Postagens

Caixa de Lápis de Cor.

Imagem
Para ler o texto, inicie a música em respeito à minha mãe, por gentileza. – Filha, vamos combinar o seguinte: papai vai comprar um presente pra gente dar pra vovó Lili. Eu compro o presente e você faz um lindo cartão pra ela, que tal? – Quantos anos ela tá fazendo? – 70. – Só? – Só. E aí, o que é que eu compro? – Uma boneca! Toda menina adoooooora boneca! Claro que eu comprei. Pra minha menina mãe vovó. Sabe? É muito difícil escrever sobre ou para minha mãe. Quase uma unanimidade familiar, minha mãe é uma mistura de Madre Teresa de Calcutá com Coelhinho da Páscoa. Um cruzamento de fada-madrinha com Robin Hood. Da noite, o travesseiro. Do dia, a nesga de sol. Se o amor fosse uma árvore, minha mãe seria a clorofila. A Mega Sena acumulada do meu pai. Já pelejei pra defini-la um bocado de vezes e a minha melhor definição dela foi: minha mãe é uma caixa de lápis de cor. Não dá pra falar dela sem falar de gratidão. Não dá pra falar dela sem falar de fé. É impos

Amargo que nem jiló

Imagem
A bandeira do Brasil é verde porque vivemos em um país amargo que nem jiló. Preciso falar, mesmo sabendo que não há a mínima chance de ser ouvido. Pra começar, esse texto não vai viralizar. Não há cachorros sorrindo nele. Não há neném dançando como se fosse uma prostituta na boite. Não há champagne, não há cidades europeias, praias paradisíacas, mulher pelada, carros importados, sequer uma simples ode ao consumismo. Ou seja, nem meus dois mil e quinhentos “amigos” virtuais vão ler. Muito menos os duzentos que estão na fila pra que eu aceite a “amizade” deles. Se nem quando pedimos um clique solidário para ajudar uma entidade beneficente conseguimos espalhar a informação, imagine quando não há informação quente. É só um texto simples dizendo como o Brasil é amargo que nem jiló. Nenhuma novidade. Essa noite fui furtado (conferi o termo no Google). Furtaram o rádio do carro e o estepe. Não, não foi dentro da garagem porque moro em um apartamento muito antigo, financiado pela Caixa, que

“E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem”

Imagem
Paul Gauguin, Cole Porter, Claude Levy-strauss e Caetano Veloso talvez estejam certos. É preciso um texto sobre a Baía de Guanabara. Revolto-me. Expurgo o lixo, expurgo o luxo, e decido a mar, em francês. O gênero feminino é muito mais próprio para o leite materno, as águas da mãe terra. O mar nada diz para mim. A mar, sim. A Baía de Guanabara, o seio do mar dá de mamar a poetas e cantadores e só. O lixo e o luxo roubaram suas pérolas. Eu não. A vejo, a concho, ostro-a em meus pensamentos poéticos de romântico incorrigível. Basta dizer que minha irmã mora em Botafogo. Nome próprio de um bairro habitado por minha ígnea irmã. A amo em suas decisões. Há mar em cada uma delas. Gabriela, nome de quem sobe em telhados poéticos, é mesmo um tsunami que habita o Rio de Janeiro. Queria que ela pudesse andar suas ondas a pé nas noites quentes cariocas, mais do que pode ou consegue, queria que o Rio fosse só mesmo uma calçada portuguesa no imaginário das ondas que vem e vão como a garota de Viní

Bom dia.

Imagem
– Você é mais bonito quando acorda. Não sei se foi uma frase de efeito. Mas resolvi passar a vida acordando.

Ontem e hoje, nossos caminhos.

Imagem
Ontem fui ao coquetel de lançamento da exposição de fotografias do meu irmão mais velho, Daniel Mansur, com a curadoria especialíssima da bela Marcela Bartolomeo.  Ontem, eu entrava em seu estúdio pela primeira vez, época de faculdade, e redescobria o olhar. Tive muitos mestres em minha vida. Daniel Mansur foi um dos primeiros e mais marcantes. Sábio como poucos, me mostrou a importância da observação. A pesquisa escondida no olhar. A pergunta que se esconde no ver e a resposta que se revela no enxergar. WuWei. Revelei sentidos, muitos, em seus ensinamentos de vida e de trabalho, de ética e de dedicação, de crença na imagem: na que está dentro e fora da câmera. Na nossa, na do outro, na que produzimos com o mundo que se desvela à nossa volta. Meu primeiro "chefe". Meu primeiro tutor. Quem primeiro me falou sobre estética e a filosofia do Belo. Suas lições fundamentais sobre equilíbrio. Meu ponto de fuga nunca mais foi o mesmo. Ontem, quando recebi o

Passador

Imagem
Entro no quarto de Beatriz e lá está ele. Ao lado do porquinho de moedas que junto pra ela todos os dias. Um passador, esquecido em sua passagem por aqui. Ele me fala que ela esteve aqui. Ele me fala de seus lindos cabelos desgrenhados de criança. Ele me fala de seus cabelos cuidadosamente arrumados para ir ao ballet. Ele me fala de seu sorriso. Ele me fala de seus gritinhos infantis e de suas sobrancelhas arqueadas ao me perguntar inocências. Ele me fala do Tempo, da pergunta quando ela estará aqui, da resposta da Saudade e do abraço vazio que dou em seu quarto, toda vez que entro nele. Deixado displicentemente no que pode ser considerado uma cômoda, o passador de minha filha. O passador de minha filha. A diarista já quis guardá-lo, um cem número de vezes. Ela guarda, eu volto com ele para o lugar do esquecimento. Eu volto com ele para o lugar da lembrança. Eu volto com ele para o lugar do como se fosse ontem. Ele me lembra que ela esteve aqui. E o jeito como foi deix

Perdão Pascal

Imagem
Meu ovo de páscoa é de torresmo de barriga. Com recheio de Heineken. Que eu saiba, é só uma pessoa que vende ali no Padre Eustáquio e ele não é barato. Acredito que isso se deva ao mercado consumidor que é, de certo modo, restrito. Talvez por falta de conhecimento. Além do quê, imagino que a possibilidade da escolha da cerveja seja, no fundo, um empecilho à parte, que, segundo o rapaz que faz as encomendas, “isso defeculteia e muitcho”. Imagino que usar o verbo “defecultar” na mesma frase que “ovo de páscoa” é mesmo coisa defécil. Torresmo não é a felicidade em si. Mas é o que mais se aproxima no que se refere a excessos possíveis, tirando o sexo. No entanto, talvez não seja prudente relacionar o sexo à Páscoa, por mais puro que possa ser. Por mais que se trate de morte e ressurreição no ato em si, e de vida e crescimento pós ato, em alguns casos conceptivos. Já o sexo em si não é excesso. Mas em excesso, quando bem feito, ainda representa a felicidade possível. Uma espécie de Pásc