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Mostrando postagens com o rótulo #saudade

Para o Mestre dos Mestres.

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Vai ser difícil reunir tanta gente interessante assim numa foto. Mas só quero falar do que está de óculos e camisa branca. Sim, à sua direita. Se você não conheceu esse cara, e não sabe de quem estou falando, sinto muito. Sinto muito mesmo. Paulinho - Paulo Cesar Coelho Ferreira é uma lenda. E como lenda, não morre, encanta. Esse filho-da-puta-muito-grande me deixou aqui com essa página em branco.  Aliás, é o que ele mais fazia. Nelsinho, na outra ponta da mesa, pode comprovar. Não tinha uma reunião ou encontro sequer que ele não me deixasse com uma página em branco. Ele queria que eu me escrevesse, a todo custo.  Pra você que chegou agora, vou tentar resumir: esse cara é um gênio que tinha um rim que não funcionava. Daí teve câncer no rim. No bom. Então, o rim que não funcionava passou lentamente a funcionar só pra salvar o cara, porque ele tinha muito o que fazer aqui. Muito a ensinar, muito a apreender. Pastor contemporâneo, arrebanhava ideias, pessoas, proj

Oponente

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Sou um difícil oponente. Cruel, sem medida. Luto comigo mesmo e perco ganho, intempéries. Aos nove anos comecei a fazer Karate, sem saber que de mãos vazias é possível dominar o mundo. O cumprimento, a saudação, o grito de guerra, o pedido de desculpas, o agradecimento, tudo se resume ao "OSS". Há quem diga que a fonética comandaria a grafia em português, que deveria ser escrito assim: "OSU". Eu, "Berunarudo", me encontro sempre na linha do dojo, no limite do tatame, sentado em seiza , em estado de contemplação. A guerra comigo mesmo já é sinal de derrota. Do outro lado, eu, também sentado, fito-me, em silêncio interno. Meu coração já não bate sincopado com meu outro eu. Fico-me. Quando caminhei comigo, pedi perdão tantas vezes, chorei, arguí, respondi, calei. Parti pra briga, me machucamos. As cicatrizes talvez tenham sido mais profundas do que eu pensávamos. Meu eu dicotômico não é dicotômico. Eule não sou mau. Eleu não sou bom. Sou, só, e ponto.

Passador

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Entro no quarto de Beatriz e lá está ele. Ao lado do porquinho de moedas que junto pra ela todos os dias. Um passador, esquecido em sua passagem por aqui. Ele me fala que ela esteve aqui. Ele me fala de seus lindos cabelos desgrenhados de criança. Ele me fala de seus cabelos cuidadosamente arrumados para ir ao ballet. Ele me fala de seu sorriso. Ele me fala de seus gritinhos infantis e de suas sobrancelhas arqueadas ao me perguntar inocências. Ele me fala do Tempo, da pergunta quando ela estará aqui, da resposta da Saudade e do abraço vazio que dou em seu quarto, toda vez que entro nele. Deixado displicentemente no que pode ser considerado uma cômoda, o passador de minha filha. O passador de minha filha. A diarista já quis guardá-lo, um cem número de vezes. Ela guarda, eu volto com ele para o lugar do esquecimento. Eu volto com ele para o lugar da lembrança. Eu volto com ele para o lugar do como se fosse ontem. Ele me lembra que ela esteve aqui. E o jeito como foi deix

Lagoo

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O silêncio tomou conta de mim choro, cordas, acorde entoo lamento lagoo me liquefaço enquanto sempre pedras do rio bamboo que atravessa torce, range, folheia chia e torce, navalhas O silêncio tomou conta de mim tomou café derramou, escorreu pelas fendas das cicatrizes Eu sei que você está lendo isso agora e quero dizer que silêncio tomou conta de mim gritava por socorro, gritava por perdão, gritava pela pele pelada do não nunca mais O silêncio tomou conta do bem O silêncio domou o querer O silêncio castrou o dever O silêncio silenciou o amor O silêncio é o rugido da dor De manhã, Diamantina De tarde, enternecido De noite, noivo Na madrugada, sequer de vestido Porque o silêncio tomou conta de mim Silêncio bordão, silêncio perda silêncio pé de moleque, sou eu descalço nas ruas coloniais do destino eu menino, atravesso Entraves Quando Desatino O matemático do amor resolve com números quânticos a equação da saudade

eu tinha muito a dizer

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Hoje, tentei, sem sucesso, falar com minha filha.  Ela não quis falar comigo.  Dizem que criança aprende com o exemplo.  Só estudei um semestre de lógica no curso de Filosofia.  Vai aí o que eu gostaria de lhe dizer hoje, Beatriz: Filha,  quando você tiver quarenta anos, quais serão suas questões? Será que você já vai ter filhos? Será que terá constituído família? Será que família ainda será uma instituição como nos dias de hoje? Será que a valorização da família vai ser novamente importante? Ou será que não, que não existirá mais tal coisa, será que também a igreja, a crença, a fé, as virtudes terão mudado a tal ponto que não daremos mais valor aos pais, aos filhos, aos irmãos? Será que o conceito de humanidade vai sobrepor o conceito da família, tornando-nos todos partícipes da raça humana de uma maneira fraterna e igualitária? Ou será que nem este conceito será de possível apreensão, dado o caminho que percorremos hoje, quando o individualismo e o consumismo tomam

A Deus, som.

