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A gente só quer um abraço, Dave Grohl.

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Você conhecia Cesena? Eu ia perguntar se você conhecia o Foo Fighters, mas aí eu fiquei com medo da resposta. Engraçado isso. Na faculdade, uma amiga começou a namorar um cara e fomos passar o final de semana no meu sítio, esquema casais. Vinho vai, vinho vem, sou surpreendido com essa pérola que regurgitou da garganta do porquinho: – “Elis Regina? Quem é essa dona?” Minha taça quase caiu, em ato de estupefação preconceituosa. Sim, acredito que somos assim. Muito preconceituosos. No meu caso, devo dizer, meus preconceitos são de outra ordem que não os mais comuns, passíveis de penalidades na legislação. Ainda assim, dignos de serem trabalhados. Por que cargas d’água eu deveria achar que todo ser humano habitante do Brasil com idade (hoje) de 40 a 45 anos, tem obrigação de conhecer, ou pelo menos ter alguma referência sobre Elis Regina? Me lembrou aquele ato preconceituoso contra o Zeca Camargo - um apresentador da Rede Globo - que fez uma crítica à comoção

Preciso mostrar a língua?

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Os modernos já usaram “vou bater um fio pra você”. “Disca pra mim”? Era usual. Há 150 anos, praticamente, não existia o telefone no mundo. Hoje, praticamente, ele também não existe mais. Não, não existe, praticamente. Existe a função de ligar para outra pessoa em um dispositivo, mas quase não se vê mais o telefone telefone. Dispositivos móveis. Poderiam muito bem ser chamados de computadores de bolso. Porque nem telefone de bolso são mais, bem da verdade. E, sem falar nas outras funções, a função híbrida, o contato de voz, o de imagem, o de voz e imagem, o de texto, o de texto e voz e imagem se misturam e se completam, recadamente falando, cutucalmente existindo. Presencialmente virtuando-se. Aliás... Virtual ou virtuoso? Máscara social, muleta semântica, válvula de escape, encontramos um modo matemático de resolução da ubiquidade. Me lembro de Santa Clara. Que virou santa (também) porque, entre seus milagres, a visão do que acontecia com São Francisco em outro lugar, quando ela não

Hosana

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Moro no arqueio das sobrancelhas de Beatriz. Vivo sua explicação da vida, sinto sua admiração compreensão duvidosa da existência, seivas suas simples verdades: “sou diferente, papai”. É sim, filha. Come mesmo a salsicha do cachorro quente antes. Deixa o pão pra comer depois. A gente bobo é que faz tudo junto, bobamente esperdiçamos o Tesouro de Kairóz comendo tudo junto, barulho que acorda Chronos, matalmente. Isso, sim, é desperdício do ócio do amor, é querer que a planta cresça logo, sem respeitar o Vento, a Chuva, o Sol. A natureza das coisas franze a testa de Beatriz. Eu, riacho de mim. Enquanto a chuva chove águas líquidas e molhadas na superfície aculturada de Recife, olho. Molho. Observo. Escorro me todo em poças pra Beatriz pular de alegria, espalhando águas e afetos, botas de borracha, gritinhos entusiasmados de aventureira menina. Me nina na rede. Me em todos os cantos, canta, cantilena sutil. É ave, é Maria, passarinha. Hosana, filha. Sou tão pequeno, sou só um acorde na m

Pegadinha do Faustão

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Parece pegadinha, tal é o absurdo que foge à lógica da compreensão. Mas não pode ser considerado nem piada de péssimo gosto: o adesivo criado que coloca a Dilma de perna aberta no reservatório de combustível dos carros é triste retrato da violência que desintegra nosso país deixando nódoas difíceis de serem apagadas. Não tenho vergonha alheia. Tenho vergonha, eu mesmo, por mim mesmo, de fazer parte de um país que chega a esse ponto. Não consigo acreditar que isso seja manobra nem da oposição, nem de uma atitude guerrilheira perversa do partido da situação, que tenha como estratégia a disseminação do ódio e de uma ideia dicotômica de país, de partidos, de bem e de mal. Estamos mal. Todos. A indignação deveria ser geral. E, evidentemente, não só por isso. É claro que isso fere as mulheres. Mas nós, homens de bem, que tivemos oportunidade de educação e cultura, igualmente nos indignamos. Ou deveríamos.  Estupra-se o ser humano.  Não só a Dilma, o cargo que ela ocupa ou a

