Para o Mestre dos Mestres.



Vai ser difícil reunir tanta gente interessante assim numa foto. Mas só quero falar do que está de óculos e camisa branca. Sim, à sua direita.

Se você não conheceu esse cara, e não sabe de quem estou falando, sinto muito. Sinto muito mesmo. Paulinho - Paulo Cesar Coelho Ferreira é uma lenda. E como lenda, não morre, encanta.

Esse filho-da-puta-muito-grande me deixou aqui com essa página em branco. 

Aliás, é o que ele mais fazia. Nelsinho, na outra ponta da mesa, pode comprovar. Não tinha uma reunião ou encontro sequer que ele não me deixasse com uma página em branco. Ele queria que eu me escrevesse, a todo custo. 

Pra você que chegou agora, vou tentar resumir: esse cara é um gênio que tinha um rim que não funcionava. Daí teve câncer no rim. No bom. Então, o rim que não funcionava passou lentamente a funcionar só pra salvar o cara, porque ele tinha muito o que fazer aqui. Muito a ensinar, muito a apreender. Pastor contemporâneo, arrebanhava ideias, pessoas, projetos, sonhos. Profeta hodierno, era ele mesmo o hoje: o lótus zen budista do lodo existencial. A prova de que o espírito vence a carne. Em vida.

A cada frase que escrevo, fica mais difícil viver em palavras a ins-piração do que era o ser muito humano Paulinho.

Sorriso.

Paulinho agredia a gente. Ele tinha vindo para abalar. Buraco negro cósmico. Quebra do espaço-tempo. Furo nas leis da física. Só a física quântica poderia explicar o Paulinho. Ele produzia distúrbio, onde quer que chegasse. Inexplicavelmente, de um modo amoroso, carinhoso, afetivo. Nossos afetos iam além dos beijos nos ombros que trocávamos a cada encontro e despedida. Em três, minto, dois, ou melhor, um minuto de conversa, Paulinho se tornava seu melhor amigo de infância. Ele era uma criança.

Velho sábio, tinha respostas prontas para não lhe dar: exigia de seus discípulos ao máximo enquanto nos fazia rir e brindar a existência simples. Há uma infinidade de páginas que tenho que preencher agora sem a não-ajuda dele. E não sei o que faço. 

Penso nele e choro, sem saber como o mundo vai aguentar. Penso nele e dou risada, porque o vejo olhando pra nós e pensando... agora, sim, eles estão fodidos.

Bom, eu estou. Vou tentar lançar meu livro que só faltavam oito páginas para ele revisar. Oito. Nem sete, nem nove: oito. Vou tentar não decepcioná-lo mais do que de costume. Paulinho era uma espécie de cajado em meu Caminho.

Todos temos uma obrigação moral, a partir de sua partida. Sermos urgentemente felizes.



Na foto, dois mestres. 

Um, Senhor de si e do Tempo. Amigo do Sempre. Que já cumpriu sua missão e pode rir, feliz, em paz. Mesmo tendo dado um trabalhão pros anjos que vieram buscá-lo. O outro, discípulo do Um, que tem muito trabalho pela frente. Um deles, olhar por mim, na ausência (física) do primeiro.

Não, esse post não tem música. Precisamos ouvir o silêncio do peito:

Haikai do Paulinho -  
É oco o eco da saudade.











Comentários

Unknown disse…
Como diria o Paulinho: "Ducaralho"!
Unknown disse…
Como diria o Paulinho: DUCARALHO!!!!!
Renata Feldman disse…
Ai, Bê. Não sei se falo, calo ou choro. Compartilho da sua dor e do seu amor por esse “Amigo Sol”, como ele foi chamado um dia pelo também querido Marcelo Xavier. Chove na alma da gente sem o Paulinho aqui. Beijo!
Unknown disse…
Valeu pelo texto Bê!
Beijos
Ciça
Unknown disse…
Valeu pelo texto Bê!
Tenho certeza que o livro vai arrasar.
Beijos
Ciça

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