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Tango

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Tango. Eu Tango. Tango escolha, marcação, ando marcado pelas mazelas do tempo. Só sentimento, só pulsação. Na milonga da vida, o círculo do nosso salão ainda chega ao lugar onde nos encontramos. Sapatos de couro, o couro da pele, seu salto nos deixando pra sempre no piso da pista. Delicadamente desenho com o bico do pé: espora que fere gillette o terreirão de minh'alma. Bandoneón que chora. Que grita silêncio com a mão no vidro do ser. Encarcerado, pra sempre, no tango sangrento da gente. O violino me empurra, suplica, aperto seu coração contra o meu. Síncope e ar rarefeito. Peitos, desejos de arder. Voltamos pra avançar, têmporas coladas, pessoas imantadas que sabem amar. O Tango é escolha. Anda comigo, anda. O repique rascante da música para o tempo, mão aberta, dedos prensados contra a seda penugem delicada das costas. Faço um oito com você. Eternamente num passo, o laço dos dois que anuncia, o nosso vazio, o tom do querer. O Tango é um jeito de ser. Eu Tan

Gilberto Gil, Caetano Veloso e minha filha.

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São duas da manhã, voltei da chopperia Albano's depois de ir ao show do Gilberto Gil. Gil está bem, estive com ele, tive a oportunidade de encontrá-lo novamente depois de muito tempo e entreguei pessoalmente o meu livroCD 8, dedicado a ele, que lancei em 8/8/2008. Ele fez questão de me ouvir atentamente, enquanto explicava sobre o que se tratava este presente e não quis que entregasse a outra pessoa, disse que ele mesmo queria ficar com ele. Fiquei muito emocionado. A bela moça que estava ao meu lado me perguntou: quer que eu faça uma foto? – Não, grato. Eu disse a ela. Foi como quando eu o entrevistei por mais de 40 minutos para o meu trabalho de conclusão de curso. Não quis tirar uma foto com ele. Foi também como quando eu me encontrei com ele, na ocasião do show Tropicália DUO, há 17 anos, quando ele me apresentou o Caetano Veloso. Sim, eu tenho isso no meu currículo. Gilberto Gil me apresentou o Caetano Veloso. Um dia tenho que escrever sobre isso. Em nenhuma de

Hera é

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No frio, a janela do quarto ficava fechada. Ele levantava cedo e ligava o chuveiro para esquentar o box, enquanto ela ronronava na cama desarrumada pela madrugada afora. Conhecia cada gesto, trejeito, conceito, espera. E deita mais um pouco, pra amanhecer dentro deles a manhã que já acordou lá fora. Tinha passarinho e fresta de luz. Tinha arranhado na porta. Tinha detalhe, segredo, pele clara, pele quente, sorriso. Tinha tudo que era preciso. Pernas que se enlaçavam, cabelos desgrenhados, edemas que nasciam felizes, crias do não me deixa. A vida era ida sem volta, eles corriam na relva da cama, eles brincavam na trama de não existir sem doer. A morte acompanhava de perto a vida absurda ao extremo, o sumo da vida sugado, nas bocas, nas unhas, na inspiração, o perfume. Coração-lume. O vazio era tão enorme, imenso, vasto, profundo, que brincavam de jogar um ao outro no precipício de si. Suicidaram-se, muitas tantas vezes. E lambiam as feridas dos corpos caídos do outro, até

O telhado do engano.

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– Quando eu me separei, o meu maior medo era de me apaixonar novamente. Hoje, o meu maior medo é a perspectiva de que isso nunca mais aconteça... Ela me disse em uma conversa. Hum... (pensei) Acho que sei o que estava sentindo. É uma espécie de saudade... Você já teve saudade do que não viveu? Você já se arrependeu do que não fez? Quando a noite cai, as confissões sobem à superfície para respirar. O Tempo nos questiona. Afinal, já temos tempo pra responder... O sono de mim invade e resolvo dormir sem escrever o que queria. Da janela da parede, uma gravura de Juraci Dórea, artista baiano de elegância ímpar, me olha. Me fita. Me fala. As agruras do mundo não cabem dentro do ser Tão. Ou cabem? Por falar em apaixonado, me lembro do Gikovate, definindo paixão... diz ele: paixão = amor + medo. Sabe, nunca fui tão apaixonado quanto pelo meu amor que escolheu ir. Ela não foi pra Pasárgada, não é amiga do rei. Resolveu ir, simplesmente. Não acreditou que eu pudesse, que eu fos

