois mil e doze, hora da lua cheia. Beatriz olha para o MacBook ligado ao Skype, aponta num sorriso e diz, reconhecendo: – Papai! ... Seus dentinhos aparecem na palavra papai. A palavra papai termina num sorriso. A palavra papai sou eu, sou eu quem aparece no MacBook, sou eu quem desaparece no MacBook. Sou eu a 2.200km de distância dentro, nada mais perto, tudo mais pele, nada mais suor, saliva e lágrima. Água. Nosso líquido oceano particular. Há mar, Beatriz. Senti a mesma coisa duas vezes. No momento em que cheguei e avistei a Catedral em Santiago de Compostela. No momento em que vi Beatriz pela primeira vez, no ultra-som. Um pontinho pulsante, um coração batendo, uma palavra, nada mais do que isso. Apontei para a tela do computador de dentro de mim no consultório num sorriso e disse, reconhecendo: – Filha! Foi como assim. De lados opostos mesmos nos apontamos. O tempo e seu hiato misterioso, ligado por um fio invisível de prata, uniu meu coraç

Sou só um Mehari que sonha

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Medei de presente de anivarsóvia uma leitura. (de um livro que eu já tinha) Aqui abro um parênteses: ( Fico triste como as grandes corporações vêm pra avacalhar certas coisas. Sábado, fui comprar um livro em uma "grande" rede e disse ao "livreiro": – Quero dar ao meu primo de presente o livro "Zen e a arte da manutenção de motocicletas" . Ele foi procurar se tinha o livro e digitou: "Zem"... preciso dizer mais alguma coisa? É por isso que gosto de comprar livros com a Simone na Ouvidor, ou com o Sr Van Damme, na livraria de mesmo nome (Van Damme, digo). Assim como quase não temos mais livreiros, na drogaria Araujo só temos um jalequinho branco querendo me dar um cartão com o código de barras pra ele ganhar comissão. E eu fico puto da Araujo abrir uma loja a 500 metros da outra, só pra se instalar na frente de uma farmacinha de bairro e matar o cara que está lá há 30 anos. Mas isso é outra história, meu parênteses tá grande demais. ) Eu j

Perfume de Mulher

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De arma em punho, a ponto de estourar seus miolos, o Coronel conta. 5, 4, 3, 2, 1 ... " foda-se! "... O que se segue é uma luta de dominação. O jovem Charlie Simms tenta dominar o Coronel e tomar finalmente a arma das mãos dele... e o jovem perde, claro. Mesmo cego, o tenente Coronel o domina. Engalfinhados, suando, chorando, eis o que se segue. – Saia daqui !!! Ele suplica, quer morrer sem ser impedido. – Fodeu as coisas, e daí? Acontece com todos. Siga com a sua vida, está bem? – Que vida? Eu não tenho vida! Estou nas trevas! Entende? Estou nas trevas ! - diz o cego Coronel Frank Slade. Dominado, o jovem Charlie também grita. Vocifera que também vai , se for pra ser assim. Que o Coronel puxe o gatilho e acabe logo com isso. Com os dois. O jovem Charlie blefa, cuspindo, dominado, arfante, ferido: – Estou pronto ! ... O Coronel, por fim, sussurra: – Você não quer morrer... ... – Nem você ... - diz finalmente Charlie. Como um suspiro de desesper

Os idos

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– Querido! (ela disse) Foi hoje, não foi ontem. Fiquei querendo saber o que significa. Desmembrei a palavra querido. Fatiei em pedaços, fui buscar a receita, os ingredientes, os modos de preparo. Como se prepara um querido? Como se torna um querido? Como se assa, como se grelha, como se deixa um querido marinar? Eu não queria ter ido. Tire o querer do presente, eu não quero conviver com isso, viver com isso, conviver. Eu não quero mais chorar, eu não quero chamar o presente de presente, se ele vem desembrulhado, sem laço sem seu cartão. Quero um pingo a mais de emoção. Nos idos da felicidade, eu descobri o amor assentado ao lado de uma cama, olhando os pêlos de um braço de uma moça que dormia. Era dia, o amor não tinha anoitecido ainda. Ela me chamou de quervenha. Ela me chamou de quervem. Ela me chamou de quervemlogoqueestoumorrendodesaudadessuas. Ela me chamou de quervindo. As palavras não me consertam. As palavras me concertam. Me toco, me componho, me dinâmica

O Encontro de Fátima Bernardes e Lair Rennó

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Encontro - com Fátima Bernardes estréia finalmente. Vi quase todo. Prometi ao Lair Rennó, competente jornalista mineiro que a acompanha que daria minha opinião mais completa sobre o programa, já que a mensagem que mandei pra ele no facebook, foi logo depois de sua primeira entrada, sua primeira participação. Mais cedo minha mãe me disse que foi a Fátima que o convidou pessoalmente, que ela tinha lido que a Fátima quis chamar não o Lair da Globo News, mas o Lair do camarim, o que fazia sempre piadas, sempre de bom humor, o cara humano, inteligente e bacana que ela pode conhecer, não o que cumpre papel de jornalista apresentador. Legal isso. Precisamos de humanizar mesmo, ainda que com todo o dispositivo natural que a emissora de televisão imponha. Lair é um pouco mais novo que eu. 2 anos. Quando começou, também ficava na ante-sala dos produtores de elenco fazendo testes pra comerciais de TV e foi onde nos conhecemos. Meu primeiro registro dele mais forte foi numa dessas oc

A delicadeza e a crueza do amor.

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Eu gostaria muito de comentar o filme A Delicadeza do Amor, que vi antes de ontem. Esperei um dia pra ver se processava. Foi meu assunto da análise. Ainda assim, não dá, não estou conseguindo. Curiosamente, talvez paradoxalmente, comecei a ler o artigo da Eliane Brum e me deparo com um artigo que, de certo modo, é complementar ao filme... a inteligência dos comentários da Eliane me surpreende. Não sei se Eliane vai entender esse meu comentário sobre "complementaridade". Também não importa. Ela não vai ler meu blog mesmo... No entanto, preciso me exercitar. Preciso me exercitar sobre a delicadeza e sobre a crueza. Mas não consigo. Segundo meu analista, não consigo ainda. Apesar de estar precisando. Ops! Mais uma vez a palavra chama a minha atenção. Não é à toa que Lacan foi dono do quadro a que se refere Eliane em seu artigo... "Precisando"... Pré cisando. "cisão, fissão, cave, diérese"... antes, pré. Deus, onde estou indo? Ops de novo! O

O que será que será?

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O que será que será ? Eu não sei, filha. O papai não sabe um monte de coisas. Aliás, a maioria delas. O que é bom por um lado e ruim por outro. Gosto do novo, filha. De aprender, de descobrir, de revelar. Mas o mundo tá meio assim assim. Eu não queria ter lhe trazido para um mundo do jeito como está, Beatriz. A foto que você vê acima, é de uma manifestação. Veja a explicação: Hoje, 15 de junho de 2012, cerca de 300 pessoas – entre povos indígenas, agricultores, pescadores, ativistas e moradores afetados pela construção da hidrelétrica de Belo Monte – ocuparam, essa manhã, o local onde a barragem será construída, localizado próximo à vila de Santo Antônio. O protesto pacífico das comunidades tradicionais da Amazônia ocorre no momento em que o Brasil sedia a Rio +20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, no Rio de Janeiro. “Energia que não respeita a lei, a população local, violenta direitos indígenas, destrói comunidades e o meio ambiente não pode ser l