Postagens

Mostrando postagens com o rótulo #lembranças

O Caminho in verso

Imagem
À noite vem, coaxar de sapos. Um curiango pia no mato, na grota que é só breu e perguntas. O vento venta bailar das folhas das pontas, as estrelas estrelam o estrear dos pontos de luzes, ouço a corrente que arrasta impaciência no cimento do canil. A lenha já é espera, paus secos, folhas mortas, pau ferro, candeia que arderá. Ascendo aos céus, acendo na terra a fogueira que começa, divagar, devagar a vontade de crepitar. Fogueio. Meu pai é vem. Ele já vovô: – Filho, pega o acordeón pra mim. Pego, pai. – Pai, faz a volta ao mundo? Peço. E me sento do outro lado do fogo, na linha de vê-lo à luz laranja e negra do existir poético noturno. Ele tec o couro que prende o fole. Fuuuu. E arrasta a palma da mão no teclado, cabeça baixa, como se carinhasse o instrumento olhando de por sobre. Aos 11 anos, meu pai dava aulas de acordeón. Antes, tocava no piano de mentira, teclas desenhadas sobre a mesa, de quem não tinha dinheiro pra comprar um instrumento. Foi imaginando os sons das no

Dedentropradentro

Na tela, o cursor pisca esperando a escolha da primeira letra, da primeira palavra, da primeira frase. Do tema, do assunto, do tom. Da construção semântica que dê sentido à próxima meia hora da vida. Nada que será lido por muitos, nada que fará sentido à existência outra que não minha, um lamento, um coro, um grito, um chute no balde, uma pista. As palavras silenciam a beleza do nada. Escrevo o que acredito, dou nó na minha expectativa, repenso um, outro, relembro delas. As faço renascer e mato-as em sequência. Lembranças. Guardadas em caixas no sótão da mente, onde tábuas rangem a cada passo. Meu medo é que não aguentem o peso. E que o estalar da madeira termine nas tábuas partidas, e eu venha a cair na luz do vazio que lambe as gretas da passarela onde ando. Onde ando. Nhec. Onde ando. Nhec. ... Odiando, nheeeeeeeec. Crack. O-ou! AH AH AH AH AH ah ah ah ah