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Noite

Não quero morrer hoje à noite. Escrevi uma filha, plantei um livro, tive uma árvore. Mas tenho um pouco mais a fazer. Não quero morrer hoje à noite. Quero tomar vinho com queijos em Rennes, num banco de praça, quero amar sem medida uma mulher que escolhi e que me escolheu, quero rir andando de carro da Holanda, rumo a Paris, quero fazer uma maratona, quero ver minha filha, quero fazer o Caminho de Santiago. Quero ter amigos, quero estudar em um mestrado, quero ser reconhecido profissionalmente, quero ir a Paris, quero ir até Cordoba, quero ir a Toledo. Quero visitar a Sagrada Familia. Não quero morrer hoje à noite. Quero ver a minha filha crescer um pouquinho, quero mar sem medida uma mulher que escolhi e que me escolheu, quero tudo e muito mais. Ou não. Só não queria mesmo era morrer essa noite.

Presépio

No meu presépio, o menino Jesus fica coladinho no São José.

Sobre colos, Sofhias e pai-xões.

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Sofia, ontem, deitada no colo da mãe. 14 anos, maior que ela, Sofia se aninha pequenina no colo da mãe enquanto ouve o jazz de Chico Amaral e trio. O colo da mãe é o mundo de Sofia. Enrosca. Enlaça. Em laço. É, o colo da mãe é o mundo de Sofia. Mas, fora do mundo, quando estuda com as coleguinhas, coloca Frank Zappa, a pai-xão do pai de Sofia... Já a pai-xão do pai de Sophia não é Frank Zappa. É Chico Amaral e todo o jazz na medida do sonho, na música interna que nos faz mais humanos, como dizze Chico com outraz palavraz. O pai de Sophia sofre com o jazz. Encantado, dança o sofrimento, a luta, o sonho, a redenção da música. Enquanto Chico Amaral e banda se apresentam, Nelson sente a música. Em cada poro, em cada centímetro. Sentímetro. E dança. Dança sua dança mágica, seu sonho de música, seu tocar jazz com todo o corpo, todo o sentimento, se faz o próprio instrumento, todo o som presente em Nelsom. Ele toca jazz com todo o seu corpo. Sophia escuta. Sofia escuta. O pa

Pra Bê do pai

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Bê do pai, cadê você? Cadê o encanto que move os dias, cadê o passarinho parado no ar, o meio do gole d'água, a sede que sacia, saci, fogueira e luar? Estrelinhas miudinhas que brilham limpinhas na noite pretinha do meu neném... Sou bobo, filha. Poema no copo, maçã no pé, risada de gato, xixi de menino, sou pequenino diante de tal natureza de ser. Docê. Yemanjá tem me dado notícias suas, nua, na boa viagem da vida. A areia do tempo escorre nos seus dedos como escorre nos meus, minha borboletinha, e é só encostar a orelha na concha que ouço o mar deitado em seu colo de menina. Vitamina. Você já adorava cará na barriga da mamãe. E o papai adora a sua aflição quando cheiro minha cria, barba que lhe-te-coça-nuca. Ah, sabe o que você vai gostar? Monteiro Lobato, minha Narizinho. Faço-me um ninho e aguardo você pousar. A vida é esse marzão todo. A gente não vê: mas do outro lado do mundo, há bem, há bom e há belo a se descobrir pra viver, meu Bem. Tudo esperando você.

do-ação

Meu amigo me perguntou há pouco: - ah, quando você se doou por inteiro? Quando ficou completamente tomado pela amada, quando ligou o foda-se e se jogou totalmente em um relacionamento? ... Acho que ele me perguntava pensando que não haveria uma resposta. Ele queria saber do ato de amor, de morrer nos braços da sua amada, nos seios, de se tornar nada, tudo, depois de ter-ser tor-nado o tudo, nada... É melhor que eu diga! Re-tornar, se fazer ver, valer, sentir. A-mar sem medida, sem medo, sem sentido. Sem hora pra começar, sem hora pra acabar. De dia, de noite, na hora do café depois do banho, já pronto pra trabalhar... amar sexo, amaremoto, amaré. "Amar é o que sei fazer melhor", como diz o poeta. O sonho de amar amando é o sonho de sonhar-se em sonho. Sem sentido, é o real mais quereal que bate à sua porta. Aorta.

sono

Só quero dormir um sono de amanhã.

A Borboletinha e a fita.

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Borboletinha do Mar, que sabe das ondas, tem em si o desígnio do existir. A presença animada, séria, calada, colada no tempo, espera. Sabe do passo, sabe do abraço, fica aflita quando beijo seu pescoço, fungada de pai que respira a cria. É via. Tenho pra mim, tenho por mim, tenho nada pra mim, tenho nada por mim. Voa vento, borboletinha, entre as estrelas do mar, peixe que é, espuma branca na borda da areia. Vi você no Campo das Estrelas. Entre as estrelas do céu, espreitando e sorrindo. Caminhando comigo, me dando a mão no deserto. Fui no seu colo, meu solo, chão seguro macerado no cajado. Você me sorri, do colo da mãe, e sabe do meu. Mistura. Banho de banheira. Fita amarela. Nas areias do tempo, você, empanada, me sorrindo o que só eu sei.