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Mostrando postagens com o rótulo #fé

De passageiros a condutores de suas próprias vidas

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O Trem das 7 segue cadência, por entre as tantas montanhas de Minas. Projeto rico, idealizado e posto pra rodar com a lenha dos maquinistas Tio Flávio , Érica Machado e Tânia Campos, encontrou sua estação no Albergue Municipal Tia Branca , da região centro-sul da capital mineira. Lá, pessoas em situação de rua tentam se refugiar das tantas perdas da vida, para se refazerem e continuarem a caminhar. São muitos os motivos que levam as pessoa a encontrarem essa situação em suas vidas. Um deles, o orgulho. É muito difícil aceitar que a engrenagem do mundo não tem como eixo o antropocentrismo umbilical. Outro, o medo. Será que vou ser julgado? Será que vou ser ouvido? Será que vou ser ferido? A droga do crack, a droga da bebida, a droga do fumo são só o segundo passo de quem já deu o primeiro na beirada do precipício. Muitas vezes, não há tempo de olhar para trás em busca de uma mão que nos segure, que não nos deixe cair. A batuta da Alcione conduz com maestria, pulso firme e c

O Templo do Outro

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Vou montar uma igreja. Seu nome vai ser Templo do Outro. Primeiro vou comprar um lote, construir um anfiteatro de cimento, octogonal, com oito níveis de degraus, com oito pilares em cada um dos seus vértices, coberto de piaçava. Este lote não vai ter muros. Este anfiteatro não vai ter paredes. Entra-se por qualquer um dos oito lados, sai-se da mesma forma, por qualquer um deles. No centro, no nível mais baixo, um altar. Que não terá esse nome porque, conforme a etimologia da palavra, não vai ficar no lugar mais alto. Vai ser no mais baixo, símbolo da humildade humana. Podemos chamá-lo, portanto, de Coração. Na entrada (ou saída) norte, vamos escrever e inscrever, ainda com o cimento molhado, a letra Z significando Zehut, Retidão. Nosso norte vai ser a Retidão. No oeste, onde o sol se põe, colocaremos a letra M, significando Mehilá, o Perdão. Em seu lado oposto, no leste, onde o sol levanta, colocaremos a letra B, significando Beraca, ou seja, Bênção. E ao sul, colocaremos a letra H,

Para Fernando, Nestor, Manoel e Beatriz.

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Em setembro de 1990, depois de nove meses de intensa preparação, 20 músicos, atores, dançarinos, bailarinos, cantores, instrumentistas subiam no palco do Teatro do SESI para a estreia do musical Manoel, o audaz. Com direção geral de Nestor Sant’Anna - meu pai, que hoje completa 71 anos - e roteiro de um de seus parceiros de sonhos e ideais, Fernando Brant. Dois grandes pensadores e agitadores culturais, Nestor Sant’Anna e Fernando Brant passaram a vida sendo vozes de um mundo que eu ainda não conheci. Um mundo onde a cidadania, a honra, a verdade, a justiça são Valores inabaláveis. A fala dos dois, que vem desse mundo sonhado por eles e por tantos parceiros que comeram juntos a poeira da estrada por onde passou o jipe Manoel, ecoa em meu coração até hoje, e é o discurso que, quero crer, minha filha de 4 anos vai ouvir de mim e vai pronunciar de seu jeito aonde o povo está. Fernando embarcou em definitivo no Manoel, o audaz. Todos nós embarcaremos. Em meus sonhos mais íntimos

Caixa de Lápis de Cor.

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Para ler o texto, inicie a música em respeito à minha mãe, por gentileza. – Filha, vamos combinar o seguinte: papai vai comprar um presente pra gente dar pra vovó Lili. Eu compro o presente e você faz um lindo cartão pra ela, que tal? – Quantos anos ela tá fazendo? – 70. – Só? – Só. E aí, o que é que eu compro? – Uma boneca! Toda menina adoooooora boneca! Claro que eu comprei. Pra minha menina mãe vovó. Sabe? É muito difícil escrever sobre ou para minha mãe. Quase uma unanimidade familiar, minha mãe é uma mistura de Madre Teresa de Calcutá com Coelhinho da Páscoa. Um cruzamento de fada-madrinha com Robin Hood. Da noite, o travesseiro. Do dia, a nesga de sol. Se o amor fosse uma árvore, minha mãe seria a clorofila. A Mega Sena acumulada do meu pai. Já pelejei pra defini-la um bocado de vezes e a minha melhor definição dela foi: minha mãe é uma caixa de lápis de cor. Não dá pra falar dela sem falar de gratidão. Não dá pra falar dela sem falar de fé. É impos

Quem quer mudar o nome da Branca de Neve levanta a mão.

