O Natal e a Verdade (para a mãe de minha filha)


Há pouco tempo, um amigo me disse: 
– Sabe? Quando ouvimos um lado só de uma história, sabemos muito pouco sobre ela...
E pouco depois me deparei com essa imagem:

Desde então, tenho meditado muito sobre isso. Meditei durante os meus três meses de peregrinação, inclusive.

Quando escrevi um texto sobre o natal desse ano de 2015, que aqui coloco o link, eu não poderia supor que... SIM: o Menino Jesus estava me preparando uma surpresa. O Natal desse ano transcendeu a espera, o sonho, o meu conceito de alegria.

A primeira foto desta página retrata um fragmento disso tudo, que ocorreu hoje, na hora do almoço, quando minha filha e sua mãe almoçavam na casa dos meus pais, em Belo Horizonte. Depois de uma espera de 4 anos, neste natal pude pegá-la sem ser cerceado, com a confiança devida, com o respeito que todo pai e toda mãe merecem. Minha filha vai ficar até o final de janeiro em Belo Horizonte e, finalmente, tenho a oportunidade de sair com ela como o pai que sou...

O quadro acima define bem uma situação como essa, acredito. Fico pensando que nosso mundo está mesmo muito triste, cada vez mais dicotômico, cada vez mais dividido entre certo e errado, bem e mal. O Bom e o Mau podem coexistir em pontos de vistas distintos sobre o mesmo assunto, segundo sua abordagem, seu foco, sua distância, seu ângulo, seu preceito, seu pré-conceito. E, acredito, é sinal de sabedoria subir na mesa como fez o professor da Sociedade dos Poetas Mortos, para exercitar o ponto de vista que nunca foi exercido. É disso que Jesus falava quando dizia sobre "a outra face"...

Não sei se foi isso que fez a mãe de minha filha... Não sei se meu texto de 11 de novembro sobre o natal de espera que eu teria a tocou de alguma forma. Não sei se o milagre de minha peregrinação de 2.500km continua dando sementes ou brotos... Não importa. 

Importa é ter visto, neste natal, minha filha fazendo carinho em minha tia de 90 anos, que é como uma avó para mim. Importa que minha mãe chorou de emoção ao ter a neta presente, finalmente, no almoço do dia 25 de dezembro, quando celebramos a chegada do Menino Jesus em nossas vidas. Importa que meu pai tenha nadado com a neta, a carregado no colo, tocado piano, acordeón, escaleta, marimba de vidro com e pra ela. Importa que minha irmã tenha comprado um presente pra ela com seu namorado no Rio e que eles vão receber a graça de entregar, pessoalmente, e presenciar o brilho inigualável de seus olhos. Importa que eu não sei o que estou sentindo, porque nunca me foi dada a oportunidade de sentir algo igual em toda a minha vida.

A naturalidade e a beleza da alegria plena só são mesmo compreendidos em toda a sua extensão pelas crianças. Há muito deixei de ser criança. Mas a que mora dentro de mim e a que mora fora se encontram e dançam e pulam e fazem festa, finalmente, em meu pequeníssimo viver.

A Verdade tem mesmo a ver com o Natal. O Natal tem mesmo a ver com a Verdade. 
Pude VER NA TAL VERDADE a palavra VER. Tem a ver com um jeito mágico, espiritual e muito amoroso de olhar. Só isso.

Sou grato à mãe de Beatriz. Que deu à minha filha, à ela própria, a mim, às nossas famílias, um natal inesquecível, que ficará inscrito no tempo do Sempre. Pra quando quisermos nos lembrar que o Amor é a única coisa capaz de vencer a morte.

Sou grato, Raquel.


Comentários

Unknown disse…
Uma certa avó estava me dizendo agora que o tempo ajeita aquilo que foi errado no passado, e depois de anos tentando poder ter o poder de estar com a própria filha, a conquista é como aquele sorvete que você só consegue tomar no fim do dia para ficar melhor. Graças a Beatriz, em algum dia de 2013 um senhor/peregrino/zen/monge veio aqui e eu pude ter a aportunidade de conhecê-lo. Se esse homem nunca tivesse conhecido a Raquel, talvez eu nunca o conheceria. Portanto, também sou grata a Raquel.

PS: o lance do "ver na tal verdade" é genial! :D
Ficou uma curiosidade comigo, você finalmente teve o direito de pernoite? Sou um companheiro de causa.
Bê Sant Anna disse…
Ainda não. Beatriz tem 5 anos e 6 meses e até hoje a mãe dela não deixou ela dormir na casa dela que é minha. Como se isso não fosse uma obrigação da guarda compartilhada. Mas quem vai julgar isso não sou eu. É minha filha.

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