Medo



Heuje, caminhando para o mercado central, chorei duas vezes. 

Não há medida para saudades.

Minha incompetência aposta corrida com o desejo de mudança e vence a disputa. Sou um juiz forjado no tempo. Minha ganância moldada pela cultura católica, minha ira sufocada pela doçura de minha mãe, minha revolta domada por toda leitura. 

A mansidão amainou a tempestade. Gelei-me.

Não penso mais em zarpar, não mais em saltar, minha espada, embainhada, enferruja com o pranto dos momentos de solidão profundos.

Colhi as velas no mar aberto. Me sentei no calado do barco, no calado da vida, nu, calado Davi.

A soma dos pesos não permite balanças.

Quando distar-me terei ido.

Findo, derrotado e re-partido.

As chagas do berço dóem cicatrizes húmidas.

Os queijos caros e premiados que comprei no mercado central tem fungos invisíveis.



Comentários

Esse é um Bernardo que eu me lembro se esboçando...
Marcus Vinicius declarando.

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