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Acho que a gremista Patrícia Moreira merece perdão. Acho que seu erro deve ser punido. Há muito é necessário perdoar. É preciso que aprendamos o perdão, de forma definitiva e absoluta. Todos nós merecemos perdão. "Quem nunca pecou, que jogue a primeira pedra" - disse o primeiro filósofo a ir às últimas consequências com esta ideia revolucionária. A verdade é que pecamos, todos. E nem sempre por mal. Ninguém aqui está fazendo apologia ao erro. Ninguém aqui está fazendo apologia ao preconceito, ninguém aqui está fazendo apologia ao esquecimento. Não: perdoar é muito diferente de esquecer. Coisas distintas. Perdoa-se. O que não quer dizer que se esquece. Não necessariamente. Já perdoei. Muito esqueci. Mas não tudo. Lembrar o erro, tanto o seu quanto o dos outros, é importante para que ele não se repita. O presidente do Grêmio está certo: se esse episódio servir pra abolir definitivamente esse tipo de atitude nos estádios, o Grêmio terá cumprido um papel histór

Um dia atípico

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Ontem foi um dia atípico. Às 21h paramos na avenida do Contorno, logo após a trincheira para comer um sanduíche. De lá, eu ficaria no Hospital Felício Rocho para dormir com meu primo que fez uma cirurgia. Decidimos parar ali  pra que eu comesse algo porque ficava mais fácil, mais simples, é bem próximo ao hospital.  Antes de fazermos o pedido, o comentário do atendente: –Quebraram o vidro do carro preto do outro lado da rua. Estão levando uma mochila. Saí em disparada atravessando a avenida entre carros acompanhado do motoboy da lanchonete: –Vai por aqui que eu vou por ali! Bom, levaram meu computador pessoal. Todos os meus arquivos de áudio dos últimos 5 anos. Levaram as primeiras páginas do livro novo, que demorei 8 meses pra conseguir encontrar a forma de escrevê-lo, levaram a apresentação da palestra que eu darei hoje e que demorei também 8 meses pra que ficasse pronta. Não, não havia backup dessa palestra, ontem era sua finalização, hoje eu faria o backup. Curi

Para Gilberto Gil, Caetano Veloso e Chico Buarque

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do facebook de Roberto Guido compartilhado por Patrícia Tavares Instituo verbo novo: Qurer.  Proponho desafio a Caetano, Gil e Chico. Que cada um faça uma música com o novo verbo Qurer. Ou, uma música dos três, tanto faz. Tanto faz. Proponho esse verbo n'ovo, verbo de resistência, que desconstrói a pura crença edificando-a na vontade. Que tira o verbo ser, conjugado no presente, da palavra querer.  Verbo de transcendência, que dá desse modo ao querer, o benefício do inefável, da dinâmica do andar com fé, que a fé, como já nos disse Gil, não costuma faiá. Juntei na bacia da minh'alma o crer e o querer. Pra dizer que eu acredito. Pra dizer que além de acreditar, eu quero. Pra dizer que além de querer, tenho fé. Não me venha com essa história que rir é o melhor remédio. Porque não posso ficar alheio ao que leio como crítica à contemporaneidade da alienação (a foto do Gil tocando violão no mesmo sofá de uma moça que ostenta um novo caro fone de ouvido), n

À margem da vida

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É fácil reclamar da vida. É fácil colocar a reclamação como moeda de troca. Um dia, disse ao meu psiquiatra e analista que a imagem que eu tinha era a minha, em pleno inverno rigoroso, no meio de um lago de gelo que não conhecia. Me faltava um corrimão. Demorei 35 anos para compreender que é possível patinar e sentir a brisa: o carinho que o Vento faz na gente quando é decidido ir ao Seu encontro, quando é decisivo ir ao seu encontro.  Aprendi que quanto mais duro o gelo, mais deslizam os patins. Quanto mais duro o gelo, mais reflexo ele dá. Mais posso me ver. Quando patino, sei que estou em queda livre, como os aviões em parábolas perfeitas. Eternamente controlando a queda, pesados que são, até seu pouso majestoso e improvável. Para pousar, foi primeiro preciso acreditar. Ouso patinar.  Reclamar é jogar a culpa pra plateia, na espera de que o julgamento não venha, inseguros que somos. Acontece que a limitação está em quem é julgado na mesma medida de quem jul

