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Miserinha

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Entrei na igreja.  Fiz valer minha fé. Curei enfermos, impus a paz, renasci melhor.  Renovado.  Renoivado. Apaixonado pela vida, em consonância com O som - se é que essa alegoria é possível. Broto que rompe a semente, broto que rompe, casulo rasgado - nesga de sol. Deito sem compromisso e me ponho a velejar, meu barco imaginário brincante das águas possíveis: Miserinha do Mar é seu nome. Sobe e desce. Desliza fácil por sobre as cristas, corte de navalha que não fere nunca, só escreve letras gigantes no mar. Suas curvas, perfeitas. Seu traço é firme. Seu barulho inconfundível. É Miserinha do Mar a cortar o vento, faca quente no pote de manteiga. Meu pão se fecha. Dou uma mordida no corpo de Cristo, bebo o vinho, faço sinal da cruz, me abençôo e meus familiares... Vão com Deus, gente!

No vê-lo

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Novelo. Alegoria mítica, instrumento usado por Teseu para achar o caminho de volta no/do labirinto do Minotauro.  Instrumento?  Talvez eu devesse usar a palavra dispositivo , ao invés de instrumento.  Nas minhas associações semióticas sem compromisso, vejo o novelo como dispositivo , lembro do termo decisivo na estrutura do pensamento do Foucault:  " Conjunto de resoluções heterogêneas que compõe o discurso, as instituições, instalações arquitetônicas, decisões regulamentares, leis, medidas administrativas, anúncios científicos, proposições filosóficas, morais, filantrópicas... em resumo, tanto o dito quanto o não dito: eis os elementos do dispositivo . É uma rede que se estabelece entre elementos e tem uma função estratégica dominante. É uma manipulação de forças, invenção racional, sempre inscrito no jogo de poder. " ( retirado dos meus estudos revisados por minha professora de francês do texto Qu`est-ce qu`un dispositif? ) Interessante... e paradoxal! Como uma imagem tão c

No cantinho

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As cores despertam na praia. Se rendem ao sol, todo poderoso. Há sombras, há tonalidades, matizes que brincam com minha percepção. A areia que queima o pé me faz lembrar o sorriso menino de uma menina. De hábitos diurnos, é também dourada. Se apresenta e se esconde. Ela venta. Sopra encantos possíveis na minha natureza já explorada. Pouco deve haver em mim a desbravar. Mas o vento é criança. Pega no pé do inconcebível e atravessa as fronteiras do estipulado.  Fui pêgo. Na gaiolinha de bambu, frágil, poética, ouço o estalar seco de seus finos arames de pau. Rangem ao meu movimento. Parecem dispostos a partir, a romper a um sinal. Mas não quero. Quero esperar o jiló. Quero o banho na vasilhinha que tem lôdo no cantinho. Quero sentar meus sonhos no puleiro do alto e descobrir em qual prego a gaiola vai se pôr.

Mais uma sobre o amor

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Amor tem isso. Tem aquilo. Você sabe... Tem jeito novo de ser, maneira estranha de pensar, tem um pouco de sobreviver.  Amor tem dessas coisas.  Não é blindado, não é terno, não é feio nem bonito. É reflexo, é vermelho. Está nas coisas e cala.

Mar Verde

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Ela olha, tenta descobrir. Revelar o que lhe parece possível. Olhos distantes, fixos. Morde os lábios involuntariamente e acredita estar chegando a algum lugar. Brincos pequenos, biquini marrom, laranja, amarelo e branco. Discreto também. Discreto e "contido". Ela está bem. Observa o mar e encontra sentido em seu rabo de cavalo, em seu foco, em suas dúvidas simples de jovem mulher.  Seu namorado é sério. Gosta dela. Exprime sua rebeldia em cores vivas em seus dois braços fortes.  Ela sabe de sua sensibilidade e atravessa o mar de mãos dadas a ele. Para ela não é difícil nadar. Para ele é extenuante. Mas ele acredita. E faz do ofício seu modus vivendi .  Ela é caprichosa. E vai cuidar pra que não afoguem nunca. Nem quando o mar parecer salgado demais, a água estiver gelada demais, o sol presente demais, tudo. Tudo desse jeito doido de ser. Ela já cuida dele.  E experimenta a cerveja gelada de seu copo pra dizer que sabe compartilhar.

A Praia de Sândalo

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Acordei para o pôr do sol. Vestido roxo, o sol refletindo o rio e uma embarcação pobre atravessando o reflexo. É paz, é ano novo, é esperança. A cada marola, um pedido, um encanto, um desejo de mudança pra melhor.  São peixes que saltam da mente, em direção ao rio de sonhos e realidade. Cerveja gelada, uma mesa de jovens, garotas adolescentes exercitando a confiança em si, transeuntes de cangas. A areia suja todos os pés. Meu pê éfe tarda, e a barcarola de nome "Atum" é visitada pelo dono, que recolhe o saco de cebolas. Faltam o pente de ovos, as latinhas de cerveja e as latinhas de coca-cola. Não importa mais o merchandising. A bela Isabela ri ao meu comentário. E seu colar de sândalo exala toda a beleza da juventude na ingênua praia onde não existe rapto, corrupção, mentira, medo. Só existe o sol acima do rio que corre, ao sabor de nossas marés. E seu barulho poético indescritível...

Idílico e lúdico

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Além do sol, atrás das nuvens, por sobre as montanhas, depois do terreirão de café, vazio, lá não estou. Aqui me encontro a observar o terreirão, as montanhas, as nuvens, a tentativa do sol aparecer. Sou fato. E atravesso a paisagem com o olhar de quem, daqui, tem coragem de desbravar. A gameleira não podia ser mais bonita. O coqueiro não poderia estar em melhor lugar. O restolho de mata atlântica que cobre o mar de morros não pode ser mais real, mais preservado, mais adequado, mais compassado com meu coração de herói. O verde faz sua graça, e tenta sair por entre os tijolos do terreirão, a natureza agradece o esforço. O sabiá irrita de tão bonito. Seu canto desafia. Chama para a batalha e vence. Não há perdedor. Há o sabiá, a gameleira, o terreirão, o verde, o coqueiro, a mata, as montanhas, as nuvens, o sol, o caderno, a caneta, e eu.