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Tratado sobre o amor

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o amor é pedra de gelo o meu sonho balde de prata

Deus sabe o que faz

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ainda bem que minha dentista não é proctologista

O tudo e o nada de Carlos

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Carlos elogia os filhos para se sentir bem. Só Carlos pode ter filhos tão bonitos, tão talentosos, tão inteligentes, tão astutos, tão desbravadores. Afinal, eles são filhos de Carlos. Carlos nunca elogia seus filhos. Para eles mesmos, é claro: ele os elogia para outras pessoas. É, os outros têm que saber que Carlos tem filhos como aqueles. Nas reuniões de seus filhos, Carlos quer mostrar suas fotos. As fotos dele, de Carlos. Não, as fotos dos seus filhos não podem ser tão interessantes como as fotos de Carlos. As coisas todas de Carlos, sim, devem ser mostradas nos eventos de outras pessoas, para que ninguém se esqueça do tanto que Carlos é interessante. Você sabe, ninguém pode ser mais interessante que Carlos. Sim, suas blusas, suas calças, seus sapatos. Seus chapéus. A música que Carlos ouve, a música que Carlos toca. Tudo é mais digno de atenção. Porque tudo é de Carlos. Aliás, Carlos é tudo. Acontece que Carlos não precisa de ninguém. Como ele é tudo, tem tudo, sabe tudo, faz tudo,

somente

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para lembrar que o amor existe para lembrar que não sou triste para lembrar que o bem persiste para lembrar que o bom assiste para lembrar, sofrer é chiste se rirmos de nós se rirmos dos nós a dor nos faz cócegas a pedra escada se rirmos dos nós se rirmos de nós é impropério viver no mistério das tramas oblíquas criadas por nós nós?

O som que bate à porta

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Acabo de ouvir uma bomba. Não sei se um escapamento, não sei se um fogo de artifício aqui da favela, do lado da minha casa. Não sei. Ouvi uma bomba. Ouço carros que passam na chuva, ouço uma moto que também passa, gritos das crianças da vizinha. Uma mulher, deve ser transeunte. O som das castanhas do pará de dentro do meu crânio. Hoje, mais cedo, ouvi meu coração. Deitado na mesa de tratamento da fisioterapeuta que me coloca no lugar uma vez por mês, ouvi meu coração que batia forte. Ele dizia que eu estou caminhando, mesmo deitado, mesmo longe da Espanha, mesmo parado. Ele dizia da saudade do Caminho, da saudade da descoberta de um amor puro como parecia não haver, da saudade de olhar nos olhos de mim mesmo no reflexo em movimento, no lago em que me banhei por tantas vezes no Caminho. Talvez todos esperassem uma mudança brusca. Talvez todos esperassem mudança nenhuma. Eu, a independer da espera, resolvo o passo, passo, atravesso, e me encontro no eucaminho .

Novo Céu.

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Na foto, Ramiro e eu no Caminho de Santiago. Por minha amiga australiana Angela Phillips: http://www.designbyangi.com.au/ Há um novo céu. Voltar do Caminho de Santiago é muito mais demorado do que parece. As coisas, todas, me parecem confusas. Olho as pessoas e vejo outra gente, outro jeito, é outro olhar. Não quero mais isso ou aquilo, estou paciente, estou feliz, estou mais tolerante. Espero que o meio de cá não me influencie tanto como o meio de lá. Ter experenciado o outro lado da face é um privilégio. Não digo "de poucos", como não digo "de quem queira". Não sei se é assim, não sei se tem regra. Posso dizer que, para mim, foi positivo na minha análise, e vivenciar tanto amor transborda. Ainda bem. Semana passada, fui convidado pela Ana para conhecer o Projeto Assistencial Novo Céu . Na verdade ela me convidou há muito tempo. Mas nunca tinha tido coragem de ir lá. Sim, coragem. Não é uma coisa fácil pra mim ver mais de 70 pessoinhas: crianças de colo, "ado

BOB and I

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"- ... até as árvores tão com uma cor diferente! ...", disse o Ramiro, ao comentar comigo sobre o que está sendo voltar do Caminho de Santiago. Eu não sei, Ramiro. Tudo me parece diferente agora. Preciso de um tempo, preciso de um espaço. Olho para as pessoas à minha volta e elas me parecem outras. É como a música "Lente do Amor" de Gilberto Gil. Olhar o novo é simples. Olhar de novo pode ser complexo. Ainda mais se se tem um novo olhar. Estava tudo aqui. Estava tudo ali. Mas algo mudou... Maravilhar-se com as coisas simples tem um gosto especial. Olhar as árvores e percebê-las com novas cores tem um sabor indescritível. Quem quer olhar o novo? Quem quer olhar de novo? Quem deseja um novo olhar? Inspiro, agora mais forte, e caminho. Continuo. Contínuo. Até lá, no Caminho de Santiago, é possível fincar o novo como se fosse uma bandeira do descobrimento... Quando comprei em uma festa popular um balão do BOB ESPONJA e decidi caminhar com ele, muitos peregrinos que me v