RECEITA PARA SER FELIZ

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“ Para ser feliz. ..”. Começa a frase e eu já me lembro da abertura do Programa Infantil de domingo, do Sílvio Santos, e da música tema: “ há um mundo bem melhor / todo feito pra você / há um mundo pequenino / que a ternura fez ”. Versão gravada primeiramente pelo intermidiático Moacyr Franco para “It’s a Small World”, um dos temas mais emocionantes de Richard & Robert Sherman para a Disney. Curioso saber que o eterno Rolando Lero, Rogério Cardoso, é quem foi o pai da versão brasileira desta música que marcou gerações. Afinal, qual a receita para ser feliz? Segundo Rogério Cardoso, acho que influenciado pela máxima que “ o Brasil é um país do futuro ”, a felicidade está em algum lugar e em algum tempo que não este. Afinal, “ há um mundo bem melhor, todo feito pra você ”. Pelo visto, não este. E você, o que acha? A felicidade está em algum outro lugar? Quer saber? Aproveite. Seja feliz agora. Não estou querendo tangenciar o niilismo ou o hedonismo, nada disso. Tem muito mais a ve

The lone ranger

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2014, página em branco. A se definir. A se escrever. A ser deixada em branco. A ser lida daqui há alguns anos. 2014, página em branco. Meus dedos correm o teclado e não escolhem nada inusitado. Talvez queiram dizer que o ano do cavalo vai ser assim. Trote. Casco na terra, clop clop clop clop. Como um tic tac de um relógio. Um mantra do tempo. Um ano com copa, com eleições importantes, com inflação em alta, insegurança no mercado, restrição financeira. "Cavalo dado não se olha os dentes", diz a sabedoria popular. Não queremos que nosso cavalo precise de dentista. Queremos nosso cavalo relinchando, galopando, crina ao vento. Corcel, se possível. Puro sangue, de preferência. Cavalo de banho tomado, escovado, que brilha luz da lua, pasto verdinho, menina de vestido e laço no cabelo pendurada na cancela. Cavalo força, cavalo trabalho, cavalo fidelidade. Encontrei o imperativo do verbo ir no meu cavalo. Vou com ele. E não vou montado. Vou lado a lado do cavalo an

EU Acredito em Papai-Noel

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Estou com saudades de um adesivo dos anos 80 que víamos nos carros dos saudosos do Musical Hair: “ Eu acredito em duende! ” – E uma ilustração muito feia de um duende modelo europeu, roupinha de Oktoberfest, suspensório, gorro verde. Só faltava o caneco de cerveja. E você, acredita em quê?, ou, em quem? Nos seus pais? Na fidelidade da sua esposa? Nos pensamentos puros do seu marido? Nas bruxas? Em dias melhores? Na paz mundial? Em Deus? Em você? E no Papai-Noel? Meu professor de física, em 1992, citou um pensador – não me lembro o nome – que disse, ao ser perguntado se ele acreditava em Deus: –“Se eu ‘acredito’ em Deus? Eu ‘sei’ Deus.” Hoje, depois de caminhar 2.500km a pé, acredito, ou melhor, “sei” da dimensão do que ele me disse. Quando a fé vira certeza, é o grão de mostarda na palma da sua mão. Ele remove montanhas. O “ Eis o mistério da fé” – o questionamento zen budista corriqueiro da igreja católica – indica o caminho para que possamos atravessar vendados o vale de dúvidas

