Postagens

Caleidoscópio

Imagem
Ganhei um caleidoscópio. Quem me deu não sabe o que significa. Somos imagens. Cacos coloridos que, juntos, reconfiguram o ser. O não ser. Desenham o estar. Dependemos da luz que incide em nós, que atravessam nossas falhas, que fazem entoar nossas cores tantas, que refletem o brilho intenso-intrínseco que trazemos. Mas ainda assim, somos cacos. Também dependemos do outro, que nos viram de ponta-cabeça, nos moldam, nos comandam, nos sacodem, nos atrapalham, nos ordenam. Quantas vezes somos orientados por eles? O princípio da alteridade nos faz vítimas dos desejos alheios, muitas vezes. E o olhar... É no olhar do outro que nos tornamos, independentes de sermos. Ser e tornar. A questão do movimento novamente presente. Movimente o olhar sobre o outro. Movifalaverdade e diga o que acha dele. O outro também é só cacos. Mas no jogo impossível do querer, caleidoscópiosesseguram, se rodam-rodeiam, se sacodem, se colocam ao sol, na luz brilhante do desejo e se misturam catando cacos, contando so

De teste?

Imagem
Tenho acordado volta e meia às 5 da manhã.  Tá variando. Essa semana mesmo acordei 4:20h. Fico puto com essa minha falta de controle. Tenho estado tenso, ansioso, em busca, demais... Em busca de mais. Talvez por isso tenha me tomado de assalto essa idéia de fazer o Caminho de Santiago com meu amigo de colégio. Sabe quando deitamos na cama e o sono é superficial? Parece que não dormimos profundamente? Eu acordo a cada 15 minutos, parece. Como se alguém fosse entrar no quarto, como se alguém fosse me chamar, como se eu tivesse esquecendo alguma coisa. Credo. Acho que isso é saudade de dormir de conchinha . Detesto abrir a geladeira só pra ver o que tem lá dentro (mesmo sabendo que tudo que está lá dentro fui eu quem colocou...). Detesto essa mania de não saber esperar. Detesto deixar os outros esperando porque detesto esperar. Detesto injustiça.  Detesto o fato de detestar alguma coisa. Acho que tenho que estudar esta palavra: " detestar ". "De testar"... hum... pista

Claras Passadas

Imagem
Eles se conheceram assim. Correndo. E ouviram a música que corre em suas veias. Ele, um iniciante nas corridas, ela, uma veterana. Ele decidiu fazer uma maratona. E pediu a ela que o encontrasse no km 30. Ela, sonhadora, amorosa, entendeu que aquela corrida era a alegoria de sua vida, o exemplo de seu sonho, o desenho de seu coração, a imagem dos seus desejos mais profundos. E fez isso: no km 30, ela estava lá. Ele achava que estava em ótima forma. Ela achava que ele já estava delirando. Na verdade era ela que o movia. O combustível, o amor, a cada passo, a cada verso,  pulmão cheio. Inspiração. Era ela, passo a passo, noite e dia, razão e emoção, vida e morte, compreensão. Era ela, resultado, desafio, união, paradigma, noção. Era ela, só podia ser ela. Foi quando seu coração deu o grito. E do fundo, bem do fundo do ser, do não ser, do indizível, ele disse, simplesmente: quer casar comigo? - foi no km 32. Ela ainda achou que ele estava delirando... Mas a adrenalina passou. A linha de c

Eu, Caminho.

Imagem
Tudo indica que em setembro começa outra grande viagem. Aliás, eu tenho uma coisa com setembro. Minha estréia profissional nos palcos, foi no musical " Manoel, o audaz " em setembro de 1990. De lá pra cá, muitos setembros vieram, como diz a música: " Quando entrar setembro... " e, normalmente, me trazem coisas importantes. Dessa vez, a viagem vai ser outra.  Ramiro Maia, meu amigo desde a oitava série do Colégio Pitágoras, com quem eu passei o reveillon este ano, me chamou pra uma viagem para o exterior para o interior. O conhecido Caminho de Santiago de Compostela vai abrigar, nos seus 800km, esses dois perdidos, esses dois empolgados, esses dois colegas de colégio e de sonhos, que insistem em brincar, com mais de 30 e uns anos de idade... Para quê a vida? Para quê o sonho? Para quê tanta energia dispensada? Se se quer viver, simplesmente? Este rito considerado um " rito de desapego ", o de fazer o caminho, pode trazer muito mais que respostas. Espero que

O banquete da Nana

Imagem
Tiradentes, jantar do dia 11 para o dia 12 de julho deste mesmíssimo ano. Foi como encontrar com vovó Lygia. O aniversário da minha tia foi um retrato que se pega de surpresa na gaveta, e revela, inesperadamente, a constatação de se ter vivido intensamente... Naninha é assim. Sempre sorrisos, sempre atenta, sempre Sempre . Ela, como poucos, sabe o que é viver. O que é sobreviver. Sabe sobre viver. E sobre: vive assim, a nos ensinar, procurando no gesto, na palavra, o texto único que a faz uma professora das antigas, alguém disposta à troca. Delicadezas nem sempre percebidas: um recorte de anúncios de jornal pra comentar comigo, a curtição de uma tarde de convívio com as irmãs, uma indignação com as coisas pequenas das pessoas com hábitos pequenos. Naninha sacode a gente. Brava, dócil, tem o sorriso no olhar. E tem o jeito de olhar no próprio sorriso... Doida com o neto mais velho da minha avó, terna com seu neto mais novo. Ontem, quando sua neta mais velha a abraçou em uma hora qualque

Paradoxo do Amor

Imagem
tudo mais abstrato  nada mais palpável tudo mais abstrato tudo mais palpável nada mais abstrato  tudo mais palpável nada mais abstrato nada mais palpável

A___________b___________________ISMO

Imagem
Sou página em branco, lutoalegria, desejo de som, - silêncio!: panela vazia. Manteiga no sol, tempero do amor, reflexo da dor, - ciume!: sou só. Nostalgia. Recibo de mim; espelho no escuro; sou duro. Afoito e sem ar. Sou pedra, sou cedro, um dízimo ínfimo... Me ame assim, borboleta do mar. Mingau sem sal que queima na língua e racha os lábios de cor-te sabor. Apaga o amarelo, me traz o vermeho, enche o balde, transborda a lata e escuta meu grito: - agonia. Sou todo todo, sou todo todo. Sou todotodo, sou todotodo. Tudo, todo e todo tudo. Me perdoa...