“E o albino Hermeto não enxerga mesmo muito bem”



Paul Gauguin, Cole Porter, Claude Levy-strauss e Caetano Veloso talvez estejam certos. É preciso um texto sobre a Baía de Guanabara. Revolto-me. Expurgo o lixo, expurgo o luxo, e decido a mar, em francês. O gênero feminino é muito mais próprio para o leite materno, as águas da mãe terra.

O mar nada diz para mim. A mar, sim.

A Baía de Guanabara, o seio do mar dá de mamar a poetas e cantadores e só. O lixo e o luxo roubaram suas pérolas. Eu não. A vejo, a concho, ostro-a em meus pensamentos poéticos de romântico incorrigível. Basta dizer que minha irmã mora em Botafogo. Nome próprio de um bairro habitado por minha ígnea irmã.

A amo em suas decisões. Há mar em cada uma delas. Gabriela, nome de quem sobe em telhados poéticos, é mesmo um tsunami que habita o Rio de Janeiro. Queria que ela pudesse andar suas ondas a pé nas noites quentes cariocas, mais do que pode ou consegue, queria que o Rio fosse só mesmo uma calçada portuguesa no imaginário das ondas que vem e vão como a garota de Vinícius.

O luxo descaracteriza a inocência poética. Se eu fosse o Super-Homem da canção do amigo de Caetano Veloso, expurgaria o luxo da Baía, antes mesmo do lixo, seu subproduto obnóxio. Limparia as calçadas todas de pedras portuguesas com a inocência do simples, a beleza da saia rodada, a sabedoria do chapéu de palha e a perenidade do linho. Por quê?

A malandragem é filha do luxo com miséria. E eu a quero palavra morta, sendo levada pelas ondas calmas e disléxicas da Baía de Guanabara, para as profundezas do útero de Gaia, onde não há dicionário porque silêncio.

Silencio. E me prostro diante do Redentor que abençoa a mim, a minha irmã, o malandro e a Baía, da mesma forma, pedra preta, bruta, inexorável, definitiva.

Não há mesmo palavras que consigam dizer o Rio, sua mata, sua Baía, seu seio, sua poesia.



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