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Balanço das horas

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Mais um filme para ser avacalhado por mim em um post. Ou melhor, mais um pra não ler se não tiver visto o filme "tão forte e tão perto". Sou pai. Esse já seria um motivo suficientemente bom pra que eu me tocasse com o filme, independentemente da tradução do título ser, pra variar, uma agressão. Aliás, eu gostaria muito de saber quem são os gênios que traduzem os nomes dos filmes pro Brasil. Gostaria de prestar a minha homenagem particular a eles. Entre quatro paredes, se for possível. Mas vamos voltar ao mote do post. Sou pai e estou vivo. Sou pai, estou vivo, tive avô, tenho traumas, já tive dificuldade de relacionamento com meu pai, estou a 2300km de distância da minha filhinha de apenas um aninho de idade, não faço a mínima ideia de quando me será possível reencontrá-la... esses já seriam motivos suficientemente bons pra que eu fosse tocado com o filme. Mas vai além disso. Na cena do balanço, uma revelação. Pra mim. Não foi fácil ficar (literalmente) enta

30 EMPADAS

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Acordou com um desejo incrível de comer empadas. Viu o sol, decidiu aceitar seu brilho. Mesmo pela sombra, caminhou até a praia, onde o mar a aguardava. Inspirou. E começou a observar a vida: a menina gostosa que passava de patins e rabo de cavalo, o desdentado sorridente que varria a areia do calçadão, o casal americano de meia até a canela e tensão nos ombros, a menininha que queimava o pé na areia, o vendedor de mate, o grupinho de amigas excitadas, o solteiro, simples e solzinho que passava, o solteiro simples e sozinho que não passava, o vigia, o seu guarda, o au-au. No posto de sempre, no barulho de sempre, entre as bicicletas de sempre, perto das aposentadas de sempre, decidiu não sair dali até que o dia acabasse. E que o tempo a fizesse companhia, enquanto ardia o mormaço das horas e o menino fosse e voltasse vinte vezes na borda das ondas. De vez em quando, abria a vasilha velha de sorvete e tirava uma empada. Todas douradas. Todas de frango. Todas com recheio molhado,

Você faz Amor em 15 minutos?

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Escreveria um livro sobre este carnaval. Mas vou escrever só um post. A Árvore do Amor, de Zhang Yimou, filme que vi sozinho em Brasília, lugar para onde fugi, foi um presente mágico desses dias. Fiquei com um pouco de pena do casal, que deveria ter aproximadamente 21 anos, cada, que saiu 15 minutos depois do filme começar. Fiquei com pena do mundo onde esse casal vive, mundo onde as relações são todas de consumo. Até as interpessoais. É difícil ver um filme como A Árvore do Amor quando as referências todas são balizadas pelo mundo do consumo. Há quatro meses sozinho, penso o quão difícil é estabelecer uma relação hoje em dia, em que não sejamos perpassados em algum nível pela tutela do consumismo. A roupa, o presente, a viagem, a pessoa, o status, o programa, consome-se tudo. E tem que ser rápido. O mundo do consumo não pode esperar. Aliás, não se pode esperar nem 15 minutos... onde já se viu? Em 15 minutos de filme um não consumiu o outro? Que saco... Deve ser chato mesmo.

Sobre a finitude das coisas

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O bom do meu segundo livro ainda não ter ido pra gráfica é que posso trocar a única dedicatória.

Sol ela.

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Céus do Planalto Central.  Voando, vejo o pôr-do-sol.  A terra negra, o céu azul acima das nuvens, o cinza das nuvens, o dorso alaranjado do mundo. O finíssimo contorno das nuvens brilhando luz, delineando formas. Há sombra, há luz, há clarão. O Sol escondido aparece em tudo que toca. Maravilhei-me de tudo. Penso vastidão do mundo, penso planalto central, penso visão além do alcance, penso vasto, profundo, eternamente momentâneo. Penso no amor presente nas coisas todas.  Essa luz é amor, penso. Essa sombra é amor. Penso. A janelinha do avião é janela pra minha alma, que vasteia sem medida quando nada o rio abaixo, a correnteza me levando.  Quão extenso é o mundo, quão misturado, quanta terra, quanto ar. Quanta imensidão de nada onde o tudo insiste em incomodar. Quanta beleza há? Um outro rio é outro, é mais bonito, é mais laranja e prateado agora, daqui, do céu da tarde que vai pra Brasília anoitecer.  Penso níssimo.  Como tudo pode ser tão

O único texto único.

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Da mãe, estica os bracinhos. Abre e fecha a mãozinha, querendo pegar. Vou com meu pai, ela diz. Onda em meu peito em praia, Beatriz me cala, me calo, me colo. Soul solo. Ela não sabe do medo e da vergonha, das escolhas profanas, da pequenez dos homens. Não sabe das diferenças tantas, ela sabe de mim. Me tem e me vem, me voa e sou tudo aquilo que ela pode querer quando estica os bracinhos agora: Sou sem demora. Há mar, Beatriz. Independente de tudo. Preceitos refeitos, tenho a seta amarela do amor a apontar Santiago, que insiste em pedir: - Anda! Ando. Faço índiozinho batendo a mão na boca, estico a língua pra ela pegar, tiro e coloco os meus óculos vinte vezes vinte vezes, ela escolhe o símbolo do amor infinito que trago em meu peito pra brincar. Ela é sábia e sabe da sebe de Deus. Entrelaça caminhos, entrelaça destinos, entrelaça o há mar de ser menino. Sou sino. Pranava Om. Morte e vida, Severina, sou sina, sou só estar sem demora. No tempo do ser. Kairoz é noz que vigia,

Haikai da superação e aprendizado

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O degrau que desafilha é despenhadeiro pro pai.