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Quadros

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Fiz molduras para várias fotos. Fiz molduras para quadros. Gastei um monte de dinheiro pra fazer as molduras.  Misturas. Quadros que penduro na parede da mente. São fotos, quadros, momentos, lembranças. São ritos da passagem, das marcas emolduradas do ser. Eu tinha pessoas penduradas na geladeira. Mas fui obrigado a jogá-las no rio do esquecimento.  Foram-se fotos, bilhetes, anotações, lembranças. Foram-se as danças. Talvez eu não chegue mais a dançar novamente. Talvez eu só dance na moldura do esquecimento. O rancor é o cimento da lembrança. O meu desejo é que dança. Antes da primeira foto, antes do primeiro passo, antes de qualquer coisa, a escolha da moldura. Onde vamos emoldurar nossos corações? Em qual moldura vou colocar o meu último amor? Em qual moldura se coloca uma dor? Às vezes penso que as pessoas passam mais tempo escolhendo as molduras que  fazendo suas fotos, que pintando seus quadros, que vivendo algo a ser marcado pelo tempo do olhar. Quero

O Quartinho de Criança

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Amor de pai, falta marcar na parede que você já está com 80 cm, com um ano e um mês. Falta ficar em pé na marquinha pra me ajudar a marcar, que você já sabe como ficar em pé. Seus pés paralelos equilibram seu corpinho, seus bracinhos paralelos equilibram as coisas todas, sua risada equilibra seu pai. Ri que eu não caio, minha filha. Falta pegar os dadinhos e ver os números, ver os personagens da parede, pintados nele, falta esparramar os lápis da canequinha do Pernalonga no chão pro papai catar. Falta você sentir o peso do seu cofrinho de porquinho, que papai ainda não levou na Caixa pra abrir sua poupança de moedas. Nesse um ano, coloquei religiosamente todas as moedas de troco lá dentro e ele está gordinho como você, filha. Falta ver como a bonequinha da Tia Brenda Ligia dança alegre e venta sua cabeleira doidinha, igual a titia. Falta a gente fazer uma oração olhando pro oratório que aninha o espírito santo, minha filha. Tia Guigui pintou, papai colocou o espírito santo e pendu

O Ninho da Coruja

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Tem um ninho de Coruja no meu coração.  Da Grande nasceu uma Corujinha que acabou de acordar e alçou seu voo do mais alto despenhadeiro. De Corujinha, virou Coruja. E sua mãe, de Coruja virou Corujona. Eu, lagarto, não sei voar. Ousei querer acompanhar a troca de penas, a muda, o novo viço, o pio, o grito, enquanto suas pupilas se contraiam pela luminosidade do sol, que veio pra esquentar as asas. Quando voou, sua mãe leu pra mim o texto que achou no ninho, e me pediu pra cravar aqui, na minha montanha de sonhos, como homenagem da mãe à jovem e bela Coruja em curva perfeita no céu: " Tudo o que eu quero nessa vida é ser. Quero muito ser. Ser sempre. Eu gosto muito. Eu gosto muito de tudo, de todos. Me perco! Vivo nu m fluxo gigante de idéias que carregam meus pensamentos e os levam para uma dimensão que nem eu mesma entendo. Da maciez de todos os atos, da pele vem a música, a poesia que completam um todo, um meio e o redor. Tudo o que eu quero nessa vida é ser

A receita do inferno

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Terceira série do primário, aula de religião, e um aluno comenta, após a explanação do professor:  - Ah, professor, mas toda vez que eu deito na cama à noite e começo a rezar, eu durmo. E o professor:  - Ótimo, quer dizer que você dormiu em oração! *** Em outra aula, indagado pelo o quê era o inferno:  - Acho que a melhor maneira de se entender o inferno é pensar em uma mesa posta. Sabe, daquelas mesas de natal mais lindas do mundo? Pois então! Com peru suculento, um delicioso pernil, um arroz de forno, o melhor vinho tinto servido nas taças, uma farofa de frutas bem rica, uma bela e sortida salada, todas as castanhas, uma tábua de frios como nunca foi vista, um grande filé com um molho de cogumelos, os pratos todos já servidos, o melhor linho, os melhores cristais, os talheres de prata e você ali, sentado, com muita fome. Acontece que, inexplicavelmente, já que suas mãos não estão atadas, você não consegue apanhar nenhum alimento, não consegue pegar sua taça, não consegue

Em Breve

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Quase quase pronto, meu livro 2 me chacoalha. Escrito, revisado, zelado, carinhado, se apresenta pro que veio. Veio por você. Tem você no agradecimento. Tem quem me faz ouvir, quem me faz falar, quem me faz pensar, quem me faz calar. Tem um pouco da minha filha, um pouco do meu amor, um pouco do medo, um pouco da dor, tem um pouco muito de muito pouco. Mas de uma verdade que me interessa. Aprendamos com Robert Frost na estrada amarela de outono. Eu, folha seca, me desprendo da árvore a empreender a espera. Sou fera. Besta mesmo. E através do conceito difundido na mente, somente, quem precisa. Quem vai comprar meu livro? Quem vai ler? Quem vai escutar o que ali pulsa, a independer dos humores alheios? Quem vai dizer obrigado? Quem vai pedir perdão? Quem vai pensar que o amor merece amor, merece amor, merece amor? Há risadas no mundo deliciosas. Deliciosas como você nunca viu ainda, pode crer. Sonho, acordo, faço café, acordo. Escrevo. O verbo crer é conjugado no meio da escr

Haikai do espelho

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o sal da idade se chama saudade

Se O acaso me quiseres

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Acordei a primeira vez 1:00h. Virei, abracei minha filha e dormi. Depois, 5:00h. Tateei, e você não estava do meu lado direito. Abracei você e dormi novamente. Levantei às 7:00h. Pra quem tinha ido deitar 21:30h no sábado, tinha sido quase um recorde mundial. Coloquei a blusa branca comprida, a camiseta do grupo de corrida, uma sunga, a bermuda de correr por cima, meias sem cano, tênis que sua mãe me deu, óculos de correr que minha irmã me deu, o Ipod que ganhei de sua última viagem, boné e estava pronto pra tomar meu café. Fiz um ovo quente. Lembrei que há 5 meses não levo um café na cama. Café na xícara nova do Neruda, que o Peregrino me deu de uma viagem que fez, sanduba de queijo no pão invertido, criação minha, uma espiada na janela pra ver em que pé que tava o clima externo, já que o interno tava nublado. Bê ijo na Beatriz de bom dia e lá vou eu, pro tratamento psiquiátrico matinal, 15km no Belvedere, dessa vez sem passar nas quaresmeiras da Zuzu Angel. Mínimo de 6:15,