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Às vezes

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Quanto vale o Amor? Às vezes, ouço essa música. Às vezes, não. Às vezes, reflito sobre isso. Às vezes, não. Às vezes, canto, às vezes, praça, às vezes, mato, às vezes, caça, às vezes, brinco de esconder. Às vezes, não há esconderijo que me perca. "Nem sei se gosto mais de mim ou de você" é uma contundente frase de valor atemporal. É um quadro torto na parede, a memória da pele, o sussurro do travesseiro, o escuro do teto, o verso do John.  Lennon está certo: Life is what happens to you while you're busy making other plans. While I'm busy, I barely hear. Parce que la vie est beaucoup plus simple en théorie. O no.  O valor estésico da palavra só transcende a língua quando ela não está colada na pele do outro.  Nem sempre.

Papai

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O sentido do mundo cabe em uma palavra, dita em voz alta. –Papai. Ela, em si, não traz o sentido do mundo. Ela o revela. São dois tapas no rosto e um ai, entregue. Faço uma reverência, para que minha filha me coroe. Pinto, bordo, pulo, imito macaco, quero a todo custo seu amor que já é meu. Quero ganhar o prêmio em morte do pai vivo mais pai do mundo. Vou fundo. Me desdobro, me multiplico, e vou morrer na praia, frente a frente com a vastidão do há mar. Deitado, braços abertos, rosto na areia, sinto o perfume inconfundível trazido com o vento. É Pai, chão. A espuma das ondas trazem o gosto do sal. É pista do tempero do amor, escondido nas profundezas, onde não se pode ir. Nada. É preciso respirar debaixo d’água. Lá, aqui, somente, quando semente e cruzar finalmente a linha fininha de mel do infinito. Sou grato, meu Deus, pela água que corre em mim.

Lagoo

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O silêncio tomou conta de mim choro, cordas, acorde entoo lamento lagoo me liquefaço enquanto sempre pedras do rio bamboo que atravessa torce, range, folheia chia e torce, navalhas O silêncio tomou conta de mim tomou café derramou, escorreu pelas fendas das cicatrizes Eu sei que você está lendo isso agora e quero dizer que silêncio tomou conta de mim gritava por socorro, gritava por perdão, gritava pela pele pelada do não nunca mais O silêncio tomou conta do bem O silêncio domou o querer O silêncio castrou o dever O silêncio silenciou o amor O silêncio é o rugido da dor De manhã, Diamantina De tarde, enternecido De noite, noivo Na madrugada, sequer de vestido Porque o silêncio tomou conta de mim Silêncio bordão, silêncio perda silêncio pé de moleque, sou eu descalço nas ruas coloniais do destino eu menino, atravesso Entraves Quando Desatino O matemático do amor resolve com números quânticos a equação da saudade

dó-ré-mi-fada

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Dorme fada, sonha fado. Traduz, mágica varinha: fé e exaltação. Encanta em seu cantinho, entoa em seu mundinho o drama inevitável. – Perdão. É sabida do amor. Saborosa, flor. Fomos pegos!, somos cegos... Seu gosto perfume inebria e envolve. Brincante, dormita e desperta. Fadices. Olho com olhos melados de paterna idade. É o amor que escorre em minhas bochechas. É o amor que escolhe as minhas queixas. Quentumes. Vejo os vaga-lumes que chegam com a nossa noite. Revoam em volta da fada. Povoam minha morada, acendem meu lugar no mundo. Sou fundo. E de lá de dentro, grito seu nome, do escuro de mim. Ecoam sentimentos, súplicas. Bailam em espiral com os vaga-lumes encantados. Você: sonho. Você: banho. Você, sempre, eu no colo da eternidade.

Surpresa

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Trabalhando. Ando três quarteirões até o restaurante onde almoço. Quando estava a três passos do restaurante, me deparo com uma amiga, grávida de sete meses, hospedada no mesmo local. Ela carrega compras. –Deixa eu lhe ajudar. Eu disse. –Mas você não vai almoçar aqui? Você vai voltar lá e levar as compras pra mim? –Sim, qual o problema? –Só acho que você vai fazer papel de bobo. –“Papel de bobo”?!? (Eis o título do post) –Sim. Não preciso que você volte três quarteirões. Eu estou grávida de sete meses, não estou doente. –Eu sei que você não está doente. Está grávida. Não achei que isso seria “papel de bobo”. Achei que seria uma delicadeza. –Então tá: se você quiser andar nesse sol, carregando essa sacola pesada pra mim, por três quarteirões, pra depois voltar pra esse mesmo lugar, fique à vontade... Fui. Chegando: –Vem cá, deixa eu lhe agradecer! (querendo me dar um abraço) –Não precisa, não fiz nada demais. Só estava fazendo o meu “papel de bobo”. Caminhando de volta ao rest

No Lago Negro sonhando com minha neta

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Com pai, chão. É o que sinto. É o que sei. Ninguém que lê sabe mesmo por onde andei. Senti Caminhos. Sobrevivi. Mesmamente. O onde virou quando, o ontem se eternizou. Nas águas do Lago Negro, profundezas. Sento-me à sua margem. Olho de soslaio a foto que me deságua. É bica. É pranto. As marolas do desejo vem cá fazer margem. A grama não molha. O céu que emoldura a foto está impresso na superfície das águas. Às vezes, vemos. Às vezes, não vemos. É o Vento que fustiga a compreensão da gente. Mas está lá, escondido no movimento silente das parábolas líquidas. Áquo-me enquanto percebo a presença gárcica do meu pai. Ele espera imóvel a chegada de sua neta, enquanto observa o céu das águas. Calmo. Calma alma ama. E respira. Nada. E o Vento não tarda a nos surpreender.

Telescópio

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Minha irmã, Gabriela, me fez um carinho difícil de colocar em palavras. Tento. Minha filha mora há 2.222km da minha casa. Lá, foi onde passou o dia dos pais. Gabriela pediu à mãe dela que gravasse: fala pra tia Biba o que você quer que ela compre pro papai de presente de dia dos pais. – Tia Biba, eu quero que você compre um telescópio pra papai! Disse ela, com apenas três anos e meio. Me espanto. Esse pedido é cheio de proximidade. Esse pedido é cheio de referências muito minhas que talvez ninguém ainda saiba. Quando eu tinha cerca de 10 anos de idade, Beto Bomfim, meu amigão – amigo do meu pai que me adotou como uma espécie de afilhado – me deu de presente uns binóculos. E isso marcou pra sempre a minha infância. Me marcou porque não pedi isso a ele. Me marcou porque, já naquela idade, intuí todo o simbolismo referente a um presente como esse... Me marcou porque foi meu amigo querido que morreu ferido com carvão em brasa pela palavra sexo, pela palavra