A mulher e o feijão

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– Bê, ela é uma mulher !!!!! - comenta Fabiana Ferraresi, amiga minha, ao ver a foto dela em pé, ao lado do avô. É sim, Fa. Minha filha é uma mulher. Cheia de vontade, de personalidade forte, de uma calma e de uma certeza que assustam um pai como eu. Ponho a mão debaixo do seu queixo enquanto recebe uma colherada de arroz, feijão e couve de sua mãe cuidadosa, e ela empurra a mão com força. Veemente. Franzindo o cenho e protestando. – Hum! * (*Não vou deixar cair na roupa, pai. Você acha que eu sou o quê? Que saco.) Sou só um pai, filha. Sou um pai só. Imagino. Ela moça, ela mulher, ela vida. Ela riso, ela luta, ela apoio. Ela conquistas, ela feliz. A mulher que mora na minha filha merece todo o amor. Crescer, ganhar, perder, cair, levantar, dançar. A mulherzinha da minha filha adora dançar. Sua mãe falou que gosta de Tom Jobim. Eu, pai, me enterneço. Sua mãe falou que gosta de Rock. Eu, pai, me encanto. Espero que não goste de breganejo universitário. Nem de funk. N

A onça que faz au-au

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Pegamos você e sua mãe 14:30h da tarde, filha. Sua avó já não sabia mais onde colocar seu coração, que pulava de alegria, assim como o meu. Ontem, quando sua mãe cancelou a ida ao zoológico e marcou pra hoje, sua avó já começou a sonhar. Eu corri no seu quartinho e peguei todos os 11 bichinhos de fantoche de dedo que comprei pra você pra deixar separado. Eu sabia que teríamos a oportunidade de imitar os bichos juntos, seus sons, seus trejeitos, cada uma de suas macaquices... Eu queria saber se você ia entender a relação dos bichos com os fantoches, se ia fazer seus sons depois que estabelecesse essa relação. Com um ano e três meses, pra você isso é fácil, tendo em vista que maneja um Iphone bem melhor que sua avó (se bem que a comparação não lhe favoreceu, filha). Seus olhinhos brilhavam como os de sua avó quando chegou no carro... Pegamos a Afonso Pena, rumo a Pampulha e é incrível como tenho que me policiar, pra não ficar com os olhos somente no retrovisor. Tudo que quero ver

O dia em que Beatriz falou vovô e vovó

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Beatriz ca-minha. De mãos dadas com o vento, faz curva, quer correr, quer brincar. Arqueia a sobrancelha do meu amor. Ri de mentira, ri de verdade, ri pra chamar a atenção. Tosse de mentirinha, faz charme. Aponta o destino, não quer ser foco do olhar, quer só estar feliz, Beatriz, rima rica nos meus ouvidos de pai. Suas mãos grandes tocam piano na minha expectativa. Maneia a cabeça que eu digo sim, minha filha. Pra tudo. O cachorro é Au-au, o cavalo, Pocotó, Beatriz é Bê, Deus é humanamente indizível. – " Curro-curro, Curro-curro, qualé mão que ocê quer? " Acha a pedrinha escondida na mão da Tiavó, minha filha. E comemora a existência do bem. Quero subir a escada, mamãe. Quero água. Quero apertar o botão do elevador. – Óh! (aponta) Quero só me maravilhar com o fato de estarmos vivos e compartilhar a beleza do há mar, além da praia, além das montanhas, além das dúvidas, além dos questionamentos todos dos adultos infantis, papai. Infantis? Quem nos dera,