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Cheiuras

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Há um livro escondido nas teclas do meu computador. Ele espera, pacientemente, os mais de dois milhões e quinhentos mil passos que dei chegarem para se fazer, em memória, história, perdas e danos. As verdades re-veladas se turvam nas noites insones, mal dormidas. Os cacos, juntados, se colam em mosaico. No ano que passou, fui roubado. Roubaram o moleskine com todas as minhas anotações sobre o Caminho, as pessoas, os endereços, as reflexões poéticas, os lembretes. Lembretes roubados se tornam esquecimentos no desespero da perda. Nada há a fazer. Desfazer expectativas como desfaço minhas malas. Descobri, desde o primeiro Caminho que preciso de Nada. E só. E hoje, pesarosa mente que mente ao não me deixar dormir. Vá, se levante, abra sua mochila. Você vai encontrar o que procura. Sim, o Nada estava lá. Bem juntinho da responsabilidade pela escolha de todas as teclas a serem desveladas em códigos irresponsáveis que nos tragam a Verdade. Hoje, sem querer, vi uma foto que trazia um

Sistema Solar

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foto: mamãe Há uma dor sobreviver. É que o sorvete de creme derrete.  O mundo não se parece com o sanduíche da foto da lanchonete. Sabe? Escutei uma canção cantada por minha filha. Entendi a etimologia da palavra entusiasmo. Deus presente, com laço de fita e surpresa, bolo de chocolate e parabéns pra você pra mim. A semiótica é só soma na multiplicidade desconcertante, e complexamente simples, da infinita definição de amor trazida por minha filha. Há tantas pessoas no mundo que precisam conhecê-la... Seus quadros são mais lindos do que os de Matisse. Sua voz soa mil vezes mais linda do que a voz de Joss Stone. Sua primeira composição (que fez aos 3 anos e sete meses) deixa Jobim no chinelo. Sua graça faz de Didi Mocó um triste pierrot que chora. Sua presença ilumina tudo à sua volta. Ela cura enfermos, traz de volta a vida, colore flores e faz o Vento ventar. Marmente.  Desconfio (com base empírica) que ela tenha influência sobre a tábua das marés. De uma coi

Dicionámar

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Sem letras, não encontro um jeito de encontrar palavras.  No silêncio profundo, as frases não encontram pouso.  Me destextifico em lógicas vazias de significados.  Eu significante mudo:  de casa, de corpo, de sonhos, de hábitos. Coisificar a existência é a fuga dos ignorantes obtusos ou medrosos. Enquanto isso, a socialização do estar conjuga os modos do ser. *** No vídeo, um breve lembrete pra quem acha que alguns dias por ano com um filho são o bastante. Parabéns aos amigos que participaram do vídeo. E mais ainda aos que podem compartilhá-lo.

Às vezes

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Quanto vale o Amor? Às vezes, ouço essa música. Às vezes, não. Às vezes, reflito sobre isso. Às vezes, não. Às vezes, canto, às vezes, praça, às vezes, mato, às vezes, caça, às vezes, brinco de esconder. Às vezes, não há esconderijo que me perca. "Nem sei se gosto mais de mim ou de você" é uma contundente frase de valor atemporal. É um quadro torto na parede, a memória da pele, o sussurro do travesseiro, o escuro do teto, o verso do John.  Lennon está certo: Life is what happens to you while you're busy making other plans. While I'm busy, I barely hear. Parce que la vie est beaucoup plus simple en théorie. O no.  O valor estésico da palavra só transcende a língua quando ela não está colada na pele do outro.  Nem sempre.

Papai

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O sentido do mundo cabe em uma palavra, dita em voz alta. –Papai. Ela, em si, não traz o sentido do mundo. Ela o revela. São dois tapas no rosto e um ai, entregue. Faço uma reverência, para que minha filha me coroe. Pinto, bordo, pulo, imito macaco, quero a todo custo seu amor que já é meu. Quero ganhar o prêmio em morte do pai vivo mais pai do mundo. Vou fundo. Me desdobro, me multiplico, e vou morrer na praia, frente a frente com a vastidão do há mar. Deitado, braços abertos, rosto na areia, sinto o perfume inconfundível trazido com o vento. É Pai, chão. A espuma das ondas trazem o gosto do sal. É pista do tempero do amor, escondido nas profundezas, onde não se pode ir. Nada. É preciso respirar debaixo d’água. Lá, aqui, somente, quando semente e cruzar finalmente a linha fininha de mel do infinito. Sou grato, meu Deus, pela água que corre em mim.

Lagoo

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O silêncio tomou conta de mim choro, cordas, acorde entoo lamento lagoo me liquefaço enquanto sempre pedras do rio bamboo que atravessa torce, range, folheia chia e torce, navalhas O silêncio tomou conta de mim tomou café derramou, escorreu pelas fendas das cicatrizes Eu sei que você está lendo isso agora e quero dizer que silêncio tomou conta de mim gritava por socorro, gritava por perdão, gritava pela pele pelada do não nunca mais O silêncio tomou conta do bem O silêncio domou o querer O silêncio castrou o dever O silêncio silenciou o amor O silêncio é o rugido da dor De manhã, Diamantina De tarde, enternecido De noite, noivo Na madrugada, sequer de vestido Porque o silêncio tomou conta de mim Silêncio bordão, silêncio perda silêncio pé de moleque, sou eu descalço nas ruas coloniais do destino eu menino, atravesso Entraves Quando Desatino O matemático do amor resolve com números quânticos a equação da saudade

dó-ré-mi-fada

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Dorme fada, sonha fado. Traduz, mágica varinha: fé e exaltação. Encanta em seu cantinho, entoa em seu mundinho o drama inevitável. – Perdão. É sabida do amor. Saborosa, flor. Fomos pegos!, somos cegos... Seu gosto perfume inebria e envolve. Brincante, dormita e desperta. Fadices. Olho com olhos melados de paterna idade. É o amor que escorre em minhas bochechas. É o amor que escolhe as minhas queixas. Quentumes. Vejo os vaga-lumes que chegam com a nossa noite. Revoam em volta da fada. Povoam minha morada, acendem meu lugar no mundo. Sou fundo. E de lá de dentro, grito seu nome, do escuro de mim. Ecoam sentimentos, súplicas. Bailam em espiral com os vaga-lumes encantados. Você: sonho. Você: banho. Você, sempre, eu no colo da eternidade.