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Mostrando postagens de julho, 2015

Preciso mostrar a língua?

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Os modernos já usaram “vou bater um fio pra você”. “Disca pra mim”? Era usual. Há 150 anos, praticamente, não existia o telefone no mundo. Hoje, praticamente, ele também não existe mais. Não, não existe, praticamente. Existe a função de ligar para outra pessoa em um dispositivo, mas quase não se vê mais o telefone telefone. Dispositivos móveis. Poderiam muito bem ser chamados de computadores de bolso. Porque nem telefone de bolso são mais, bem da verdade. E, sem falar nas outras funções, a função híbrida, o contato de voz, o de imagem, o de voz e imagem, o de texto, o de texto e voz e imagem se misturam e se completam, recadamente falando, cutucalmente existindo. Presencialmente virtuando-se. Aliás... Virtual ou virtuoso? Máscara social, muleta semântica, válvula de escape, encontramos um modo matemático de resolução da ubiquidade. Me lembro de Santa Clara. Que virou santa (também) porque, entre seus milagres, a visão do que acontecia com São Francisco em outro lugar, quando ela não

Hosana

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Moro no arqueio das sobrancelhas de Beatriz. Vivo sua explicação da vida, sinto sua admiração compreensão duvidosa da existência, seivas suas simples verdades: “sou diferente, papai”. É sim, filha. Come mesmo a salsicha do cachorro quente antes. Deixa o pão pra comer depois. A gente bobo é que faz tudo junto, bobamente esperdiçamos o Tesouro de Kairóz comendo tudo junto, barulho que acorda Chronos, matalmente. Isso, sim, é desperdício do ócio do amor, é querer que a planta cresça logo, sem respeitar o Vento, a Chuva, o Sol. A natureza das coisas franze a testa de Beatriz. Eu, riacho de mim. Enquanto a chuva chove águas líquidas e molhadas na superfície aculturada de Recife, olho. Molho. Observo. Escorro me todo em poças pra Beatriz pular de alegria, espalhando águas e afetos, botas de borracha, gritinhos entusiasmados de aventureira menina. Me nina na rede. Me em todos os cantos, canta, cantilena sutil. É ave, é Maria, passarinha. Hosana, filha. Sou tão pequeno, sou só um acorde na m

Pegadinha do Faustão

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Parece pegadinha, tal é o absurdo que foge à lógica da compreensão. Mas não pode ser considerado nem piada de péssimo gosto: o adesivo criado que coloca a Dilma de perna aberta no reservatório de combustível dos carros é triste retrato da violência que desintegra nosso país deixando nódoas difíceis de serem apagadas. Não tenho vergonha alheia. Tenho vergonha, eu mesmo, por mim mesmo, de fazer parte de um país que chega a esse ponto. Não consigo acreditar que isso seja manobra nem da oposição, nem de uma atitude guerrilheira perversa do partido da situação, que tenha como estratégia a disseminação do ódio e de uma ideia dicotômica de país, de partidos, de bem e de mal. Estamos mal. Todos. A indignação deveria ser geral. E, evidentemente, não só por isso. É claro que isso fere as mulheres. Mas nós, homens de bem, que tivemos oportunidade de educação e cultura, igualmente nos indignamos. Ou deveríamos.  Estupra-se o ser humano.  Não só a Dilma, o cargo que ela ocupa ou a