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Haikai do passo

Mudo, me calo, me principio. Findo, calejado, a fala do silêncio. 

As folhas e a Ana

Ana passou pela calçada e ouviu o vento chamando seu nome. Imediatamente se virou e pode ver as folhas que corriam atrás dela. Ela disse: - Olha, as folhas estão correndo atrás da gente, gente! E imediatamente começou a correr. O vento que veio derrubou a casa, fez festa na menina, sacudiu poeira, cegou o moço da praça. O vento que veio veio chamando as folhas pra brincar. Ana sacudiu seu cabelo cacheado cheio de folhas, seus cachos dourados em contraste com o ocre. Cicieira viu tudo. E saiu ventando levantando a Ana, levantanoaana, levantanaana, le ventana. Do alto do infinito olhou para baixo e ouviu o silêncio do mundo: seu coração batia. E decidiu voltar plainando, deitada em sua expectativa. Você já viu as folhas dando tchau? Eu já vi.

o broto da inspiração

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Hoje corre. Corro cedo, volto a correr. Talvez inspirado pela constatação de que não adianta nascer. A pequena resedá precisa de poda. Quando Rock Junior me disse que eu não aguentaria vê-la por quase dois meses sem uma folha sequer, eu ri por dentro. Disse a mim mesmo: que bom, isso eu já aprendi. E aprendi a ouvir. Rock me disse que ela precisaria de poda quando viesse à tona, nascesse, chegasse, brotasse, encontrasse espaço no mundo de ser, do ser, vento que venta de dentro. Começo a correr. Ela nasce, cresce, e precisa de poda. Hoje corro por onde passa meu pensamento. Hoje vento por onde nasce o meu momento. Escuto Vander Lee enquanto corro por dentro. Meu amigo é outro sonhador que sabe o valor do nascimento. Ele venta letras e músicas enquanto se oniapresenta no mundo. Ele, como o meu pensamento, está aqui, está lá, com a noiva que casa mês que vem, com o padeiro que acordou mais cedo, com a esposa que reforma a cozinha, com o garoto que anda de bicicleta. Sua música p

Enjoy? Enjôo.

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Candinho procura a mãe. No encontro com Pirulito, na praça, à noite, divide um sanduíche. Pirulito não quer voltar pra casa, seu pai bate nele. Candinho tem dinheiro, mas não quer alugar um quarto na pensão. Ele quer dormir na praça porque gosta do céu, das plantas. Ele sabe que muié entra na frente, ao passar na porta. Ele não sabe da internet. Ele sabe só do burro Policarpo. Candinho, o mundo mudou. Não se divide o sanduíche, não importa se a muié entra na frente, ao passar na porta, Candinho. Candinho procura a mãe. Bem, Candinho, a mãe talvez não faça mais sentido no mundo de hoje. Quando você não for mais preto e branco, quando colorir, virar HD, for filmado em 3D, tiver a experiência interativa da cross media , ninguém mais vai se importar se você quer ou não achar sua mãe. As pessoas vão dizer, Candinho, que você está na era da informação. É mentira, Candinho. Não caia nessa. Só um ingênuo mais ingênuo que Pirulito continua achando que estamos na era da informação. Que a Co

filamento

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Chegou em casa, parou o carro na garagem. Desligou o carro, abriu a porta, a luz interna do veículo acendeu. Fez-se silêncio. Fez-se o silêncio. Por um momento, se esqueceu de respirar. Quando se lembrou, o fez calmamente, sem barulho. Tudo fora era escuro. Só havia luz na parte interna do carro. Imóvel, não sabia o que fazia. Não descia, não fechava a porta, não pulava do veículo, não buzinava. Não ligava o rádio, não olhava em volta, não suspirava, não estava. Mexeu os olhos para baixo, viu os pés sombreados pelo volante, em baixo do painel. Voltou a olhar para cima, só via escuro através do para-brisas. Fungou. Esperou até que algo acontecesse. Talvez alguém aparecesse, talvez alguém viesse, talvez o portão eletrônico fosse finalmente acionado. Não foi. Não era, não tinha, não vinha, não estava. Engoliu saliva. E esperou mais um pouco. Se lembrou de quando era outro. Luzia. Se lembrou de quando estava. E desejou que alguém chegasse, viesse, acionasse, aconteces

Beira rio

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Seu silêncio mata a noite. Enlouquece a estrada, é pedra, é nada, é cisco no olho. Seu silêncio a Deus pertence. A mente, omite, ausente, aos desígnios transcendentes. Seus mistérios a Deus, minha gente. Era seu, era só, era sinto muito. Pertencente, é só, pertensente . Somente maçã, somente a vê lã, só mente a Deus quando passa da hora. Vão bora? Vão ali fazer festa que o povo vem chegando...

Assim, o Tempo em mim

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