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Morreu ontem, do alto de mais de oitenta, bem vividos, tio Adelson. Tio Adelson, marido de tia Guigui, pai de Anamaria, Adelsin, Élida, Bau, Rachel. Gúia para os amigos, representante alvinegro de peso, tio Adelson era como um paralelo de minha mãe. Me explico. Coração bom como poucos, unanimidade afetiva e efetiva, meu tio, que muito me considerava como neto, comia pelas beiradas. Mineiro de natureza, tinha no jeito carinhoso e paciente escudo e espada. Quem o conhecia de fato sabia que Seu Adelson era homem dos que vieram com "frichilin": sucesso com a mulherada garantido, quem não gosta de um ouvido, uma palavra amiga, um conselho, um ombro, um sorriso? Cativante - aquilo tem mel na lábia! E os olhos? Bau foi quem pegou seu jeito amaciado de ser. Se fosse um objeto, seria um ursinho de pelúcia. Mas era meu tio, Adelson. Durante o meu Caminho, rezou pra mim todos os dias, às 18h. Fã de seresta, fã de Orlando Silva, fã do silêncio, gostava de mandar os outros

falamar

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preciso falar sobre muitas coisas, sobretudo das que ardem. preciso falar da pontuação, do baile, do vício, do medo, do simples e do complexo, do bem, do bom, do belo, do mau, do caminho e do meu pai. preciso falar da minha mãe. preciso falar da minha filha, da saudade dela, do meu analista que me aguarda voltar, da necessidade de falar e da necessidade de calar. preciso falar a respeito. preciso falar do galo, da madrugada, dos amantes, todos, nenhuns, alguns específicos e nenhum dos que você esperava. preciso falar do amor. preciso falar de amar, do sonho da paz, da paz de sonhar, do sonhador em paz, rapazsonhador. preciso falar baixo, sussurrar, messurrar, meamar. preciso cindir, preciso saber, saberincisivamente sobre o que dizer nossilêncio de nós. preciso falar sobre os pedidos de perdão, sobre as desculpas, sob as desculpas de quem de fora ouve qualquer discurso, fala, palavra. preciso palavra. precisavra. preciso, imprecisamente disso tudo e disse nada, disso nada, disse t

Abra-se

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O sentimento do mundo cabe num abraço. Abraço apertado, abraço profundo, abraço de fé, de amor, abraço, laço do peito. O abraço abre o aço. Abraço, quando nossas gaiolas do peito se trançam. Somos passarinho a nadar juntos no mesmo baldinho. Ato de entrega, selo da amizade verdadeira, no abraço se deita no colo de Deus. Volto à infância. Sopro divino, no abraço se alinham dois corações. No abraço se aninham almas que se pretendem irmãs. Ímãs Hiato do conceito, quebra da dor, Abraço é coisa que faz o Tempo parar. Há mar, e cabe num abraço. O abraço compreende todo O universo. Poesia dos corpos, o abraço é a moldura do encontro. Nada a dizer, tudo a querer, o abraço é a verdade tangenciável do ser. Abra-se. Abrace. Agora. E experimente o ato sublime da criação conjunta. Há braço. E forte, apoio da sutil existência humana. Para o Peregrino e Cavaleiro Ramiro Maia que, descalço,  vestindo uma camisa com um peixe estampado,  atravessou o ocean

A Rainha e o Cavaleiro.

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Cavaleiro Templário contemporâneo ainda ajoelha diante de sua Queen. Uma de dois anos de idade. Ela, filha, o abençoa em sua jornada. Odisséia pessoal universal única, se é que isso é possível, sai seu fiel cavaleiro andante pelas linhas tortas de seu destino, rumo ao nada. A ideia primeira, era andar de Belo Horizonte a Recife, ou seja, a distância de 2.222km entre sua casa e a casa onde mora sua filha, pra mostrar que "Pai é só uma seta amarela". Pai é exemplo, e só. Nesse caso, o exemplo de paz. Em busca das virtudes perdidas do Bem, do Bom e do Belo, alvos tangenciados tantas vezes e dificilmente alcançados. Não foi fácil, posso dizer. Fui eu. Foram 88 dias de caminhada, 14kg que se foram pra sempre, deixados, escorridos por cada uma das gotas de suor. Bagagem extra desnecessária na vida da gente. Acho que vou lançar um Best Seller: "Emagreça 14kg em 88 dias". O mais difícil é só a caminhada do Vaticano a Santiago de Compostela. Os detalhes são fáceis.

88 - 14 = 2.500

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Nunca fui bom em Matemática. Acho que agora sei o porquê. Como provar pra minha professora, pesadelo dos idos de menino, que oitenta e oito menos catorze é igual a dois mil e quinhentos? Foram oitenta e oito dias de provações. De raio a serpente, teve de um tudo. Um dia se aprende que corajoso não é quem não tem medo. É que coragem é só a capacidade de agir de quem tem coração. Devo confessar. Foi fácil: todo dia eu chegava na porta, ao sair, e jogava o meu coração bem distante, na cidade de meu destino. Daí, era só ir buscá-lo pra minha filha. Ela não pode ficar sem ele. Quando se tem afeto, afeito no sisal do verdadeiro amor, borda-se qualquer caminho, ponto a ponto, passo a passo, linha dourada que pontua: é vida. Eu vivo. E tenho histórias de há mar pra contar. Mesmo na areia, escrevo com verdade o que a onda do tempo lava, leva, louva. Deus sabe. Agradeço por não saber fazer contas. As contas que sei, são as que bordo neste mesmo lindo pano. Vou passar um tempo agora ten