O Templo do Outro



Vou montar uma igreja. Seu nome vai ser Templo do Outro. Primeiro vou comprar um lote, construir um anfiteatro de cimento, octogonal, com oito níveis de degraus, com oito pilares em cada um dos seus vértices, coberto de piaçava.

Este lote não vai ter muros. Este anfiteatro não vai ter paredes. Entra-se por qualquer um dos oito lados, sai-se da mesma forma, por qualquer um deles. No centro, no nível mais baixo, um altar. Que não terá esse nome porque, conforme a etimologia da palavra, não vai ficar no lugar mais alto. Vai ser no mais baixo, símbolo da humildade humana.

Podemos chamá-lo, portanto, de Coração. Na entrada (ou saída) norte, vamos escrever e inscrever, ainda com o cimento molhado, a letra Z significando Zehut, Retidão.

Nosso norte vai ser a Retidão.

No oeste, onde o sol se põe, colocaremos a letra M, significando Mehilá, o Perdão.

Em seu lado oposto, no leste, onde o sol levanta, colocaremos a letra B, significando Beraca, ou seja, Bênção.

E ao sul, colocaremos a letra H, Hayim, a Vida.

Nos outros quatro lados, entre os pontos cardeais, colocaremos quatro símbolos importantes: a Lua e a Estrela do islamismo, a estrela de Davi, do judaísmo, o OM do hinduismo, o Tau, a cruz de São Francisco de Assis, que bem representa o cristianismo.

Nesta igreja, só há um espaço. A igreja só será um lugar. Lugar do encontro, lugar do amor, lugar do saber, lugar da partilha, lugar de espera, lugar de esperança. Onde se medita. Onde se sonha. Onde se canta. Onde se deita. Onde se levanta. Lá, levaremos um bolo de chocolate para fatiar e dividir. Vou levar o que a vovó Lili faz, que é o melhor bolo de chocolate do mundo. Uma jarra de suco de caju para compartilhar com todo mundo, que é o que eu mais gosto, uma rama carregadinha de lixia, pra cada um comer a sua e levar a semente pra casa - símbolo de amor familiar.

No Templo do Outro, vou me sentar para ver o sol nascer.

No Templo do Outro, vou dividir minha comida.

No Templo do Outro, vou brindar com o outro. Com o diferente e com o igual.

No Templo do Outro vou ler poemas, vou escutar parábolas, vou traduzir textos de outras línguas, vou ouvir músicas de outros povos.

No Templo do Outro, vou descobrir quem sou.

Quando o dia se for, no Templo do Outro, vou esperar a lua nascer. E bater palmas quando isso acontecer. Vamos dar as mãos e cantar cirandas de crianças no Templo do Outro. Vamos brincar de desenhar e fazer aviões de papel. Vamos jogar amarelinha, cinco Marias, pular elástico, e moldar argila. No Templo do Outro, vamos ser nós mesmos.

Vai ter três banheiros no Templo do Outro. Um pra meninas, um pra meninos, um pra meninas e meninos. No Templo do Outro vai ter um chuveirão na parte de fora, perto dos três banheiros pra quem quiser tomar uma ducha e se refrescar da vida. Todos os passarinhos do mundo vão poder ir visitar o Templo do Outro. E quem quiser levar flores, pode levar. Vai ficar ainda mais bonito o Templo do Outro florido.

Sabe? Quando esse tempo chegar e o Templo do Outro estiver pronto, vou convidar você que ainda está lendo pra ir se encontrar comigo. Tenho certeza que você vai gostar de lá.

Mais sobre templos internos e externos em outros textos deste mesmíssimo besantanna.blogspot.com





Comentários

Ana disse…
Amor é tudo que move.

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