Para Fernando, Nestor, Manoel e Beatriz.

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Em setembro de 1990, depois de nove meses de intensa preparação, 20 músicos, atores, dançarinos, bailarinos, cantores, instrumentistas subiam no palco do Teatro do SESI para a estreia do musical Manoel, o audaz. Com direção geral de Nestor Sant’Anna - meu pai, que hoje completa 71 anos - e roteiro de um de seus parceiros de sonhos e ideais, Fernando Brant. Dois grandes pensadores e agitadores culturais, Nestor Sant’Anna e Fernando Brant passaram a vida sendo vozes de um mundo que eu ainda não conheci. Um mundo onde a cidadania, a honra, a verdade, a justiça são Valores inabaláveis. A fala dos dois, que vem desse mundo sonhado por eles e por tantos parceiros que comeram juntos a poeira da estrada por onde passou o jipe Manoel, ecoa em meu coração até hoje, e é o discurso que, quero crer, minha filha de 4 anos vai ouvir de mim e vai pronunciar de seu jeito aonde o povo está. Fernando embarcou em definitivo no Manoel, o audaz. Todos nós embarcaremos. Em meus sonhos mais íntimos

Desligue o seu celular e sapeque enquanto é tempo

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A música desse texto foi escolhida em homenagem a Fernando Brant, Viajante do Manoel, o audaz, que partiu essa semana para fazer poeira em outras estradas, nas estrelas do sempre. *** Se você tem menos de 35 anos, por favor, não leia este texto. Depois não diga que não avisei. “O sonho acabou. Quem não dormiu no sleepin- bag nem sequer sonhou”, como diria Gilberto Gil.  Digo isso porque sapecar é maravilhoso. Digo isso porque trepar (me desculpem os pudicos) revigora. Digo isso porque fazer safadezas sexuais livremente com consentimento do seu parceiro é contundente e transformador. Desliguem a CENSURADO do celular. Sexe-se.  Não, não errei o substantivo, não errei o adjetivo. Verbeio a existência do agir, imploro a substantivação do ser sexual, pelemente falando, líquidamente existindo, cabelamente puxando, suormente apertando. Pause-se. Respira, vai.  Começa de novo. E depois para. Porque isso é bom, mas termina aí. A música dos anos setent

pre conceito e pro vocação

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Domingo, 9h da manhã, virei a esquina e me deparei com a babá vestida de branco, empurrando o carrinho do bebê. Vinha a mãe, ao lado, um pouco atrás, com roupinha de caminhada, produzida, unha feita, no Whatsapp e puxando a guia do cãozinho engomado com lacinho na cabeça. Meu pré conceito me diz que é o fim da feira a mãe ficar com o cãozinho e com o whatsapp enquanto a babá fica com o bebê. Não são dois bebês. É um só. Mesmo que fossem. Já sei, vou ser linchado pelas mães a favor das babás a qualquer tempo e lugar. A coisa tá tão séria que já vi uma babá pra cada filho. Mais a chamada “folguista” (ou duas, pro fim de semana). O argumento que normalmente ouço é o seguinte: ah, a mãe trabalha a semana inteira, precisa descansar no final de semana. Ok, e até agora o pai não entrou na equação. Estou cansado (e triste) de ver pais que trabalham demais, em busca de um melhor futuro pros seus filhos. Um futuro que teoricamente não existe. Não, não existe, por mais que você