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Mostrando postagens de março, 2015

Estátua

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– Raio congelante! E meu coração se aquece. Eis o mistério da fé. Coitada da Elsa. Mal sabe ela que pode congelar e ao mesmo tempo aquecer o coração de quem se ama. Minha filha adquiriu essa habilidade. Zap ! E pronto. Viro estátua. O Tempo ali não resiste. Kairoz toma conta de tudo. O mundo automaticamente entra em modo Stand By . Os passarinhos param no ar, o lixeiro para no ar, a bigorna para no ar, a fonte congela na foto. Para, Tempo! Por favor, não me deixe ir embora! Faça alguma coisa! Que vontade que nunca mais ela me fizesse a cosquinha ou o Boo-libertador ... Não coloco bateria nos meus relógios. É minha forma de protesto. E Beatriz a dizer ao Tempo que nos dê uma folga, que é preciso que ele não passe, pra ficarmos ali, sempreando, juntos, sorrindo, ou melhor, risando – como ela gosta de dizer. – Papai tá risando!, admira ela. E ri entusiasmo. Quando Deus dentro, paraíso fora. Elo. Daí ela pega a estátua, não importa o lugar que esteja, e começa a moldá-la. Mãos, pernas, b

Para Vó Fide

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Na foto Tia Yara - que fez ontem 90 anos "do joelho pra baixo", diz ela. Como se fosse hoje: a minha única lembrança de Vó Fide. Na varanda da casa da Rua Padre Virgulino, já com a entrada da casa pelo lado esquerdo, Vó Fide pegando um Papai Noel de chocolate no vaso de planta que servia de árvore de Natal pra me dar. De vovô eu me lembro muito mais. Mas de Vó Fide eu só tenho essa lembrança, desse dia, bem vívida em minha memória. E consigo sentir saudades. Muitas.  Outro dia, uma amiga me disse: “se houver saudades, quer dizer que houve amor”. Acho que ela tem razão. A única lembrança da minha amada Vó Fide eu passei meus 41 anos recheando com pedacinhos de amor que fui colecionando da saudade dos relatos sobre minha avó.  “–Bê-Bê-rê-Bê-Bê-de-vo-vó!”, ela dizia. E eu retrucava: “– De mamãe!” Gosto de pensar na alegoria da vida eterna como algo perfeitamente palpável por nós, hoje, em vida. Em cada filho, em cada neto, em cada descendente de Vó Fide

Foice

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Acordou triste. Tinha perdido o entusiasmo. Estava cheio de tudo. Precisava calar, precisava ouvir o silêncio, precisava descoisificar-se. A cheiísse de tudo não guardava espaço pra Deus entrar. Precisou cavar. Foi necessário jogar tudo fora, todos fora, conceitos fora, ideias fora, problemas e soluções fora, soluços fora, mágoas fora, sorrisos fora. Foram dias. Meses. Anos. Nós. Fomos, foram-se. Foi-se. Foice. Decepou tudo. Varreu. Passou pano. Deixou secar. Abriu a janela da alma. Abriu a porta do coração. E um dia, depois de muito tempo Nada, descoisificou-se finalverdadeiramente. E pode ouvir seu sangue, sentir-se pele, respirar o vazio do ar, descobrir-se inspiração e expiração. Coraçificou-são. Hoje, ouve passarinhos e escuta crianças. Na foto, Bê Sant'Anna no Caminho de Santiago em 2009