Gente em volta

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   foto: abril de 2010 O momento da solidão. Quem disse que é preciso de gente à sua volta o tempo todo? – instiga em tom de desafio. Em mundo pautado por Facebook, solidão tem outra dimensão, cara amiga. Eis o que penso. Cabe um exercício... Me faz lembrar que há tempos, uma outra amiga, à época com seus 45 anos, filhos de 23 e 21 anos, teve o susto de ser surpreendida com um “pedido” de separação. O ano havia sido difícil e resultou num natal e reveillon inesperado: uma viagem sozinha para Londres. – Vai ser bom pra eu colocar os pensamentos no lugar, colocar meus valores na balança, repensar minha vida, sabe? Foi ótimo eu ter decidido viajar. Dizia ela. Claro, a conhecendo bem como eu conhecia, estava esperando que completasse o que ainda faltava dizer, mesmo que o discurso estivesse coerente... Na verdade, estava em pânico. Se esta era a fala que tinha treinado pra tranquilizar os amigos próximos, os muito próximos sabiam que ela estava aterrorizada com a ideia de fi

Nós não temos limites

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" Sr. Anderson, posso fazer uma pergunta? " " Pode ", disse o professor de literatura. " Porque as pessoas bacanas escolhem as pessoas erradas pra sair? ", perguntou Charlie. " Estamos falando de um alguém específico? " Charlie fez que sim com a cabeça. " Aceitamos o amor que achamos que merecemos. " - pontuou o professor. " Podemos fazer com que saibam que merecem mais? ", continuou Charlie. " Podemos tentar. " - disse Sr. Anderson. (sorriso) Leia de novo a resposta do professor, inspire e expire uma vez, antes de prosseguir: "Aceitamos o amor que achamos que merecemos." Imagino que o livro aclamado pela crítica seja bacana. Não imaginei que o filme pudesse ser. Mas tem dois momentos muito específicos que me tomaram por inteiro. Um, esse. O outro, vejam vocês mesmos (e quem me conhece vai saber na hora), se tiverem vontade de assistir a uma sessão da tarde. Claro, porque o filme não p

Abra-se

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O sentimento do mundo cabe num abraço. Abraço apertado, abraço profundo, abraço de fé, de amor, abraço, laço do peito. O abraço abre o aço. Abraço, quando nossas gaiolas do peito se trançam. Somos passarinho a nadar juntos no mesmo baldinho. Ato de entrega, selo da amizade verdadeira, no abraço se deita no colo de Deus. Volto à infância. Sopro divino, no abraço se alinham dois corações. No abraço se aninham almas que se pretendem irmãs. Ímãs Hiato do conceito, quebra da dor, Abraço é coisa que faz o Tempo parar. Há mar, e cabe num abraço. O abraço compreende todo O universo. Poesia dos corpos, o abraço é a moldura do encontro. Nada a dizer, tudo a querer, o abraço é a verdade tangenciável do ser. Abra-se. Abrace. Agora. E experimente o ato sublime da criação conjunta. Há braço. E forte, apoio da sutil existência humana. Para o Peregrino e Cavaleiro Ramiro Maia que, descalço,  vestindo uma camisa com um peixe estampado,  atravessou o ocean

pé de silêncio

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Silêncio é escola  onde se aprende a ouvir. Silêncio é mola onde se joga a fala. Silêncio é oco oca da ideia da gente. Silêncio é árvore folhas, páginas em branco. Pé do silêncio, a inspiração. Seu passo, sopro. Se eu passo, silencio. Pé de silêncio, meu livro em branco. Quando fala falo,  o estupro da orelha,  calo.

Será fim?

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Do alto, lá, de dentro, pude observar. Onde não encontro, onde não procuro, onde nenhum lugar. Quando em oração, o silêncio de quem anda. A areia que o Vento sopra escolhe minha ampulheta. No cantinho das unhas dos meus pés, na costura dos panos, todos, ela quer pousar. Dormir seu sono do Tempo, seu sonho Castelo de Areia, vontade de completar algum vazio destino. Quem sabe o nome do cavalo de São Jorge? Eu sei. Serafim veio, encontrou caído, Homem que chora na Capadócia . Chorava rios destinos, estrada rasgada aos calcanhares, fissuras no asfalto da vida. Sua bile era piche a tentar remendar desatinos. O negro da noite cobriu seus olhos todos. Véu que mata, asfixia. Serafim tem dedos delicados. Pontudos. Pontua. Seis asas, seis contos, seis casos. Santa Clara naneou por um instante e ajudou Serafim a limpar seus olhos. Todos. Soprou em sua boca o Espírito Santo esquecido num canto. Onde vassoura alguma consegue varrer. Assim, segurou ombros. Levantou queixo. Ouviu queix